quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Memórias


Amo cheiro de chuva,mesmo quando não chove!
Aquele prenúncio que vem acompanhado de ventania, movimento.
Certos  barulho me aprazem (Como alguns irritam, ex: mastigação). Mas, instrumental de música parece me contar uma coisa particularmente secreta. O instrumental de uma canção é uma coisa tão forte e tocante! Conversa.
Sou louca por cheiro de livro e confesso que entro em sebos com a magia de quem adentra um território mítico, secreto, uma máquina do tempo.
Ganhava muitos livros no Natal, porque filha de professor tem a obrigação de conhecer o dicionário intergalático de livros (Obrigada por me exigir,pai! rs).
Amei as coleções juvenis como a série vaga-lume. Mas lia também Aghata, Hitchcock, literatura nacional como "Moreninha","Senhora", " Memórias Póstumas de Braz-Cubas". E gibis, coisa fina como "Urtigão", um caipira maravilhoso que me ensinou o poder da simplicidade da leitura! Ao contrário do que hoje é comum, li muitos livros antes do filme, a exemplo do "O exorcista", na época, frisson da meninada. Mas saía pela tangente com Kafka e Cecília Meireles,entre outros poetas e malucos, tudo muito entremeado. 
Tenho a impressão de estar no lugar e circunstância que comprei o livro, toda vez que releio algum da estante.  Gosto de dedicatórias que não são para mim, aquelas antigas, que ficam em livros velhos e contam sempre que outras vidas se interligaram por aquela literatura. Também isso me apraz em canções antigas, a ideia de que a humanidade busca comunicar-se, aqui e ontem, quando as ruas eram diferentes. Que outras pessoas, amores,casais, desenharam outras paisagens debaixo de um mesmo território.

Gosto de olhar o céu, porque parece sempre diferente, embora azul e dócil. Recordo que o céu da minha infância tinha mais estrelas, porque na minha cidadezinha, a iluminação era muito inferior à de hoje. Então, à noite, para nos divertir, meu tio apontava constelações para aquela meninada da rua empoeirada, e por ele, tanta poesia também nasceu!
Aprendi a amar fotografias mais recentemente, porque embora ache que a vida é linda assim, "gifada", em movimento, ela também é bonita ali, estática, presa. É como se eu passasse uma rasteira no tempo e dissesse: Ei, olha o que eu tenho! ainda é,embora não esteja aqui. 
O mesmo sinto com canções que  recordam quem sou. Que me conjugam e conjugam a história que Deus me presenteou -E  porque Ele é muito meu chapa, tenho agora uma playlist sentimental tão linda! Poesia que dança comigo minha história, meu relicário emocional em som.
Identidade-Memória andam de mãos dadas: só posso ser quando guardo minhas pequenas coisinhas comigo. "O que não cabe na dispensa" (Ou seja, o indispensável) Literária,sentimental,emocional, musical.
Gosto de saber que tudo isso compõe o  pluriverso que me constitui.  E que dentro disso tudo, trago comigo os melhores livros, os melhores perfumes, as melhores canções, e mais! O melhor das minhas pessoas: seu amor.
Que transformo em oração, porque esse ritual ancestral de encontro com o infinito inexplicável,  aprendi também desde muito cedo, quando ainda nem sabia bem falar com o querido Senhor do Pincel, ou "a força", ou qualquer outro nome que use para morar dentro de alguém...

( E que ele sempre esteja conosco!)




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