terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Chuvosa!


Caem pingos de água do céu.

O dia subitamente mudou de cor e meu coração sorri, pois ama o cinza - colorido, a beleza molhada da natureza e o frio. Quando chove, falo com meu pai, pergunto se foi pescar no final de semana ou se ouve Cartola aos domingos (porque ainda faço isso, meu velho).  Quando chove, tomo sorvete, mesmo quando a garganta dói, rego o jardim e deixo a natureza-viva devolver o gesto. Sou regada, então. É,fico tola, agradecida, boba, quase como se tudo (o vento, a água do céu e o frio) fosse uma carícia de Deus para mim.

Quando chove, tomo café da tarde, só para dizer ao senhor-tempo que o coração sabe se aquecer e ainda assim, brindar a letargia cinza do instante. Ouço sua generosa sinfonia com reverência: Do telhado, do chão, das folhas das árvores. Desligo os sons ao redor, para curtir mais um pouco sua exuberância. 

Quando chove, recordo da criança matreira, cheia de hematomas, correndo pela chuva,  em busca das aventuras incríveis de uma infância simples, inocente e feliz.  Lembro que sou filha da mãe d´água e vou à beirinha do Amazonas dizer à ela "obrigada", pois é da vida  se sentir agraciada com as pequenas carícias da existência. 

Quando chove, gosto de olhar as sombrinhas no centro da cidade, sua profusão de cores e a pressa das pessoas. Mesmo quando chove só um pouquinho, como agora, sinto que um pouco da natureza se escorrega para dentro de mim e entra no sangue, faz barulho por dentro, água que cai no telhado e faz carinho na alma... é água benta, água-bênção sobre a pele...e em mim, chove o dia inteiro.

Amar a chuva é ato contemplativo, espetáculo  afluente!
Já deveria ter parado de escrever sobre o cinza, bem sei.
Mas é que eles nunca são iguais e há sempre muita magia, bênção, poesia.
Em cada pingo que cai.

Mesmo se depois, por insistência, o céu desnuda um deslumbrante sol.

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