É um estranho Dezembro,quase não lembro de ver chover...
Como se a natureza entendesse a minha correria. A minha incoerência. O abafado do dia. O coração e o pulso. E deixasse o tempo assim, nublado, sem chuvas. Como se suavemente soprasse: "estamos contigo, garotinha ruiva".
Mas, eu queria ver chover...Amanhecer o dia com café, garoa, poesia. Olhar o mundo sendo regado por Deus dá uma sensação de coerência: Rega, semente nasce, vive, morre, torna em outra matéria. E, sei lá, dá uma felicidade infantil, da menina que corria para escorregar no açaizal molhado, molecada correndo por todos os lados naquela cidadezinha do interior que agora nem se parece mais tão cidadezinha.
Todos os dias, penso: Já está mais perto, vai chover. Vou sair mais cedo do estudo só pra ver garoar. Vou tentar dormir até mais tarde, apesar das últimas insônias, ouvindo o barulhinho da água...todos os dias entro no estudo e penso: vai chover, e vou voltar para casa contemplando os limpadores de pára-brisa tirar as águas dos vidros dos carros. Qualquer barulhinho e viro para a parceira de estudo e digo "olha, está a chover". Mas, realmente, ainda não acertei.
É, sou mesmo otimista por natureza quando se trata de chuva, de amor, de gente. Quando penso em tudo o que de lindo esse mundo podia ser, no que ainda podemos transformá-lo...meu coração transborda.
Minha mãe volta para minha cidade,neste dezembro. Meu coração fica feliz em ter mãe todo dia, mas preocupada com esse tempo, pois queria que dias frios e nublados recebessem o sorriso da minha mãe. De preferência, lá na orla, contemplando o rio...
Estou com saudade do festival de sombrinhas, de como o centro fica caótico e colorido, e o amazonas pintado de arco-íris.
Também é bom de ler livros, da sala da minha casa, quando chove. Abro a janela e , deitada entre travesseiros, consigo ver o céu e a água a se desprender de lá, suavemente.
Mas, é um estranho Dezembro, e sim, esta é uma reclamação, senhor das águas.
Quase não lembro de ver chover...#
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