domingo, 18 de setembro de 2016

Crônica: A arte e o belo!

A ruiva(1896) - Tolouse Lautrec
Rola um som adocicado pelo meu jardim. Meu vizinho resolveu brincar com seu sax.
 É um domingo calmo e manso, tudo que se ouve é o sax e a melodia do vento, que batuca pelo meu sino dos ventos, pendurado à janela. Estou com o coração feliz como o da menina arteira que fui. Ah! Menina arteira...saudades de ti, sempre agarrada às bonecas da irmã mais velha. Para não perdê-la de mim, virei poeta. Essa coisa fina e densa chamada matéria não resiste de se enternecer para a poesia. Somos poeira da vida, do tempo. Foi no meu encontro com a poesia que encontrei  o licor para fazer disso esculturas! E o som ecoa...

"Dust in the wind
All we are is dust in the wind..."

Foi de pensar nisso, que lembrei o quanto a arte nos resgata. Mas, o que é a arte? Para mim, a arte tem tudo a ver com o belo. Isso faz recordar que ontem, por intermédio de uma amiga, fui conhecer a Igreja Messiânica e tive a doce sensação de receber um Jhorei, no dia por eles intitulado como " O dia do belo". Mais do que um conceito estético, para eles, o belo é uma filosofia: a filosofia do encantamento, que pode( e deve) se reproduzir em nossas atitudes.

Retorno à arte. Meus artistas favoritos? As crianças. Menino (a) 'arteiro ' é sempre sinônimo de felicidade. Algumas das lembranças mais ternas que tenho na vida vêm de momentos que passei com as minhas crianças amadas. Só para ilustrar, uma vez brinquei de pique-esconde com minha sobrinha, e ela escondida, não aparecia de jeito nenhum. Passados uns dez minutos, a encontrei toda encolhidinha no armário de panelas, meio chorona, pois tinha feito xixi, na ansiedade de ser encontrada. Foram muitos risos, uma fotografia batida (para envergonhá-la, no futuro) e muitas risadas. Melhor do que qualquer palestra ou curta-metragem sobre inocência, é a lembrança do seu olhar ao ser descoberta , de menina envergonhada, doce e feliz...que pode ser a mesma que sinto quando me desnudo em um poema. 

Arte nos movimenta e torna a vida humana sentimental, expressiva. Por isso a cultura é um fascínio para mim: a arte cultivada por uma determinada população e que se descola do silêncio para falar conosco. A arte que é uma carícia, uma conversa sobre como uma pessoa percebe o mundo.  Como estar sentada aqui, no jardim, enquanto escrevo e ouço o som do sax, que diz, apenas com seu instrumental...

"Bem te vi
Bem te vi
Andar por um jardim em flor
Chamando os bichos de amor
Tua boca pingava mel... "

Sim, penso que arte (e o belo!) pode representar mesmo um milhão de coisas! Inclusive encontro. Encontro de mim com minhas próprias memórias e percepções do mundo. Com minhas saudades de domingo e com minhas bênçãos diárias. E com a alma do outro. Como esse som macio, que sai daquela casa encantada, que canta e conversa comigo, sobre rock and roll, mpb, sobre som e silêncio. E sobretudo, sobre a vida. E como ela faz sentido, quando tocada. E sobre como é bonita!!!



(Escorreu deste texto:
Toque sua própria melodia. Aqui,
Todo mundo é artista!)

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