A ruiva(1896) - Tolouse Lautrec |
Rola um som adocicado pelo meu jardim. Meu vizinho resolveu brincar com seu
sax.
É um domingo calmo e manso, tudo que se
ouve é o sax e a melodia do vento, que batuca pelo meu sino dos ventos,
pendurado à janela. Estou com o coração feliz como o da menina arteira
que fui. Ah! Menina arteira...saudades de ti, sempre agarrada às bonecas da
irmã mais velha. Para não perdê-la de mim, virei poeta. Essa coisa fina e densa
chamada matéria não resiste de se enternecer para a poesia. Somos poeira da
vida, do tempo. Foi no meu encontro com a poesia que encontrei o licor para fazer disso esculturas! E o som
ecoa...
"Dust
in the wind
All
we are is dust in the wind..."
Foi de pensar nisso, que lembrei o
quanto a arte nos resgata. Mas, o que é a arte? Para mim, a arte tem tudo a ver
com o belo. Isso faz recordar que ontem, por intermédio de uma amiga, fui
conhecer a Igreja Messiânica e tive a doce sensação de receber um Jhorei, no
dia por eles intitulado como " O dia do belo". Mais do que um
conceito estético, para eles, o belo é uma filosofia: a filosofia do
encantamento, que pode( e deve) se reproduzir em nossas atitudes.
Retorno à arte. Meus artistas
favoritos? As crianças. Menino (a) 'arteiro ' é sempre sinônimo de felicidade.
Algumas das lembranças mais ternas que tenho na vida vêm de momentos que passei
com as minhas crianças amadas. Só para ilustrar, uma vez brinquei de
pique-esconde com minha sobrinha, e ela escondida, não aparecia de jeito
nenhum. Passados uns dez minutos, a encontrei toda encolhidinha no armário de
panelas, meio chorona, pois tinha feito xixi, na ansiedade de ser encontrada.
Foram muitos risos, uma fotografia batida (para envergonhá-la, no futuro) e
muitas risadas. Melhor do que qualquer palestra ou curta-metragem sobre
inocência, é a lembrança do seu olhar ao ser descoberta , de menina
envergonhada, doce e feliz...que pode ser a mesma que sinto quando me desnudo
em um poema.
Arte nos movimenta e torna a vida
humana sentimental, expressiva. Por isso a cultura é um fascínio para
mim: a arte cultivada por uma determinada população e que se descola do
silêncio para falar conosco. A arte que é uma carícia, uma conversa sobre
como uma pessoa percebe o mundo. Como estar sentada aqui, no jardim,
enquanto escrevo e ouço o som do sax, que diz, apenas com seu instrumental...
"Bem
te vi
Bem
te vi
Andar
por um jardim em flor
Chamando
os bichos de amor
Tua
boca pingava mel... "
Sim, penso que arte (e o belo!) pode representar mesmo
um milhão de coisas! Inclusive encontro. Encontro de mim com
minhas próprias memórias e percepções do mundo. Com minhas
saudades de domingo e com minhas bênçãos diárias. E com a alma do outro.
Como esse som macio, que sai daquela casa encantada, que canta e conversa
comigo, sobre rock and roll, mpb, sobre som e silêncio. E sobretudo, sobre a vida. E como ela faz sentido, quando tocada. E sobre como é bonita!!!
(Escorreu deste
texto:
Toque sua própria melodia. Aqui,
Todo mundo é artista!)
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