quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Lições da Infância



Quando criança,
sob as calçadas encardidas da Salvador Diniz
Aprendi que o céu era o limite!
E que o mapa encantado até a chegada existia
Ao fim dos pulinhos da amarelinha,
Desafio nosso de cada dia…

Oceano era a lagoa do quintal do meu avô
O tesouro, sempre ao fim do arco-íris
Os dragões eram vencidos por príncipes
E éramos grandes navegadores a navegar
E tudo parecia ter o seu lugar…

Passadas décadas, ruas e avenidas
Desaprendi esquinas
Pois a máquina de engolir vida
Apagou as linhas finas
Que apontavam por onde caminhar…

Agora, sigo desalinhada
Sei pouco sobre certezas e  chegadas
Canso de ouvir  – e escrever –
 as mesmas palavras
e não sei onde dobrar…

Queria ter outra tarde
Daquelas mornas e empoeiradas de infância
Brincar de correr para todo lado
E ao fim do dia  correr para o colo encantado
Dos olhos de mel da minha irmã…

Mas a máquina de engolir vida
Segue a comer lembranças
E aquela esperança vive
Da luz que existe na memória
Daquelas velhas histórias
Repetidas antes de sonhar! …


#

Que  gente sempre encontre o fim da amarelinha,
E que a caminhada seja boa. :)

LUZ!

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Caminhada





Caminho pelo mundo
E, entre verbos e rimas,
Vivo de parir emoções:
Respiro o caos de um coração enternurado!

Perdi-me dos roteiros
Desenhei à mãos sorrisos
Em dias de chuva
Vida em versos livres e laços guardados…

Acho que não sei quem sou,
Mas desaprendi de ser quem era,
Estou mais em paz com o caos
De ser essa coisa bruta: 
Caos de poesia,pedra,poeira...

E, em meio a cortina fina da normalidade…
Dizem que  sou doida:
 -Termo de Confissão: 
é verdade! -

Sinto saudade
Sinto paz, frio e calor!
Mas gosto mesmo é de ser  rima solta
Estar e ir aonde o amor for…

#

Que o amor, como todos aqueles livros lindos que li,
Seja algo que sempre nos leve pra casa.
:)

LUZ!

Rio!



O que será que é o amor?
Quantas milhões de coisas ele ainda virá a ser?
Quem um dia poderá, ainda que breve
Explicar, ponderar, compreender?

Sei que é toque, canção, cheiro, emoção  (alucinada!)
Sei que é dia a dia, mão na mão
Segurar o coração,
Seguir em par pela estrada…

É perda, suor e ganho
Inocência, saliva  e ilusão
Mas é que é também o possível
Depois de encontrar com a razão…

É deixar de abrir páginas encantadas
Para estar na pele amada
ter absoluto medo e ainda assim, 
aceitar-se desassossegada…

Mas eis que não sei mais do amor 
do que aquilo já alcancei.
Sempre à procura de seu infinito!
Feito chuva, molha a alma, invade a pele, 

Doce rio de mistério…#

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Bicho Incomum



Depois do depois de borrar o batom,
De esquecer  as chaves e a  hora
E ter os olhos molhados de Drummond,
Perdi a condução, a rima e a razão.

Aliás, Senhor, confesso:
 não sei muito da elegância de um verso.

Brinco de recriar a narrativa do cotidiano
Com as palavras vadias do Jornal
Um noticiário particular fantástico!
Onde finais felizes - no esforço do contrário

não são lá  mui raros…

Sonho demais.
Acredito na efemeridade dos milagres
Vivo o hoje, mas sei olhar para trás
Com o coração enternecido da paisagem…

Bicho incomum, depois de ler um ou dois Garcias
Dei de olhar a mística do Universo!
Não comovo com o ordinário
vivo entre as estrelas e a mágica infinita

Dos excessos.

 #


·    
LUZ!

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Divagações de fim de tarde e um café. ( Filosofia do Boteco da Lua)



O carro da esquina buzina, o  relógio ecoa um monótono tique-taque. Da janela embaçada do café, vejo cair um morno fim de tarde. Hoje, 21.11.2017, mulher ao espelho: Caucasiana, 1.59, cabelos avermelhados. Na bolsa, C.I e outros dados.  A este conjunto de pequenas afirmações materiais, entre slogans e dados, chamam de identidade.

