terça-feira, 22 de novembro de 2022

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Tiro-ao-alvo
Eis-me aqui:

Depois,
De caminhar em direção ao infinito 
Eis que chego finalmente 
(Em mim)

Redefinindo passos e prioridades
Minha própria textura e densidade
Recriando espaços
Bem no coração...

Às vezes, dá um cansaço
Noutras, tanto entusiasmo
Pois enfim, eis que estou aqui
(Presente)

Tiro e alvo:

Sem pele e coração dormentes
Sensível à brisa e ao cheiro do mundo
Primeiramente,
No ato de ser própria

E imprópria (Quando eu quiser)
Com a o sorriso inteiro
E o coração, 
de pé.

Desperta, amando a pele que habito
Finalmente sinto
Que não ando só
E, cada vez melhor

Priorizo minha própria sanidade
Meu riso, minha mocidade
E quem me dá o direito de viver
A delicadeza do Universo

- Pois já não me cabe o re-verso.

E assim, quero por perto
Só quem bem-me-quer com a força da ação
O resto, a vida leva,
 feito o tempo e a maré

(E a isso chamo 'Estar são')

#

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Dos Aprendizados

 
De tanto amor, de tanto ser,
Aprendo a convergir silêncios,
Apreciar doses menores de doces venenos,
Viver mais manso deve ser assim...

(Tem dó de mim, tempo,

Leva tanta vida para aprender a ser simples...)

De tanto querer e procurar
De revirar minha própria caixa de pandora
Eis que enfim, me tornei Senhora
Dos meus mistérios...

- Pelo menos daquilo que, até aqui, se revelou a mim-

Nadar em meio ao rio de se ser
Dá um trabalho danado!
É que é mais simples se entorpecer
Por isso, atenção, cuidado...

Cuide de sua vaidade,
Cuide da sua auto-importância
Para que nada fique tão grande a ponto de fazer sombra à luz alheia
Ou tão pequena que precise do brilho de outra estrela...

Antes, sejamos despertos, 
Vibrantes e atentos ao conjunto
Pois convergimos todos para um mesmo fim, afinal
E assim como o açúcar precisa do sal,

Somos complementares,
Irmãos de caminhada,
Moradores de uma mesma aldeia,
Ainda que em tantos lares...

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Nude



 Sou do dia,

De chuva fina que deixa o dia cinza,
Da rede que embala sonhos no jardim
De coisas cálidas, nada pálidas
Emoções sem fim...

Sou das madrugadas,
Do vinho na taça e Bethânia rolando sob a brisa do Amazonas
Sou molhada de chuva, quente, bicho equatorial
Faço da minha loucura plácida o meu carnaval...

Sou estável e de repentes
De regar as flores e plantar sementes
De sair, quando a hora chega, sem olhar pra trás
Sou de palavra que não torce, de curvas, de silêncios  

(e busquei coisas de paz...)

Leva tempo dar conta de tudo que sou
Confesso, Moço:  
tem muita brisa de amazonas, 
tardes quentes sob as pontes de igarapés...

Tem verso de Belchior e inconformidade de Raul
Gritos de Elis e verbos de Caetano
Uma MPB maluquecida de rock and roll 
Que dança ao som de um blues...

Não tô procurando nada (Será?)
Mas só venha se for pra dar tudo
Eu não entretenho em 'meios-calores'
Nem em elos de versos mudos... 

Por aqui, a feira é maluca
Tem sabor, tempero e cor
De tudo um pouco trago nessa caravela emocional
Um regatão amazônico cheio de tempero, sabor, açúcar e sal...

#


De um papo muito legal sobre identidade, mistura e sonhos. :)

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Pipoca Flor!




Do teu riso de criança sapeca,
Das coisinhas espalhadas pela casa:
Do quentinho com que me abraça...
Parece um anjo, com toda sua graça...

Uma flor, uma doce menina,
Uma rosa, uma pipoca
Uma coisa linda
Quanta coisa posso dizer dos dias!

Mas nada se compararia
Ao milagre da tua vida...
Minha menina.

Menina dos olhos do Pai,
Todos os dias a graça do Senhor me alcança
Por teus olhos de imensidão, 
mar azul que dança...

E nada mais posso dizer que fale ao certo
O coração é quente e feliz em te ter por perto
Nesse mundo incerto, 
Minha alegria dança junto de você...

