domingo, 7 de outubro de 2018

As coisas que ficam (* Um ode às causas perdidas e encontradas)


Sempre fui meio afeita à epopéia de Cervantes na vida. Meu pai, grande inspiração, dizia que era para seu pior aluno que iam suas maiores orações. Cresci para aprender a sentir e depois dizer exatamente a mesma coisa. Aliás, reitero: como aluna inaplicada da vida, é também para nós - os desatentos - que vão minhas maiores orações. Sei, essa é a base da compaixão.

E, embora tenha perdido justamente naquilo que imprimi minha maior fé, paixão e oração, resolvi escrever sobre aquilo que fica, depois que a vida nos mostra, com a realidade, a quebra de uma ilusão. Sim, eu sei. Sou sonhadora demais. Mas eu não vou me adaptar. Assim, esse é um ode otimista às causas perdidas e às coisas que ficam, depois que a gente perde para a realidade. VAMOS LÁ?

EU FICO!

Eu fico com esse céu azul limpinho e com tudo que tem depois dele, esse mistério de bilhões de anos-luz, com suas luzes e cores... e todas essas dúvidas que nascem como explosões de planetas, que só confirmam a força do que bate dentro do meu coração.

Fico com minha inteireza e incapacidade de mentir e de lidar com mentiras, essa honestidade que tantas vezes me cobrou seu preço, feriu ou doeu. Eu acolho essas pequenas marcas, na pele da emoção, com graça, como esse vento, esse final de dia, que vai mansinho e tão decepcionantemente silencioso...

Vou por aí com essa humanidade latente, com essa vontade de mudar o mundo, com os sonhos da padaria  e também aqueles que quase deixei de acreditar, mas que quem sabe, são projeto de um Deus maravilhoso para um futuro que eu ainda não conheço e nem vi.

Realmente acolho essas perdas e ganhos. A mim, ao meu país, e à minha dignidade. Quero sim esse verbo todo em mim. Esse orgulho da inteireza. De, como mulher, como pessoa, não subtrair e não ferir, ao menos não conscientemente, o universo pessoal de ninguém.

Eu fico também com as pequenas dores, e até as grandes, mas não em mim. Só na memória e ainda assim, muito apagadas, porque tem muito riso e leveza a ser reverenciado. E fico com meu atraso emocional e a minha pouca presença de de mentiras e de trapaça . Com meu pouquinho de medo de levar novas porradas do mundo, mas minha curiosidade, que sempre impulsiona a bons caminhos - porque Deus gosta mesmo muito de mim e sempre me mostra o que eu preciso...

Eu carrego comigo esse gênio ruivo quando ferida,  menina que chora, porque dói, porque é ruim sentir dor. E que revida. E que questiona, e não permite ser diminuída. Mas também com esse coração boboca, que tem pouca ânsia de retornar nada, muito fácil de ficar leve e jogar as pedras de volta ao rio - que é para ajudar a maré da vida... 

Aliás, vingar! Para mim, é ver semente nascer..."a semente vingou, floresceu". Essa palavra só cabe nesse sentido, dentro do meu Universo pessoal. Fico por fim, com a minha integridade  - essa palavra que significa inteireza - e com meu amor dedicado à todos em quem acredito, a pureza de menina que faz com que minha irmã me diga que eu sou inteirinha um coração, de água e de flor.

Ah! minha pouquíssima vontade de vingar nada é de fazer rir...daí o medo dos próximos 15 dias. É o paradoxo da tolerância.

Quero também todos os aprendizados cotidianos, porque quero muito ser responsável por mim, meus atos e toda a vida que eu tocar.  Por sorte, fico com os poemas lindos, as músicas que tocam na 96,9 ou no meu pequeno radinho emocional, com o amor dos meus e essa vontade de abraçar o mundo, de torcer por todo mundo, de não conseguir mesmo desejar nada de mal a ninguém.

Principalmente, eu fico mesmo com esse amor que habita meu coração e é a marca pessoal dos meus passos no mundo. Com a minha dedicação em fazer feliz  e a minha certeza de que, em tudo, aos meus amores, sou atenta e inteira.

E fico também com os livros que ainda não li, os lugares que ainda não fui, as manias e meninices, as coisas lindas que acontecerão, só porque hoje eu sinto a dor das causas perdidas. E, por fim, fico com a menina esperança, que me diz que ...ainda não vi nem metade de tudo que ainda vou viver.  Vai vingar e florescer. É só regar.

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