quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A Curva do Tempo (Devaneio n.01 )



A curva do tempo é engraçada. Chovia há dez minutos atrás. E quase que botei aquele cardigã listrado que ganhei da minha irmã. O que fez nascer esse devaneio. É que recordei a primeira coisa que disse só para mim, quando chegou: "é porque a vida é de ser assim". Disse isso porque comentei com ela como estava feliz, com os joelhos e cabelos sarados (e como o coração andava em paz). É, a tal da curva do tempo, quase sempre em nosso favor.

Na curva do tempo, as coisas ganham contornos de luz e sombra que nem sempre eram
previstas. Ou, quem sabe, até eram. O que me fez devanear sobre as coisas que aprendi com ela. Como fui criada para ser uma pessoa responsável com minha vida e com a dos demais, não sou muito auto-indulgente, então levo sempre um tempo para me desculpar, se faço algo que fere o mundo de alguém. Sou mesmo meu próprio carrasco, diversas vezes.  Na curva do tempo, aprendi a ter mais paciência, até mesmo com esse meu lado meio non sense, desacelerado.

Foi coisa da minha criação, à moda antiga. Fui criada para limpar os pés nas repartições públicas, cumprimentar desde o porteiro ao diretor com  o mesmo respeito (e não ver nisso nenhuma glória ou superioridade), passar de ano com o boletim "azulzinho", não riscar a "carteira" do colégio e comer verduras. Também fui educada para ter um bom português, com pouca gíria ou abreviações e, me perdoem se não escrevo "confra" OU coisa do gênero: quase vejo os olhos cinzas do meu pai, sobre mim, de imaginar isso. Junto a isto, devolvo o troco, peço perdão e tento agir com integridade máxima na minha profissão e isso não é mais do que minha mais perfeita obrigação. Tenho a impontualidade por defeito e déficit de aprendizado, admito.

Também li conceitos em dicionário, bula de remédio e interpretei diversas canções de MPB. E isso, na curva do tempo, me deu grande humildade, mas um certo gênio ''ruivo'' impetuoso, confesso. É que, graças à criação antiga, não sou muito "aí" para títulos, prezo muito o bom português e detesto arrogância, seja ela no âmbito das relações do dia a dia, seja em um debate filosófico.  Na curva do tempo, li bastante sobre a geração Beat e a coisa da "contracultura", o suficiente para hoje não gostar da expressão "cult", que é só um jeito de vulgarizar outras formas de conceber cultura ou de supervalorizar ou "intelectualizar" um determinado grupo. 
E o ruim é que, não tenho tantos "freios" na língua quanto gostaria e isso, às vezes, dói. Aliás, para qualquer tipo de dor, desde criança tomo cházinho (cólica, cabeça, coração), água com açúcar para ficar mais calma, faço suco de hortaliças e todas aquelas coisas meio místicas do universo de minha mãe.

Na curva do tempo, entre os livros de papai e as flores de mamãe, gostei de ser professora e , com a atividade aprendi que,quanto mais simples e direta puder falar, melhor envio a mensagem. É a coisa mais apaixonante que fiz com meu amor por leitura e oratória! Também gostei de jardinar  e ter horta caseira, como mamãe, onde frequentemente encontro com as amadas lições que recebi na MPB...como em drão, onde vejo nas flores do jardim, que o amor da gente é mesmo como um grão...e que esse é o natural e o extraordinário da vida.  
A curva do tempo, que se estende do meu coração e mente e hoje ganha curvas em meu riso, olhos, cabelos e pele, é a curva mais bonita, estrada que percorro quase sempre, sem pressa. 


Olho as curvas do meu pequeno reino, cheio de bonecas e livros. Percebo o quanto isso é parte mesmo da minha história. E fico a imaginar o que eu ainda vou encontrar! Por isso, tento ser coerente com meus sonhos.  É que a vida dobra e se redobra, feito um Origami bem detalhado e construído com o que a gente tem: se a mão for leve, as curvas saem delicadas! Nestas linhas feitas de papel e de água, fui ensinada que perdoar, inclusive a mim, não é não me responsabilizar pela falha,mas apenas libertar da dor, para poder seguir o aprendizado natural da vida. E que isso é justo, altruísta e necessário para construir a paz.
E que a paz, na curva do tempo, é a melhor amiga da FELICIDADE...


LUZ!

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