terça-feira, 7 de outubro de 2014

Sobre resiliência, olhos de preá e rosas (republicado, com pequenas alterações)

Há um tempo, li um conto de Drummond, que fala recriação,  à seu modo. Vou reproduzi-lo no  blog, texto inteiro,mas o Drummond inspira à escrita e reflexão, com sua prosa mansa, de gente que  prova o licor da vida mansamente,  sentindo-lhe o sabor....

O conto sobre o qual reflito, relata o conto de 'olhos de preá", uma bichinha que, segundo ele, acredita mansamente no melhor do mundo e das pessoas. A preá, que antes de mais nada, era "produto científico",pelo que veremos abaixo, tinha os olhos de confiança mais lindos, rompendo a barreira entre os seres: humanos, bichos, etc.


Andrea, bicho levado pelos estudantes de medicina à uma feira, tinha a ela ido para ser dissecada. Mas seu olhos de confiança no homem salvaram-na da dilaceração científica. Reconhecer-se em uma situação, e produzir o melhor que puder. Bem, querida Andrea, isso se chama resiliência: Reconhecer-se, perceber as periferias da emoção que leva em frente, e decididar ao problema o enfoque certo. Por sua credulidade, não houve quem tivesse coragem de dissecá-la. Virou mascote do grupo. Linda a doçura que lhe manteve a vida.

Acho que preciso da proteção e da Crença de Andrea. Ela, diz Drummond, rompeu a barreira entre humanos  não humanos, e o curioso, por isso dele se fez amiga. Conseguiu recordar aos humanos que dissecá-la era tirar-lhe a vida pelo mínimo de recortar-lhe em partes. Produziu resiliência.  E não importa quão feliz sejamos em nossos desacertos...o vale-vida traz o preço. Os estudantes ganharam uma mascote. Quem precisa fazer tantos cortes quando pode ter...amor?

Por pratica de resiliência, eu tento guardar cada pedacinho de amor cultivado em um frasco doce, e perdoar o que não quero dentro de mim. Não gosto de promessas,mas o exercício do amor torna tudo possível.


 É, não sou perfeita,tenho um gênio difícil e um coração grande, que transborda tudo que sente.Não tenho a perfeição das rosas. Mas tento o caminho do diálogo como forma de crescimento. Ou do silêncio, agora, talvez muito mais.  Mas quero fazer isso agora, enquanto sou e posso ser objeto de melhor amor. Agora, enquanto me pertenço e posso caminhar (e acrescer) com quem eu amo e realmente importa.O que me leva à outra lembrança, aquela da mitologia,  em que Teseu mata o minotauro, um ser meio homem e meio touro,  e consegue sair do labirinto. 

Penso que nós somos o próprio labirinto, e Teseu nosso lado bom, o Minotauro nosso lado ruim. Sabem como Teseu matou o Minotauro e ainda saiu do labirinto? Através de um fio de barbante que amarrou na entrada: é preciso lembrar quem se é, de onde se veio, para sair de qualquer labirinto. Mas isso se deu porque Teseu tinha o amor de uma mulher, mulher essa que, diz a lenda, Teseu matou (mas eu não acredito, pois o próprio livro é contraditório). A mensagem é clara:  Só saímos do ciclo vicioso de nossos erros - por mais feliz que eles nos façam - recordando quem somos e de onde viemos. E o amor que temos.


Quanto a essa que vos escreve, bem...posso dizer que sou feliz. Não estou plena, e isso é sempre a "falta". "Ausência". Como algumas coisas nos fazem falta!  Estou em um momento tão à prova de quem sou e de toda a força ,fé e amor que sempre defendi (talvez o maior de toda minha vida), que a poesia que normalmente mora e grita meus sentidos , silenciou...


Mas, se tem uma coisa que eu sempre vou crer, é no poder de recriar, no gesto, tudo que de bom neste mundo é valiosa a existência. Recriar, envolve o perdão (de si e do outro), o poder de reconstruir (a alma, com calma) quem somos...e a fé na nossa demasiada humanidade e seu lado bom.






(Texto revisado e republicado, pois essa moça ainda não consegue pôr "as letras no lugar", mas...acho que é isso.)

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