Tenho
empatia e pena dessa gente amena, sempre gentil e plácida, que nunca tem um
arroubo de sentimento, seja ele raiva ou paixão. A raiva, a
dor - o amor - e a paixão movem a arte.
A arte vê
outros horizontes, cria suas próprias paisagens para sobreviver. Encontra um ou
outro jeito de transbordar ou transgredir, porque não "SE" cabe.
Dia desses,
passei de carro com uma amiga e vi um gato caído no chão, morto. Ela viu um
''atrapalho de trânsito'', eu vi um gatinho, branquinho e lindo, morto no
asfalto. E na margem, outro semelhante, a olhar o amigo inerte...senti que éramos
tão parecidos na dor! A reação é de bicho, então porque eu teria direito a ser
retirada e enterrada e aquele gatinho não? E seu amigo, ou seu 'parente', ali, imóvel...a
testemunhar nosso desdém. Pedi perdão ao Sr. Gato por minha inércia. Não
soube o que fazer. Mas senti suas dores o dia inteiro.
Ah! as dores de sentir...
Elas
assaltam minhas madrugadas, minhas caminhadas, meu tempo de ócio. Movem minha
consciência, que não me dá sossego.
Acabo de
parir essa dor. Agora, neste texto, em que peço perdão ao Sr.Gato, pela
covardia de não descer e lhe dar um funeral.
Ainda assim,
as dores do sentir caminham comigo, mesmo essas.
Ah! os
amenos...são sempre gentis, são generosos, bondosos e ajustados. Sim, o mundo
precisa deles. E são muito racionais, sabem os pesos de suas emoções. Sentem
e amam com gentileza. São aquelas pessoas bonitas, que admiramos pela
frequência cardíaca regular.
Mas, não
posso deixar de sentir um certo pesar de imaginar alguém sem paixões. Alguém que não se deslumbra com um personagem de livro, com uma gota d'água em pétala de flor e não fica completamente emocionado por um bom filme. Aquelas pessoas que sentem mansinho, que desmancha no ar e que racionalizam o
peso da emoção, o quilograma da alma.
Tudo bem,
elas estão certas, eu devo ser louca. Porque trago o coração na mão, na
garganta, na vida, na boca!
...e vai ser
assim sempre!
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