terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Reflexão do Agora

"Ela se jogou da janela do quinto andar...nada fácil de entender..."



Ontem fui comprar (pelo último dia destas pequenas férias que tiramos juntos) pão do café da manhã com meus irmãos, rotina do meu recesso que teve muito da minha infância, quando era uma menininha desprotegida que foi guiada por dois anjos mais novos, que faziam tudo ouvindo legião e explicando a vida por meio daquelas canções...
Curiosamente, antes das notícias do dia, refletimos sobre a música "pais e filhos" e minha irmã me disse...'mana, eles estão no funeral da moça, cada um contando suas realidades'. E fiquei a imaginar a cena (minha mente funciona como o fantástico mundo de Bobby,literalmente). 
Imaginei que todos estamos então nesse caótico funeral, cada um sentindo e contando as suas dores, de acordo com a percepção, sentidos e vivências que possui. Que a moça do quinto andar também somos nós, nossos machucados e as coisas que não explicamos e não demos conta de explicar.
O mundo, essa estação inexplicável, não tem letras que o alcancem. Escrevemos por teimosia de registrar o que, certamente, há milhares de anos, não será lido por ninguém, porque o mundo será outro mundo, e mesmo que estejamos nele (espero que não,mas vai que estejamos), teremos outros formas de sentir.
Curiosamente, ao fim do dia, uma das pessoas mais doces que a vida insistiu em arranhar , ligou e pediu colo...uma amiga havia se matado e o universo daquele sorriso doce estava bagunçado. Então,meu tempo se voltou a ajudar aquela menina que tem tanta fé na vida e tanta fragilidade para enfrentá-la...porque, pode até ser que a gente precise ser mais forte do que pensa ( e disse isso a ela, para encorajá-la,até que ela dormisse e vou dizer a ela assim que acordar)...mas pode ser que a gente precise mesmo é ter o coração de carne, batendo dentro do peito, sentindo dentro do peito, como se essa fosse a última chance de existir! ( ainda que, na minha crença, não seja...).
Pode ser que precisemos mesmo é colocar nossa humanidade toda à prova e que, se todos fizessem isso, nosso mundo tivesse menos guerras,fomes, desigualdades e gente querendo partir daqui.
Pode ser que o coração de carne seja a única solução para tudo que nos afronta, para aquele ''quinto andar'' não existir, para a nossa vida ser mais vívida, para que sejamos mais...humanos!
Saramago, em uma de suas mais ternas lições, assim ensinou " Se tens um coração de ferro, bom proveito! O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia".
Felizmente, meu universo de pessoas amadas (tanto as presentes,como as ausentes) têm um coração de carne,muito latente, e por isso também sou grata. Seguimos enfrentando nossas batalhas sem pensar no quinto andar, porque é uma "solução permanente para um problema temporário"...mas é uma fragilidade compreensível em um local como o que nossa alma está de passagem.
Pratiquemos a empatia por quem sofre suas dores a ponto de não suportá-las e muito, muito amor, por quem está aqui conosco, deixando nosso coração de carne ainda a bater!

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