sexta-feira, 16 de novembro de 2018

País de Papel


Ele dorme
Sob o teto do céu avermelhado
Parece tão calmo
E tudo está tão frio...

Há flores em seu leito
Fincado de concreto, terra e arbustos
E ninguém parece ver o absurdo...

...o absurdo!

A esquina da 23 de maio é seu lar.
Lá, onde foi apagado com cinza
Parte da história da arte
Na cidade em que arde um Brasil desigual...

Desigual, como o chão que me acolheu a vida
E como tudo que move esse imenso país
Onde gente febril brinca com o bem comum
e pessoas correm p´ra lugar nenhum..

Em busca da justa medida da dignidade
Esse artigo inerente, cada vez mais raro
Onde resistir é fazer e ser
O exercício do contrário...

Ele dorme,

Nós todos dormimos
Nossas próprias dores no país de papel
Porque é da vida tentar encontrar...felicidade!
E, no meio desta cidade

Cada um vive sua própria Liberdade
- e também prisão.

#

* Quando ainda era jovem (sim, eu sou uma velhinha), ganhei do meu pai um livro intitulado "O Cidadão de Papel", do Gilberto Dimenstein. Todas as vezes em que vejo um cidadão dentro do estado de miserabilidade, recordo o quanto somos de papel...é uma pena. 
A vida e até mesmo a pobreza, dentro das grandes cidades, é  diferente, pois é permeada de uma invisibilidade latente, que culpabiliza - como sempre, o mais frágil.
Mas, na minha cidade, ainda não há essa bruta desassociação entre o humano que existe em mim e o que existe no outro....
E isso me recordou a perspectiva de tamanho, de Adélia Prado..."Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande".

Que saudade da minha cidade...mas, trabalhar é preciso (e uma grande alegria).


LUZ!!!

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