segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Segundas e Janeiros II (devaneio em dia de Chuva)


Segunda começo aquela dieta. Janeiro, viro o calendário. Segunda, réveillon interno. Janeiro, multiplicação.
Quem inventou de cortar o tempo, já disse Drummond, teve uma genial ideia. Desde cortá-lo em ano, a fatiá-lo em semanas.
Segunda começo a ser mais paciente. Janeiro entro na ioga. Segunda, meditarei. Janeiro, evoluirei.
Vivemos de segundas a janeiros, sempre a reinventar um pouco do que queremos ser. Claro, a reinvenção é uma brincadeira sutil com a massa de modelar nossa escultura, gentilmente doada pelo senhor do pincel. Sempre reflito que quem precisa reinventar-se inteiro, decerto não gosta de si. Mas refletir e praticar resiliência (essa palavra tão em moda que prefiro falar no meu jardim, que floresce outras flores em mesmas raízes) faz parte do processo de ser humano. Sim, somos resilientes e resistentes, sobreviventes da batalha interna: conviver e melhorar.
Nasci em uma segunda chuvosa. Acordei,hoje...e chovia copiosamente, como quando meu pai entrou na maternidade para me ver,pela primeira vez. Ele disse: "Sabia que era uma menina!", pois, para brincar, dei de dizer que era um menino, na ultrassonografia, que era tão antiga quanto minha velha máquina de escrever. Agora, meus olhos veem máquinas diferentes do que os olhos dele viam. A escrita sobre a escrita: reinvenção entre o eterno e o agora.
Ainda sou aquela menina no colo do pai, em uma segunda chuvosa, pois somos eternos segundas e janeiros.  Mas temos todo um calendário  interno. 

E ,de todos os  janeiros, dias inteiros: é tudo agora.




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