Ela nasceu em uma segunda-feira chuvosa, lhe contou a mãe um dia
desses. Para viver, aprendeu a respeitar a limitação de cada uma das
pessoas que eram de seu círculo de afeto, e ainda que tropeçando, tem feito o
seu melhor...e tem visto dar certo. Passou uma adolescência entre livros, não
viveu o amor em seu estado ácido e nunca sentiu falta. Conheceu nos livros a
dor, o amor e a torpezas humanas e preferiu levar para a sua paisagem interna a
segunda lição. Mas é sempre muito frágil para a dor, desde a um bicho sedento em sua porta à sua própria.
Ele é forte.
Substancialmente, é uma das pessoas mais fortes que ela já conheceu. É também o
figura mais cheio de poesia sem nunca ter escrito uma linha em verso. É caoticamente inteligente e obstinado, fruto de sua formação, do
caos de seu temperamento, suas convicções
e suas dúvidas sobre a vida e o caráter do ser humano. Mas, curiosamente, com todas essas dúvidas sobre o outro, tem um código moral bonito e uma empatia própria.
Ela é interna, qualquer dia
desses, de tão interna, vai parar no hospício de seu próprio umbral. Ele é externo, e qualquer dia
desses vai escrever um livro, pois tem muita doçura no interior que precisa
transbordar. Ela sabe quando ele está escrevendo, em uma estranha conexão com o
inenarrável. Sabe de todos os nãos e os sins que ele sente...e claro que ela
compreende.
Eles amam a chuva, não como as
demais pessoas, só porque a água cai do céu, “ pela lei da gravidade”, mas
porque sentem o clima, a paisagem que muda, a noite fria, o barulho, os cheiros
que mudam no ar...e até mesmo as sombrinhas coloridas e as pessoas “cinzas,
normais”, que dela correm. E as pessoas “cinzas, normais” que a contemplam com
encantamento, mas não vão lá fora correr “e olhar o céu”.
Já se beijaram na chuva, já tomaram banho de
chuveiro, já se beijaram mais molhados que um temporal inteiro!
Ela aprendeu
que amores são verbos irregulares que se conjugam da aceitação e do perdão. Ela
sabe permanecer, porque entendeu que é dessa imperfeição, e dessa aceitação do
outro que se faz a consolidação do gesto.Pessoas não são o
espelho da nossa face. Elas erram e se machucam mutuamente, porque o amor é o
elo entre as pessoas e a evolução...e o passo desse elo se chama perdão.
Ele ainda quer ter razão? Ela não
sabe. Só sabe que ela não. Que quer mesmo é que a vida lhe diga – e nisso não
tem pressa- “ se existe razão nas coisas feitas pelo coração”.
Eles são reais. Tiveram uma sorte
incrível- do tipo master -chamada amor. Tocaram uma canção muito rara dentro da
emoção um do outro. Ultrapassaram limites, como todos ultrapassam no exercício de crescimento...
E o mais, simplesmente não tem reticências ou ponto final
Nenhum comentário:
Postar um comentário