quinta-feira, 12 de maio de 2016

Aquela gente amena




Tenho empatia e pena dessa gente amena, sempre gentil e plácida, que nunca tem um arroubo de sentimento, seja ele raiva ou paixão. A raiva, a dor - o amor - e  a paixão movem a arte. 
A arte vê outros horizontes, cria suas próprias paisagens para sobreviver. Encontra um ou outro jeito de transbordar ou transgredir, porque não "SE" cabe.
Dia desses, passei de carro com uma amiga e vi um gato caído no chão, morto. Ela viu um ''atrapalho de trânsito'', eu vi um gatinho, branquinho e lindo, morto no asfalto. E na margem, outro semelhante, a olhar o amigo inerte...senti que éramos tão parecidos na dor! A reação é de bicho, então porque eu teria direito a ser retirada e enterrada e aquele gatinho não? E seu amigo, ou seu 'parente', ali, imóvel...a testemunhar nosso desdém.  Pedi perdão ao Sr. Gato por minha inércia. Não soube o que fazer. Mas senti suas dores o dia inteiro. 


Ah! as dores de sentir...
Elas assaltam minhas madrugadas, minhas caminhadas, meu tempo de ócio. Movem minha consciência, que não me dá sossego. 
Acabo de parir essa dor. Agora, neste texto, em que peço perdão ao Sr.Gato, pela covardia de não descer e lhe dar um funeral.
Ainda assim, as dores do sentir caminham comigo, mesmo essas.
Ah! os amenos...são sempre gentis, são generosos, bondosos e ajustados. Sim, o mundo precisa deles. E são muito racionais, sabem os pesos de suas emoções. Sentem  e amam com gentileza. São aquelas pessoas bonitas, que admiramos pela frequência cardíaca regular.
Mas, não posso deixar de sentir um certo pesar de imaginar alguém sem paixões. Alguém que não se deslumbra com um personagem de livro, com uma gota d'água em pétala de flor e não fica completamente emocionado por um bom filme. Aquelas pessoas que sentem mansinho, que desmancha no ar e que racionalizam o peso da emoção, o quilograma da alma.
Tudo bem, elas estão certas, eu devo ser louca. Porque trago o coração na mão, na garganta, na vida, na boca!  

...e vai ser assim sempre!





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