quinta-feira, 28 de abril de 2016

Encontro comigo - Ou uma (ana)crônica circunstancial.



Neste sábado comum, fui tomar um café e escolher uns livros que namorava na livraria de um shopping. Sentei, absorta, cinco livros na mão e uma decisão (quais???), quando fui abordada por uma jovem senhora.   " – Oi, nossa, você não mudou nada!"
Sorri e reconheci minha colega de sexta série (!) de uma das muitas escolas estudei, já que ‘ já morei em tanta casa que nem me lembro mais...’mas, com meus Pais. 

-Olá, tudo bem? menina, quanto tempo!  Eu,não mudei nada? eu estou uns 15 cm mais alta...e os meus cabelos! Rsrs. Tudo bem, Márcia? tem tempo? vamos tomar um café?
Ela sentou e perguntou se eu ainda era a representante, rs.
-  Não, cansei! Pior que isso, formei, menina! - Risadas.
Perguntei se ela ainda abraçava todo mundo. Ela riu e disse que guarda isso para a filha, que agora tem cinco anos. As meninas que éramos aos dez, onze anos sentaram para conversar.

Recordei que não formei em medicina (odeio sangue) mas ainda sou uma pimentinha carinhosa – coisa que ela tem em comum. 
Ela me disse que escolheu ser professora, mas foi coisa circunstancial. Que a filha veio no fim da faculdade, foi uma luta, mas teve anjos.
Ela perguntou se ainda tinha o tiozão e como iam as coisas com meu pai. Falei  a ela que agora o tio ainda é anjo, mas agora havia um ‘anjo mais velho’, no outro lado da vida... 
Conversamos sobre outras colegas da época, inocência e conflitos, as adultas que se tornaram. Ela terminou o café e foi embora. Não pedimos telefone uma à outra, por empolgação ou descuido.  Foi porventura que nos encontramos.
Assim que fiquei só, revi  a menina que ela foi, novinha, carinhosa, abraçando a pimentinha de cabelo castanho que era eu, tão carinhosa quanto ela, tão mais agitada.
Abracei as duas meninas, em pensamento, cuidadosamente. Sou lerdinha, saudosista por natureza! (Fiquem bem,meninas! brinquem o máximo que puderem aí, para continuar a nos fortalecer, aqui!) 
Pensei nas coisas que ela disse que sabia de mim. A representante agitada, questionadora, carinhosa, que queria ser médica. A menina que influenciava as pessoas pela oratória e tinha dois pais: um tio anjo e um pai amado.



Pensei no “ Você não mudou nada”...e concluí que, em quase tudo, não somos mudança! 


Somos acréscimo!







Já pensou que estranho seria sair de mim para me ser?  Que lance psicodélico! A coisa é que a menina ainda mora em mim, mas todos os dias alguma coisa em nós nasce , a pele da alma estica para readaptar e acolher!  Ainda sou a menina enérgica, sentimental,  moro ainda mais na filosofia e na poesia (meu lar e abrigo desde gita!), já tive mais lágrimas e sorrisos que planejei...enfim!
Algumas coisas, como a profissão da Márcia, também foram “circunstanciais” : não escolhas, mas acontecimentos aleatórios que acabaram por me compor, sem direito à uma opção.
E a pele da alma estica...estica...para acrescentar. Neste processo, dor e surpresa se misturam. E a gente gera, dá à luz em amor, verso, alegria. O instante exige coragem. E suporte! Porque " haja hoje para tanto ontem".

O universo em movimento é aquele fim de tarde que ardia, tão circunstancial e aleatório.  O dia que nasce e que, embora abrigue minhas escolhas e saiba de meus sonhos mais lindos e loucos, não se move por mim, mas sim pela vida, esquisita e imperiosa, que tem sua forma particular de se alinhar.

E quem sou eu,tão pequena, para questionar? ha, sim! Lembrei. ;)


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P.s: Essa crônica é uma parte de memória tão feliz. Mudei os nomes, claro. Acrescentei agora, em 2023, uma pequena observação...de lá para cá, essa menina trouxe pela mão a melhor amiga, uma flor, que desde lá, cresceu tanto como gente, mas que eu reconheço deste lá, como pessoa....e como isso une as Jacis! Hoje também me deu uma sobrinha, uma outra florzinha cheirosa, que com suas inquietações, poesia, beleza e carinho, me lembram da adolescente que fui, e como sou feliz em fortalecer mesmos bons laços, há mais de 30 anos...porque nessa vida tão curtinha, vale mesmo são as pessoas que a gente aproveita para ter por perto.  Sobre a amiga dessa crônica? faz tempo que não a vejo...desejo sinceras felicidades.
Para a Jaci Rocha menina, ela toma café todos os domingos com sua melhor amiga, e agora elas contam com mais uma florzinha, e muitas histórias, muitas palavras e muitos silêncios, porque acreditem, é a coisa mais confortável do mundo contar alguma coisa para alguém que pega suas lentes, que vai junto, que te lembra quem és, que te ama e te dá razão, ou para para te re-cor-dar de onde és, de onde veio, e os planos de beleza que vieram contigo...


LUZ!

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