E com o ilusório de que algo “finda”
, renovam-se as esperanças de que deixemos de ser quem somos e sejamos um outro
– aquele da promessa do ano que inicia.
Ai todo tipo de texto vêm à tona: os 'intelectuais de esquerda', falando dos sonhos que morreram de overdose,
os extremistas de direita, falando na economia e organização da sociedade, os de centro e os “ à toa, de boa na lagoa”, achando tudo diferente, ou
simplesmente não acreditando em nada, e os poetas, esses inconformados (dos
quais acho que esta aqui faz parte...rs.), os saudosistas de plantão, sempre sentindo falta.
Claro, somos humanos, e a
esperança, assim como o amor – “esse artigo sempre em falta” – precisa de uma
dose (cavalar) de ânimo para girar a roda da vida, esta que nos faz levantar todos
os dias e sermos socialmente úteis para a manutenção da inutilidade que nos dá
certo senso de controle. Daí as festividades de natal e ano, que já disse
Drummond, “Quem inventou, fez um negócio genial”.
Vamos falar em perdas, em mortes
inenarráveis (Rubem e Manoel e Chaves,pedaços de doçura da vida), mas também em perdas e
ganhos pessoais, e com isso, tentarmos parecer mais fortes, mais amplos, enfim,
evoluídos dentro da casca do ovo.
O que, quase sem querer, faz recordar
que, dia desses, assisti à continuidade do filme “Jogos Vorazes– A esperança
(Parte I)” e confirmei que se trata de uma distopia do sistema capitalista,
explorador das cinzas e do riso, uniformizador e massificador, capaz de
aniquilar qualquer ato de rebeldia e compaixão, alternando a realidade e alterando,
até enlouquecer ou embrutecer boas pessoas, criando sub-sistemas de implosão,
reação e controle. Sob essa ótica, haveria espaço para os sonhadores na raça
humana?
Sem buscar ser otimista ou o
inverso, faço mesmo a espantada expressão de Baumam, quando trata das relações
líquidas e da modernidade: Estamos cada vez mais ávidos por novidades. Qual a
próxima programação, festividade, amor, estação? Qual o próximo, dê-me o próximo gole, o próximo ano!
Ávidos e sedentos, de uma sede
que não vai cessar “com novas novidades”. Vamos implodindo em cânceres, doenças
degenerativas, depressão, ansiedade. Quem precisa de dilúvio com isso tudo aqui?
Mas calma, esse não é um texto pessimista, para você que chegou até aqui sem rivotril. Você sabe que a moça do aluanaodorme é uma sonhadora e não escreveria sem seus pingos de luz...porque é de desconstrução que
precisamos, e não de recomeços, primeiros de janeiros. É de rehab emocional, de gente mais real, que
pensa em ser mesmo e tenta de alguma forma sê-lo. De gente que sangra e olha o
dodói sarar, pensa no corte, re-flete, re-condiciona Que ama e feito Vinicius, não sai por ai, já era, acabou.
Precisamos repactuar alguma coisa
que ficou perdida, na era dos vencedores e tecnologicamente exatos. Os
tecnologicamente exatos e os vencedores já encontraram a fórmula do amor no desapego , a fórmula da felicidade na individualidade e hedonismo, e da
sobrevivência na completa ausência de compaixão. Mas, para eles, o natal e o ano são símbolos de boas comidas e bebidas com gente “legal”, e não de amor familiar, troca, afetividade. Mas vamos sonhar que eles são raros, ou sumariamente ignorá-los.
Como grande parte dos sonhadores,
hoje vou enfeitar a vida com o sorriso dos meus! Vou também fazer poesias e sonhar com um mundo melhor - para mim e para você- e ser gentil e
integra com o meu semelhante, hoje mesmo.
Sem ano-novo ou grandes
festividades. Sem arroubos, sem guerras.
Só na contínua busca de vencer o tigre que existe em mim.
* texto publicado há exatamente um mês,adaptado.
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