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Para a menina dos olhos de Deus, o meu amor in blue! <3

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Paz!



Não, não vamos dialogar com o absurdo:
A toda forma de dor,
Deixo esse poema mudo.

Aqui, quero falar das palavras lindas
- Aquelas realmente essenciais -
Amores, amores reais:
Afinal, saúde é o encontro do externo com o interior...

Antes de tudo, declaro:
Não haverei de me adaptar
Serei luz, serei paz...
O resto, jogarei ao ar.

- Afinal, besteira mesmo é agir
Como se, ao final, 
Não fôssemos falar com Deus...-

E assim, de dia em dia
Quero construir meus elos - sempre tão reais
Ter tardes quentes de contemplação
Onde tudo é sobre...ser humana

aquecer...estar em comunhão...

Com meus sonhos e minha poesia
Com quem eu sou...cada vez mais
E só trazer de bagagem da existência
Na vida, o que me traz paz.

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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

"Aqui''

 


De todas as canções,
Aquelas que falam de paz,
De beijos de domingo
De companhia confortável, 

De mim e de ti
No espaço do insondável...
(Linhas censuradas
De uma canção p´ra dois)

De todas as coisas bonitas,
Aquelas tardes de preguiça à beira de um rio
Onde sentimos as coisas simples de ser
Afinal, também somos feitos de água, correnteza e marés...

De todas as poesias
Aquelas que trazem ternura
Pois, do tempo da aflição
Todos precisamos encontrar a cura

Afinal,
Loucura é deixar a vida ser triste, meu bem...
 - Que desperdício do milagre de existir! - 
O agora e o pra sempre moram no ...

 'Aqui'.


quinta-feira, 28 de julho de 2022

Das Levezas




 Declaro aberta a temporada do riso,
Do beijo e da calmaria sob o céu equatorial
Pois, desse tempo tropical, 
Desse doce real,

Temos sede...

Declaro aberta o tempo de se embalar na rede,
Sentir o vento amaciar os dias...felicidade simples,
Nada tão complexo que caiba dentro
Desse ser e estar.

Declaro aberta a temporada de ser-me lar
Caber em mim, cuidar da pele que me habita
Pois cada passo, cada sonho, cada luta
Merece o tempo de repouso e maturação

(E a isso tudo, o coração chama conquista)

É tempo de comunhão,
Nesse Universo sem-fim
Onde Deus está mesmo em todo lugar
Inclusive dentro de mim.

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quarta-feira, 27 de julho de 2022

Movimento







Sem tanta pressa
Que não possa apreciar as borboletas amarelas 
Que trazem o verão
Sem tanto ócio

Que não mova os passos em busca da próxima estação...

A vida, todos sabem, já disse o Poeta
Pede coragem
As folhas caem, levam o ontem
Nascem novas flores sob antigas paisagens...

Afinal, somos assim: 
Pedaços que findam e reconstituem em novo néctar e raiz
Por isso é tão profunda e simbólica
A beleza de uma cicatriz

Se tudo em nós renova e refaz
Se somos o ontem que se desfez e refez
Uma cicatriz é a constituição física
Da ferida que doeu e não dói mais...

É a lembrança de que somos fortes
- Muito mais talvez do que possamos imaginar-
Porque a tudo que antecede a dor
Há uma certeza: 

O dom de sarar.

Enquanto isso
Alheias à humana condição
Borboletas amarelas dançam
Festival  Equatorial de Dourada beleza

Benção do Verão...

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terça-feira, 26 de julho de 2022

Venha Santana! (Devaneios da Sessão Velha Boba)

 



Recordo como eram bonitos os quintais sem muros e as enormes árvores, entremeando caminhos que levavam a pequenos paraísos, na 'minha' velha Santana. Não à toa, o bairro ganhou o nome de Paraíso. Lá moravam "olhos d´água'', que hoje sei, são as chamadas  áreas de ressaca ou áreas de resfriamento da cidade.

Mas, a verdade é que nunca foram isso. Eram pequenos oásis, em meio ao nada. Não nasceram para “resfriar” a cidade, que visão mais antropocêntrica. Existiam antes da cidade! 

E cheios de felicidade, a molecada se divertia, às escondidas das mães, nesses espaços que a natureza doava. Jogavam uma água danada uns nos outros. Era moleque sujo para todo lado, na volta, para encontrar suas mães, ávidas pelo toque das sandálias. E elas “cantavam”.