Confesso, isso sempre me inquietou. Recordei agora, meio que por instinto, do filme “O sorriso de Mona Lisa’’, que tinha como personagem principal uma professora, interpretada por Julia Roberts.  A primeira coisa que chamou-me ao filme, foi o título: o tão estudado, metrificado e explicado, ainda assim misterioso, riso de Mona Lisa. Em um dado momento, após uma divagação, a personagem diz: ‘ olhe para ela. Ela parece feliz? Ela não está feliz’.

A primeira vez que refleti sobre a frase, imaginei o triste óbvio da informação. De fato, Mona Lisa não parecia tão feliz. Sob a luz diáfana, seus olhos não riem. Mas, com o passar dos anos, percebi que… talvez ria sim. Quem sabe cabe a cada um de nós o riso ou a tristeza que atribuímos à moça. Monalisa mesmo, a pessoa que emprestou sua estética para o pintor, terá sempre o mistério e a bênção de ser própria.

Quanto a mim,  é bem verdade que não sei exatamente  quem sou, pois ser Pessoa, bem

sabia Fernando, é ser muitos em um. Sei que em mim  mora a menina que  costumava sentar no colo dos pais e brincar na rua de terra batida com os primos. Há a adolescente que lia e devorava de folhetins adolescentes, do tipo Sabrina a  Kafka, Dostoiévski e Rubem Alves, entre tantos outros, que fizeram comigo a travessia para a fase adulta.


Que aprecia abraços, recebe com alegria tudo que é diferente, apesar dos dias, que caem iguais, e  destas ‘pessoas  cinzas, normais’, que passam, assinam o ponto, vendem a alma com desconto e fingem ser gente… enquanto isso, a tarde vai.

E o que eu era de manhã já não sou mais, nada acompanha a estética do momento, que é mais sutil e voraz que toda a ótica do tempo. Simbolicamente, em mim, carrego esta multidão. Deve ser por isso a referência bíblica a demônios: temos todos os nossos, o fogo de ‘se ser’.

E talvez por isso a modernidade, nosso acelerado, a quebra das convicções mais singelas, as distopias, tantas produções cinematográficas de super-heróis: para salvar e sermos salvos. Mas, de repente, algo delicioso aparece no roteiro alucinado desta epifania e,  na simplicidade minha multidão silencia e cai em ‘nós’… um café e a breve satisfação, sensação cheirosa e quente de ser inundada, preenchida. Sei que o apelo parece quase sexual. Aliás, já li algo a respeito em Rubem Alves sobre esta interligação de prazeres, que ‘ ao outro lado’, chamamos ‘comer’.


Sei que não é fácil rimar tantos anos e danos, entre vidas e corações entrecortados – todo mundo é um furacão. Mas, num breve instante, é possível sorver um pedaço da incrível 'dor e delícia' de me ser, engolir o calor do mundo e sentir tudo que mora em mim… repousar.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Delírio


Sonhei que Deus
dançava na espuma do mar
Nos braços encantados de Iemanjá
Que Buda e Jesus contemplavam o luar

E todo o infinito era bom,

E a gente podia voar
Se amar com verdade estelar
E que era possível brincar
De ser ainda mais feliz...

Sonhei que as estrelas caíam
Sob os cabelos de Tupã
e que haviam mil formas de oração
e de encontrar com os meus...

E que, numa rua deserta
numa esquina qualquer 
entre o céu dos poetas
Ele ria e esperavas um abraço meu...

E que aos amores muito amados
Encontros universais e raros
cultivados no raiar de muitas vidas
 nunca mais haveria despedidas!

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Percepções





Em meus braços, cabe o espaço
cores de tudo que enlaço
Cotidianamente:

Direções que aceito seguir,
Sementes que planto,
Abraços que doo
Poemas que acalanto…

Meus braços trazem  essas mãos,
Molhadas da tempestade do último verão
E das marcas de tinta e batom
Com as quais dou de colorir a vida,

Arco de afago e acolhida
Porto para o corpo dos meus amores,
Seus calores e odores,
Sabores de amor no olfato e na pele…

Meus braços dão o que são: Calor e verdade.
Paisagem concreta, poesia dispersa,

Abertos ao toque da vida
e suas incríveis descobertas!

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