quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Das coisas



Acabei de começar este fim de poema.

Estou abismada.
Desnorteada como o bebê
Que acabou de terminar a vida uterina
E sentiu o sol queimar os olhos.
Deslumbrada como a lagarta ao findar o ciclo
E criar estranhas asas enrustidas no corpo mole
Que lutou para sobreviver no casulo.

Estou sedenta.
Tenho a boca seca.
Como um viajante
Que findou longa caminhada.
Mas sonha com um oásis intocado
E quase pressente o sabor...

Estou ávida
Com a ânsia criativa da criança
Que escolhe  findar o branco nu da parede
E colorir de céu até perceber que o giz
o colorido giz que adornou seus dedos!
Findou para começar
A cor que nasceu noutro lugar...
.
Padeço de desconhecer o que finda
 e o que começa do que se termina
E, para minha tortura
E vejo beleza nas coisas 
em cada canto
E no silêncio.


E é o fim do poema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário