quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Tempos Macios



Um tempo para respirar poesia por dentro, tomar banho de rio, rir com as amigas de piadas bobas, gritar 'obrigada' na janela, quando toca Belchior na 96,9.
Um tempo para espalhar os novos livros pela cama, atualizar as leituras atrasadas, não ler nada que não seja por prazer, um tipo de hedonismo emocional temporário: cobrir a alma de mimos.
Uma abertura na fenda obrigacional da existência na fase adulta: Só cumprimento se gosto, só vou a algum lugar se me fizer feliz, saio do que incomoda, só fico perto de quem importa. Não devolvo na mesma moeda a agitação do trânsito, não devolvo na mesma moeda: Pode ficar com o troco, vida. Eu levo o desaforo para casa, sirvo-lhe vinho, embriago-lhe e ele vira um bicho manso, acho que se chama tranquilidade. Depois, suavemente solto, já não é mais um bicho machucado, mas um sentimento alado: voa.




Não penso, não planejo,não racionalizo. Confio, entrego ao universo. Um tipo de meditação contínua, de confiança no infinito, na sabedoria transcendental de quem me trouxe à vida, uma ausência de fome e um prazer enorme em tomar um sorvete de cupuaçu,castanha e coco, enquanto cai essa tarde macia.


Macia! Uma tarde macia, um tempo macio, uns segundos de própria companhia, para bem viver minhas reticências e EtcéterasUm tempo para olhar os meus, suas cicatrizes e imperfeições, olhar meus joelhos ralados, conviver, coabitar sem conflitar com as diferenças. Ser grata, muito grata, por cada um e por mim, neste momento chamado presente.Um rehab emocional da agitação do mundo, que roda,roda. Uma indecisão sem pressa de escolher a direção, maré quieta. Um jeito diferente de agir para a vida, não re-agir,mas um sentir.


É, sei que esse tempo vai passar.


Que o emaranhado da vida, naturalmente, nos desalinha.Que, enquanto isso, na dinâmica do planeta terra, outras coisas se insurgirão, outros dramas, sentimentos, conflitos,decisões. Sei que a roda é gigante e pede movimento. Sei que o controle é remoto e não está em minhas mãos. Mas, a dona da história quer estar presente em cada vão momento de sua própria estrada...e é bom rimar com a suavidade, frear o frenético, desacelerar a rotação do globo, sair de órbita, escrever este texto em horário 'comercial'.
Eu espero que essa leitura possa amaciar seu instante, como esse sorvete derrete, doce,  dentro da alma, como esse vento sopra, gentil, como essa caneta sobre o papel...ou como essa chuva rala, que cobre esse final de tarde com um tipo de bênção prateada, que cai linda e mansa , escorrega por dentro de mim em forma de canção...#



LUZ!

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