quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Depois de reler ''Tudo que eu queria te dizer'', da Martha Medeiros...

  A Carta*

"Coisas que pareceriam óbvias até para uma criança"

Eu esperei sentada na janela que tu me viesses, sorrisos e olhos quentes, a falar por onde andaste e as loucuras que provaste, mas contasse da falta que sentia de tudo, apesar de estar atrasado não semanas, mas muitos longos dias,meses, décadas.
Esperei que percebesses que a raridade do amor é a complexidade que adentra e alimenta em nós a vontade de sermos melhores, apesar de nos aceitarmos como podemos ser. Que me mostrasse as tuas feridas, as coisas idiotas que fizeste esse tempo, que me explicasse que era um bobo egoísta que não sabia lidar com o que sentia, para eu te dizer que...tudo bem. O amor curaria.Que eu também errei, que todos erram quando amam, mesmo que seja tentando acertar, e que não existem amores perfeitos, exceto as flores.
Eu esperei como uma tola que um milagre brilhasse, feito a estrela de Davi. Até a papai noel eu te pedi, porque acredito na bondade de São Nicolau. Esperei o telefone tocar, a porta bater, um recado qualquer em uma página eletrônica...
Esperei só, dormindo da forma que podia, desesperadamente insone, por vezes, relendo metade da estante, comprando livros novos, estudando, em uma espera fiel de um milagre, feito a criança que não dorme esperando papai noel.
Eu esperei que tu visses o que eu vejo naquele casal: almas imperfeitas que se encontraram tão profundamente, que precisavam um do outro para tornar a beleza da evolução algo ainda mais profundo e que regenerar faz parte do milagre de amar o outro. Esperei que tu sentisses com meus olhos e meu coração.
Mas, por fim, entendi que eu amo teu coração, ainda que ele não tenha percebido nada disso e tenha decidido outras coisas,ainda que ele tenha deturpado e visto o que não houve, entendido outras formas,eu amo não porque ele mereça, mas porque cada um é ímpar, antes de ser par. Entendi que meu coração não pode impelir sozinho uma vontade, como o fogo precisa do ar para se alimentar. Das muitas coisas que escrevo, "tudo que eu queria te dizer" nunca caberia em lugar nenhum, que não fosse em teus ouvidos. 
Eu sei que eu vou te amar, mesmo quando o tempo deixar nossas lembranças mais quentes apagadas, porque meu amor vai ganhar formatos de ternura e gratidão, meu bem. Eu me despeço de ti como quem joga beijos ao vento e faz uma oração...( é de bênção que enfeito tua lembrança). 
Então, quem sabe um dia faça eu aquela canção para você, embora, para te falar a verdade, já tenha feito, dia desses, para desabafar com o celular alguma coisa que não fosse em tua caixa de mensagens.

Porque lá, " disse o Corvo: Nunca mais".

Nenhum comentário:

Postar um comentário