Ligo o noticiário.
Quase posso prever o que verei. Algum escândalo descoberto (hoje, petrobrás) , algum político encoberto, algum debate sobre "operações", notícia feliz de alguma celebridade, debate polêmico do momento ( As afirmações de Annita e o feminismo).
Que tudo isso faz parte do processo de amadurecimento da democracia, é fato. É fato? bem, a democracia, embora precise da comunicação bem feita, clara,precisa, necessita também de boa administração dos poderes e dos espaços de poder.O maior problema em tanta repetição é que, com o perdão do uso da fantástica música de Elis, "Nossos escândalos ainda são os mesmos" - e nossas polêmicas também! feminismo, racismo, homofobia, preconceitos diversos.
O preocupante nisso não é que sejam as mesmas polêmicas e escândalos, mas a ausência de mudanças nos mecanismos de enfrentamento, a ausência de conhecimento desse maquinário chamado Estado, que nos empurra a críticas rasas de problemas estruturais.
Por exemplo, o feminismo. Sinceramente? Não li uma única resenha ou texto que me tenha apetecido em torno do debate Pitty/Anitta. Ser fêmea não retira ninguém da possibilidade de ser feminista. O feminismo é que se empobreceu, da década de 70 para cá, e somos nós as responsáveis. Nós, sociedade, homens e mulheres que enfrentam a temática da diversidade de gênero com escárnio, propagando mais uma forma de violência: A social, que culmina com a institucional, praticada pelo Estado.
O Feminismo, que tem tudo a ver com filosofia, é uma análise complexa das diversidades de gênero e do sentido de equidade, isonomia, nisto envolvido o sentido e potencial de desenvolvimento livre da intelectualidade, sexualidade, trabalho e independência femininas. Veja, não se trata do "empobrecimento" da valorização da mulher, isso é uma ótica machista, porque a sociedade é que está empobrecida, quando vulgariza relações de afeto (mas isso tem a ver com a minha visão romântica do mundo, admito. Porém essa visão não vê papéis de gênero, vê pessoas diminutas da capacidade de entrega pessoal).
A defesa é pelo arbítrio de cada ser é, e debater as vulgarizações que a sociedade tem, não como um problema de gênero (mulheres fáceis;homens 'canalhas' - que tosco), mas como um problema humano das vivências e entendimento das relações. Não devemos entrar em conflito, nem reinventar " a guerra dos sexos", poupem-me.
Mais triste fico quando penso que, ao se falar em feminismo, isso ganhe o sentido pejorativo de "mulheres que não se encaixam no sentido de ser mulher". Isso é preocupante. O acelerado da sociedade têm criado uma gama de mulheres ansiosas, que, no afã de provarem sua independência, estão cortando pedaços de traços biológicos da evolução humana: O cuidado, a sensibilidade, a doçura, o trato; e de outro, mulheres que,na busca do resgate do "elo", rejeitam o conceito de "feministas", e se tornam subservientes, caminhando abaixo dos parceiros, o que contraria qualquer senso de amor, pois já dizia Raul: só há amor quando não existe nenhuma autoridade.
É de se estranhar também que a crítica a esse "feminismo", que convenhamos, está empobrecido, não abranja o de machismo, esse sim, conceito que se renova pouco, e que basicamente envolve homens e mulheres que diminuem o potencial/respeito à equidade feminina. Porque o ataque indiscriminado ao feminismo, sem a análise do machismo que tanto machuca as relações, não torna a democracia mais plena. Assim, enquanto assisto a tudo isso e sonho com uma sociedade humana, de gente muito humana, capaz de olhar o outro não como igual, mas em linha equânime de entendimento e capacidade, percebo que,cada vez mais, confundimos "ética com éter".
E nossos debates e embates estão engessados em décadas passadas.
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