Você devia ter colocado uma aliança no meu dedo e construído a nossa
casa em três meses, bem pequena, só para nós dois. Depois, pouco a pouco, te
ajudaria a aumenta-la e ela seria um negócio assim todo cheio de plantas e com
uma varandinha de temperos.
Você devia ter ido comigo a um médico para ele cuidar de nos ajudar a
fazer dois filhos de uma só vez. Você devia não ter desconfiado, não ter tido medo, não ter me sufocado
em cobranças tolas, porque eu já era inteiramente sua. Você devia ter tolerado
meu jeito chorão em dias de TPM, enquanto eu tolerava tuas neuras com roupas e
pessoas ao redor (porque eu tive ciúmes, você teve uma revolução sentimental com ares de furacão rs)
Sim,eu devia ter esperado o tempo de amadurecer contigo, e você percebido
que o que eu tinha para te dar era o hoje e o futuro, e não desperdiçado a
promessa que fez ao senhor do pincel de ser melhor para me fazer feliz.
Você devia mesmo ter desistido de ser tão teimoso e eu te seguiria na
dança, e uma hora dessas estarias alisando uma barriga crescendo , um mal humor
de uma ruiva engordando e regando um jardim,
um ano novo que viria com cheiro de neném no quarto e uma vida que
aprenderia a adequar, porque a vida mesmo, não é um recomeço eterno, ou
arrancariam tudo e plantariam todo ano novamente todos os laços que existem.
Ela é, pois, uma sequência lógica de quem somos e quem queremos ser.
Você devia ter posto uma música no celular e colocado meus pés para te
acompanhar, enquanto me pedia perdão pelo exagero, por acompanhar meus
horários, por ser intolerante com a minha família, e dito que estava atrasado,
mas entendia minhas queixas e ia só diminuir o passo, porque não conseguia ser
perfeito, mas não queria medir forças com o amor que eu dava a eles, porque eu
tinha sobrando, escorrendo para te dar....eu também te pediria perdão pelo ciuminho com aquelas amigas, e teríamos parado.
Você devia estar escolhendo berços infantis e os presentes das nossas sobrinhas, esse natal.
Natal que vem, talvez nem saíssemos muito, porque os gêmeos iam dormir cedo e
acabaríamos fazendo a festa só nós dois, depois do cochilinho deles, frio no
calor, eu e tu.
Aí você devia ter ido beber com os amigos enquanto eu estudava para
concurso, depois ficado em casa para cuidar das crianças e fazer bons textos
sobre a humanidade e todas as expectativas bacanas, num contraponto ao modismo
pessimista atual. Montado um jornal bacana, onde notícia fosse coisa tão ética
que as pessoas aprendessem e retomassem o prazer de ler.
Você devia, eu devia. Nós devíamos ter percebido como é raro encontrar
alguém para dizer “é tu” “eu amo nós”... e o nosso improvável amor.
Você se desesperaria quando eles nascessem, mas eu ia te acalmar e
fazer ver que tinham nascido com nossos misturados traços, e te ensinaria a
cuidar deles e ser paciente, porque seriam os amores da nossa vida. Você ia
ensinar para eles o lado boêmio da vida e eu ia ensiná-los a colocar os pés no
chão, sem fincar.
Eles iriam nos amadurecer um pouco e nos deixar ainda mais moleques.
Ia ser tanta poesia e música bacana para ensinar para esses pequenos, que um
dia eles iam perceber que eram boas e felizes pessoas, com a sorte de ter pais
apaixonados.
Você devia ter esperado para ver como eu iria lutar com rugas e cabelos vermelhos, uma velhinha com dignidade, viver arrumadinha e velha magraaa e cheirosa para você
elogiar, pintando artesanatos pela casa e encomendando bonecas da Cris, que
representam livros que lemos. Até lá, a Cris faria bonecas apenas para os
amigos ou para a franquia, e ia ser engraçado lembrar de como foi difícil
adaptar nós dois e os improváveis mundos.
Talvez até aprendesse a
cozinhar para não deixar nossos pequenos comerem apenas na avó ou natureba. Ou
para te agradar e surpreender, em um dia qualquer de chuva.
Eu devia ter visto embranquecer os seus cabelos, felho e peto, fazendo
tolices e pedindo creme no pé e massagens, sempre chateado e impaciente com
qualquer mudança que eu quisesse fazer na casa. Depois, neurótico, não mais
comigo, mas com o namoradinhos da Cecília, estipulando horários, comportamentos
e vigiando tudo.
Com o tempo e a idade, ia demorar mais o cochilo do costa com costa.
Você continuaria boêmio, mas menos, para me ajudar com eles, e eu iria
ver minhas amigas e família, mas todo tempo sentindo que tinha de voltar para
casa, por conta de nós.
E teríamos feito juntos, uma das coisas mais bacanas que podemos fazer
pelo mundo: Pessoas felizes que geram pessoas felizes.
Mas esse é só um conto bonito entre uma tal de Yokko e Jhon.
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