O último pedaço de bolo, um domingo no cinema,
Perder a hora do poema, esquecer e não anotar a rima,
Não ir gastar o fim de tarde na Paulista
Deixar de observar o vento balançar a vida...
Não viver o momento, adocicado e lento
Com a delicadeza de estar presente, inteira.
Esquecer o aniversário de alguém amado,
Esconder um verso, ir menos ao teatro e mais ao supermercado,
Apagar um sonho riscado com a ponta de giz,
ter medo, errar e não pedir perdão...
Só me devora o que não fiz, quase sem querer!
A aula que não pude aprender, o tempo em que desfiz laços...
As vezes que fugi de mim e nem notei
A lágrima sentida, no bolso esquerdo guardado
O amor que esqueci no varal e secou,
A velha dor nos joelhos, o tempo que não me doo,
e justifico e sigo! a falta que não digo,
e às vezes, nem percebo.
Não fazer o melhor poema de amor a cada ser amado,
às vezes, desatentamente, errar a curva da estrada
machucar a emoção de alguém
Ou não doar o melhor em mim no 'agora',
---- Só o que não fiz e o que não vivi
O que não doei e não me dispus,
A dor que gerei e não pude reparar
A vida flagrante, que deixei de respirar :
São as coisas tantas que, às vezes, junto do poema
Sentam comigo, sob minha janela
e perguntam sempre e muito:
Quando? Quando? Quando? ---
#
" O mundo começa agora
Apenas começamos"
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