Há uns meses ganhei da minha irmã um moleskine (caderninho de anotações usado por artistas,pensadores, poetas, enfim, gente que rabisca). O meu, segundo minha irmã, é um Jaceskine,rs. Não postarei o coitadinho, pois já rabisquei aquela coisinha todinha. Tenho um bocado de coisas (para o aluanãodorme ficar bem enfeitadinho de poesia ) a publicar, outras a guardar. Um verdadeiro relicário do instante – Como quase todo relicário.
Sua dedicatória é o que tenho de
melhor naquele depósito de mim: “Que a
Jaci converse muito com ela mesma. E que ela tenha com quem conversar”. Penso
muito sobre a dedicatória. É, converso muito comigo - é fato. Faço-me uma
companhia danada! Procuro livrarias e tomo cafés, vou à orla olhar o rio, sento
à janela do meu pequeno reino e imagino o que tem por detrás do céu. Procuro músicas antigas que amo, descubro novas formas de ouvi-las,
porque música boa é como amor. Aliás, tenho pensado muito
sobre música e amor, mas isso são outras páginas, ainda a desenvolver. Além
disso, assisto filmes, leio livros, formo coisas criativas, acresço meu
universo. Ou preguiço! Faço e refaço planos. Bem, como qualquer ser humano, sozinha, exercito meu universo desavergonhadamente.
Gosto de conversar. Já fui
voluntária disso, inclusive. Pretendo voltar. Conversar envolve escutar e, como
já disse Rubem, “Curso de escutatória” é difícil, poucos o tem. Renato Russo
disse que gostaria de ter alguém com quem conversar, que depois não use o que disse. É farta a procura por isso. E quase todos já foram/são essa pessoa, mas também seu inverso,
porque somos frágeis - só não é preciso
fazer disso um vício.
Tenho a sorte de ter as minhas
pessoas no mundo a quem confiar minha alma. Penso muito em quem não o tem- daí o retorno ao voluntariado. Sigo na tentativa de ser e
aprender cada vez mais o conselho de meu
amigo Rubem: para ter, é preciso ser. É preciso saber ouvir. É precioso escutar. A fala é a tentativa de
formar a ponte entre uma pessoa e a outra. Esse elo se completa na escuta. Li na internet que, quando as almas
estão distantes, para tentar alcançar uma à outra, gritam. Que o sussurro é a
proximidade. Fez todo sentido e recordou um pedaço do livro transformado em
cinema, “ Em algum lugar do passado”, que diz: “ O amor muito amado fala manso”.
Acresço: O amor muito amado conversa manso.
Dia desses, fui ao supermercado e cruzei com uma conhecida. - Oi,tudo bem? - Cordialmente. Ela respondeu o inesperado! ''- Muito melhor agora que... (isto e aquilo)''. Desabafou um pouco. Fiquei assustada, porque não estamos mesmo acostumados a ouvir a resposta sincera. Perguntamos por mera convenção social. Anseio por um mundo de mais pessoas - moleskine: aptas a ouvir ou receber a palavra, de verdade, feito estas páginas em branco, que de tão macias, recebem o pincel de minha emoção. Começo por mim. Quero falar e ouvir cada vez mais manso, esse é meu compromisso, firmado no moleskine velho, que tem andado comigo, enquanto exercito a tarefa de escrever e ouvir bem por dentro, quem sou.
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