quarta-feira, 23 de abril de 2014

Conexão I


Cansaço e múltiplas saudades. Em toda parte  - do presente, do passado, de um lugar ou doutro- Alguma coisa me causava saudades.  O avião começava os procedimentos de decolagem. Livro em mãos, longe de tudo. Apenas o ar.
A menina de olhos meigos e castanhos olhava curiosamente para mim. A doce estranhinha tinha um livro em mãos também - aqueles contos pré-adolescentes da pós-modernidade. A mãe, elegante e discretamente, ia lhe desvendando o significado de algumas palavras, pacientemente.
Estou no assento do corredor e em lugar algum. Penso que estou meio louca. Anestesiada ou sensível demais, a depender do instante. Instável.
Ela se vira e pergunta o que é "dissipar"? à mãe, enquanto nuvens vão sendo dissipadas pela força da máquina-avião. Olha-me de relance, e sinto ímpetos de responder ...que dissipam-se segundos entre os olhares de cumplicidade que ela troca com a mãe...que dissipam-se dias enquanto eu reflito,aflita, o caminho. Mas calma também, pois o temporal e o abrigo estão todos no mesmo frasco. Nada de deixar a menininha preocupada com coisas que ainda lhe chegarão - na idade e tempo certos.
A mãe parece sanar a dúvida da pequena, que apenas provoca em mim um certo contentamento por ver que as dúvidas pequeninas são respondidas. Ponho-me a trialogar com Deus. Faço digressões imensas. Conexões e mais conexões. Dissipo...

Enquanto isso, o projetinho de gente muda sua atenção para o meu livro  e seu título. Viro a capa e deixo que ela leia -condescendente. Ela me volta um pouco a mim com sua curiosidade castanha e simples. Enquanto isso, os "laços que me dei", como já disse Pessoa, ficam em mim. Dissipar, pequenina? talvez seja algo mais difícil de explicar...

Traço mil monólogos e explicações. Fecho os olhos e não durmo. Saudades - do presente, do passado, de um lugar ou doutro - alguma coisa. Ou tudo.

Conexão I chega ao fim. A mãe me sorri com seu projetinho de gente. Chegamos à Brasília. Saímos juntas do avião e ela cantarola uma música, enquanto guarda coisas na bolsa. 

"Quando você ficar triste
Que seja por um dia, e não o ano inteiro"....

Eu, pouco contida, como sempre! - Não aguento e lhe pergunto: "Gostas dessa música? Eu também."... ao que ela me responde "Gosto sim. Mas não sei o por quê de ela estar em minha cabeça o voo todo"...e ainda completa, numa situação daquelas que não podemos dizer nada, senão obrigada... "amo quando ela diz 'Ainda exista amor pra recomeçar'" - e conclui, com um sorriso : 'Você tem bom gosto'. Eu  correspondo o sorriso e a palavra: "Você também".

Olho para Deus, bem no fundo. Sorrio internamente, quente. Ok, Conexão I!
 ------------------------------------------------------------------------------------------


Papai do céu,cara... você é demais. Valeu aí.
 :)

Nenhum comentário:

Postar um comentário