quinta-feira, 1 de maio de 2014

Tradicionalmente...

Esse espaço foi criado para os momentos non senses e 'insônicos' - quiçá ultrassônicos desta que vos posta. O tempo, as modificações de vida e rotina, deram à lua uma sinergia particular, e ela precisou dormir. Mas hoje, o tradicional " A lua não dorme" está aqui, digredindo e poetizando no horário nobre do blog: Madrugadas!





Hoje, saí pra ver o céu cinzento lá fora, sem estrelas, sem lua, sem vaga-lumes. O céu, uma bonita aquarela de cinzas, tons tão vários, inomináveis.É, o senhor do pincel borda paisagens únicas, cada forma de olhar e perceber a pintura é realmente íntima. Eu....vi um céu múltiplo, ainda que na variedade de uma mesma cor. Maré cheia e vida enlouquecida: Pressa no trânsito, pessoas,pessoas, pessoas... Pessoas, pessoas! 

Entendi melhor aquela música "Pela janela, vejo fumaça, vejo pessoas". Penso que é a janela da alma, pois foi a percepção -minha- deste passeio ao mundo. No embaçado do traquejo social, não vejo muito dessa coisa de estar acompanhado: é a clássica do Nietzsche "Detesto quem me rouba a solidão sem em troca oferecer verdadeira companhia". Por isso, talvez, não veja diferença entre estar em um local público ouvindo meu blues, rock ou mpb ou em casa, com meus livros e poesias - e as mesmas boas e (e)ternas notas musicais. 

Vi curiosidade maldosa, curiosidade inocentemente maliciosa, empatia de "eu te entendo" de quem não preciso e não compartilho da opinião - porque tudo que é amor envolve a proteção do vivenciado. Percebi que estar e lidar consigo e com sua própria solidão ou companhia (porque é preciso fazer companhia para si- e a isso se chama vida interior),parece ser realmente uma dificuldade natural do ser humano. Como a curiosidade alheia, muito bem administrada, pois eu, ainda que sob luzes artificiais, mantenho-me vaga-lume. 

Não vejo como pior ou como melhor essa forma de encarar o tempo, a vida, e a nossa evolução ou permanência. Penso que é belo o poder da escolha. Li em mentes bondosas a ausência de uma certa paisagem e percebi a empatia no trato, no gesto. Aí me recordei o quanto "a humanidade é desumana, mas ainda temos chance". Bondade alheia, despretensiosa. Prezo isso e tento, tento mesmo exercitar. Não li algumas coisas que gostaria de ter lido...nas entrelinhas da vida. É, preciso do literal, pois sou literalmente viva e tão de literatura. Mas...entendo. 

Desfolhei um pouco sem desprender. O que isso quer dizer? que mantenho a fé de que o amor tem diversas faces e meios de se fazer presente..."tudo que move é sagrado". E, como fui feita  de um delicado material artesanal que pulsa, tudo é tempo...tempo,tempo. Lento ou acelerado. Deixo ao sabor do senhor do vento... Mas gosto dessa lentidão macia. Do processo. De estar aqui, precariamente existente. Feito esse céu de tantos cinzas! - Que vai amanhecer em água, regando a vida.



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