quinta-feira, 10 de abril de 2014

Sobre meu Vô e a sua Vencedora (Um conto, um devaneio e uma passagem)

Meu vô,pelas águas do amazonas, navegou com seus frutos e sonhos, numa maré ardente, para a cidade de Santa Ana. Seu otimismo batizou em fé a sua condução: Vencedora.

A Vencedora virou para mim sempre um mar de contradições: Trouxe meu vô, seus sonhos e frutos à terra, depois envelheceu e o imperioso rio-mar venceu sua natureza frágil. Será que venceu ou pegou para si a filha vencedora? madeira...árvore...água.

Isso sempre ficou com um ponto de reflexão para mim: Vencedora nos trouxe ao Estado que nasci, cresci, fortaleci vínculos de afeto familiares e construí amizades sólidas e constantes. Mas, o que é vencer?




Acho que sou um pouco a vencedora. Eu carrego comigo uma missão (chegar a um porto), nele desembarcar minha bagagem interior, auxiliar no processo de desenvolvimento de quem vem comigo, e seguir minha mortal natureza...de um dia partir...outro plano. ("Alô,alô, Marciano! Aqui quem fala é da terra!"rs)

Enquanto estou aqui, oxidando nas marés da vida, vezes chorando, noutras sorrindo, tento ser... leve!Suave. Sem mágoas, sem naufrágios. Amor,muito amor: Amor-perdão, amor-evolução, amor-crescimento. Todo amor que dei, guardei, recebi, transbordei, é válido. Estou aqui, vivendo.  

A vencedora foi até o fim com meu vô. Eu vou até o fim com os meus. E seguir, nesta maré de águas amazônidas, me faz mais gente: tudo bem perder! Calar-se em uma discussão, pedir perdão, reconhecer-se falha, consertar...ceder, respeitar o limite alheio, não pedir o que não pode dar...ha, vida. São tantos aprendizados!

Perder...

Perder-se em pensamentos, perder-se de si, perder um dia ou outro, embriagar-se no cálice das águas salgadas...perder um tempo, para ganhar no outro. Pensar, perder-se numa paisagem antiga...sorrir, chorar. Lembrar que eu sou de um imenso rio doce. Eu vim do útero da minha mãe, águas de amor. É, toda água alimenta.

Às vezes, eu também perco para a vida. Mas, ha! a vencedora não venceu todas as marés. Depende também da natureza alheia. Mas ela navegou, doou, recebeu e foi, dentro da missão que tinha, o melhor que podia ser.

Obrigada pela lição, Vencedora! 


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