quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Feliz Aniversário, Jesus! (Com a lua tal qual a dona de um bordel)


Ninguém me disse quando nasceste, amigo, então te escrevo hoje e desejo: Feliz aniversário!


Quantos anos alguém com tanto amor suporta carregar? O peso da eternidade?  Senta aqui, ao meu lado. Conta-me como tu andas.  Não quero falar de mim. A humanidade é tão urgente, que esquece de saber como vai você aqui, hoje, alguns mil anos depois. Já viste tanta coisa! Ainda foges, criança, para dormir naquela casinha em que Caeiro te recebia? Tomara que sim.... Tomara que você ainda saia do peso de salvar a humanidade e vá brincar no sarau de poesia com Cecília, Tom, Vinicius, Rubem, Shakespeare, Pessoa e tantos outros. Tomara que tire um dia para vir a terra tomar umas cervejas e ouvir boa música aqui no Amapá, para ver como é bonita a noite do equador. 

Hoje mesmo, que é de lua cheia e ela está 'tal qual a dona de um bordel'. Tantos anos sem ela no teu dia! 

Mas faz outros dias também, não só hoje. Acho que dia desses vou fazer isso e te procurar, disfarçadamente. Tu me dás um sinal, se estiveres?  Senta comigo. Ou, se preferir, senta com os bêbados e malucos da cidade, com a nata dos embriagados e loucos, ouve umas piadas sacanas, ri sem culpa das coisas politicamente incorretas que aqui existem e vê o quanto de bobagem e bondade existe em tudo que eles dizem. Somos abissais e diferentes, mas palhaços, nós, teus irmãos.

Depois, amanhece o dia e vai tomar um banho no Araguari e toma lá outro tipo de batismo. Deixa eu te contar: ele é um rio encantado.


Pega Maria Madalena pela mão, não nega ela da tua história, que quem entender a natureza da tua alma não vai nunca duvidar da tua mensagem pura. 
Mas sim, entender que você amou. E ama!  Pega tua Maria pela mão e dança, lá na frente do Amazonas, e com dois cálices da água do rio-mar , faz vinho. Deve sair uma delícia. Toma um porre com Maria, vê o sol nascer nos cabelos dela, sente como é bonito estar no mundo sem precisar salvá-lo, apenas com a mulher amada na mão, que o amor é mesmo "um cão dos infernos", mas também é celeste e herança tua. Diz a ela que os cabelos vermelhos que lhe couberam bem,segundo a história, são parte da minha ruivice desmedida. Mulher incrível, essa capaz de acolher o anonimato, descendente de reis, que virou prostituta na história só pelo pecado de amar o filho da pureza. 
Mas eu sei, você também perdoa isso. Somos doidos, precisamos acreditar que você não foi tocado para entender que é puro (Que loucos, meu amigo!).

Depois, pega algum desses troncos da orla e vai para uma carpintaria, fazer o que você bem entender. Pergunta a José o que ele gostaria. Dorme aqui em casa, ou na casa de alguém que não te acorde cheio de pedidos ou pompa, só feliz com a tua presença. 

Toma um café preto e vem conhecer o meu jardim. Ele é simples, mas tô enamorada dele,  agora mesmo te escrevo enquanto contemplo a lua deslumbrante e as flores. Coloco almofadas lá e falamos amenidades. Ou só silêncio mesmo, que ''quando estou contigo, estou em paz''.

Não vou brincar de desenho de nuvens contigo, tu ganharias todas! Mas, ei, por ofício da profissão, tu voltas para realizar o natal, aquele natal onde todo mundo vai às comprar para demonstrar amor, onde um papai noel gordo chama atenção mais que você e todos se atrofiam em filas de supermercado.
Ficas lá, com a paciência de quem espalha mensagens de amor a surdos. Ou então, dá outra fugidinha e fica em silêncio, com São Francisco, perto de seres perfeitos. Se tu puderes vir me dar um abraço (nossa, como te peço atenção!), vou ficar tão feliz. A única coisa que faço questão nesse natal é sentir que, de fato, o teu aniversário foi comemorado. Eu vou te brindar e abraçar bem na passagem, prometo, meu amigo.
Comemora Jesus, com as coisas boas que a humanidade tem e são herança tua, sem o peso de salvar a mais ninguém, deixa que somos adultos o suficientes, faz isso por ti no teu aniversário. Começa hoje, espera dia certo não.


" Sorria, e saiba do que eu sei: Eu te amo"



Muito obrigada por todas as bênçãos.


(* Publicação antiga, com acréscimos)

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