Confesso que me aconteceu pouco. Coisas da vida. Mas ouvia a ladainha “entoar” pela vizinhança, junto aos gritos da primarada. Todos muito 'danados', como falamos de crianças que não dão sossego (risos).

Mas a gente era muito 'marginal', sem tablet ou videogame. À noitinha, antes da novela das nove, sagrada para todas as mães, tinha um “Onde eu mandar, vô. E se não for? Apanha um bolo”. E a criançada se divertia para trazer a primeira folha amarela da mangueira do vô, uma 'pedra branca' ou a lua e as estrelas, a depender da criatividade da “mãe”.
Brincávamos também de queimada. De pira-pega. Que pique-esconde. De pira-alta. As meninas, de elástico e amarelinha. 

Se alguém ficasse gripado, na minha família, tomava remédio de mel,copaíba e limão. Biotônico? coisa de rico. Tomávamos 'batidas' exóticas, feitas com ervas daqui. Um exemplo: Mastruz com leite moça, para 'lombriga'. Se tivéssemos febre demorada, éramos levados para aquelas velhas mágicas, as senhoras sábias da floresta,'benzedeiras' da cidade.

Mas, saudáveis, os dias eram cheios  de grandes excursões e éramos os navegadores em busca da descoberta do Brasil, pelos territórios sem limites de uma cidadezinha ainda por se descobrir, como cada um de nós. Recordo disso com grande felicidade. 

Na adolescência, mudamos para Macapá, nossa pequena "cidade grande". Mas confesso que, cada pequeno pedaço daquela história que ficou lá atrás, de uma cidadezinha de céu muito estrelado, ausência de muros e asfalto, onde as pessoas dormiam com as janelas teladas abertas para a noite e as suas madrugadas, ainda faz meu coração bater forte.

Qualquer pequena coisa que faça recordar aquelas ruas de terra batida e casas com quintais cheios de árvores frutíferas e mistérios profundos, onde crianças corriam em busca de incríveis descobertas,  fazem nascer em meus olhos igarapés de saudades...

E deixam uma certa tristeza no ar, por aqueles pequenos oásis, que desapareceram com o tempo, para dar espaço à gente, nossa gente, que foi acrescendo e ganhando novas pessoas, novas roupagens, dentro da velha cidade.

Há muitos anos não sou a menina da cidade de Santa Ana, que recebeu meu avô, tios e mãe com generosidade, vindos de outra grande navegação, em uma embarcação chamada VENCEDORA...como a preconizar destino de gente forte, que correu atrás de sorrir, de ganhar, vencer e devolver para a cidade o mesmo coração com que nos recebeu.

Sim, Santana não faz parte do meu cotidiano, mas é nela que meus pés tem raiz e que meu coração reconhece o cheiro de inocência, de descoberta e de lar. 

E é porque fui criança embevecida por aqueles céus estrelados, com menos boneca e muito contato com a natureza, que cresci e gostei de ler, conhecer essa imensa geografia que nem imagino de que tamanho seja, chamada UNIVERSO. E assim, desenvolver a escrita. 

Sei que foi de saudades de voltar lá, naquela cidadezinha e passear pelas margens dos igarapés que meus pés deixaram pra trás, naqueles quintais sem fronteiras!


Jaci Rocha







domingo, 17 de julho de 2022

Modernamente antigos


Nada que já não tenha sido lido
Nada que já não tenha sido escrito:

Desculpe, amor
todas as palavras do alfabeto já foram ditas,
Todas as cores, coloridas
Ainda assim, desajeitadamente, 

Quero este poema para ti.

Com todas as canções cantadas 
Entre Romeu e Julieta
As mesmas que amantes disseram em 1930
As coisas mais piegas e repetidas...

Sei, do amor não temos novidades
Conhecemos bem o antes, 
o estar e as despedidas
- Ah, quanta modernidade!-

Ainda assim, tudo é novo,
em meio ao caos da repetição

Pois, todos os amores 
podem ter sido nós e o encontro com o hoje
Então, é sempre agora: Carpe Diem!
E somos novos, novos em nós!

Modernamente antigos!

Sorri comigo, dança Beatles,
Sente o pulsar do meu coração
Baila no instante, não pare agora,
Segura mesmo na minha mão...

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Vendo série, poesia...fluiu! - E eu estava com saudades desse espaço! :)