Ela me telefonou. Havia algum tempo anos que não nos falávamos. Coisa pouca,
apenas três anos, mas no mundo líquido, é
sempre um milagre manter o elo de um amigo.
Disse-me que chegaria a Macapá. Tinha o aspecto cansado nas palavras. Senti
que precisava de mim.
A amiga com quem compartilhei tantas coisas
engraçadas, debates enormes nas nossas mentes juvenis e que desde cedo sabia
que seria médica. Fui buscá-la após um dia inteiro consultando. Ternuras e constrangimentos
iniciais, começamos a conversar sobre as primeiras ‘porradas’ profissionais.
- “ Perdi uns pacientes aí...” (Penso: perdi umas
paciências aí...- mas ouço atentamente).
Ela teve perdas que iam além do ego profissional. Haviam
vidas. Gente que amou, que tinha família, que deixou sua marca nos corações da pessoas. Mesmo para nós, que acreditamos em outras oportunidades, era triste
sentir a vida indo embora. Contei a ela minhas perdas também. Vi gente que escolheu o ‘caminho
mais fácil’ e que decidiu subtrair das
pessoas o direito, tão pessoal e intransferível, da dignidade. Gente que morreu em vida, sem perceber...
Olhava para ela com saudades, o tempo todo me certificando que aquele rosto novo, que a idade lhe conferiu, ainda tinha a alma amada. Achei que estava com
olhos cansados.
Saímos para comer. Ela virou vegetariana, comeu sanduíche de
salada. Inspiração para mim, que ainda
não consigo esse nível de respeito com os animais e que guardo uma culpa toda
minha por isso.
Conversamos sobre séries, sobre as nossas pessoas e nossas vidas. As dificuldades que enfrentamos para sermos essas
pessoas éticas que planejamos ser desde crianças, força na resistência, cansaço
teimoso e fé de não desistir. Ah! E falta de grana, porque honestidade cobra
seu preço por aqui, viu, marcianos?
Conversamos tanto que quase não dormimos.
Deu saudade do tempo que a gente tinha tempo...mas por aqui, agora tudo é artigo de luxo. A manhã chegou e ela partiu no avião, levou consigo os meus 12,13,14,15 anos. Aquelas meninas idealistas que fomos deram as mãos e nos contemplaram nossa despedida, sete 'da matina', no aeroporto. Elas eram amigas ainda, como ainda somos, com nossas almas amigas que não se subtraem uma da outra com o passar da vida.
Deu saudade do tempo que a gente tinha tempo...mas por aqui, agora tudo é artigo de luxo. A manhã chegou e ela partiu no avião, levou consigo os meus 12,13,14,15 anos. Aquelas meninas idealistas que fomos deram as mãos e nos contemplaram nossa despedida, sete 'da matina', no aeroporto. Elas eram amigas ainda, como ainda somos, com nossas almas amigas que não se subtraem uma da outra com o passar da vida.
Ela levou também o amor que guardo por ela, desde este tempo
e a felicidade que sinto por sermos
assim, leves, idealistas e jovens, cheias dos nossos 15 anos, cheias dos nossos
livros e planos, pouca grana na bagagem, muita vida e sentimento.
Ah! E amor – a força mais poderosa que podemos construir. #
Boa viagem, minha amiga,
Eu apenas queria que você soubesse que ''a minha ternura não ficou na estrada, não ficou no tempo, presa na poeira''. E fico feliz em saber que a tua também não, exatamente como sempre pensei que seria. <3
Nenhum comentário:
Postar um comentário