segunda-feira, 1 de maio de 2017

MEU CANTOR FAVORITO SUMIU DO MAPA (Parte VI - Pois dizem que não tem final)



Hoje, dia 30.04.2017, a Sociedade confirma a morte de Belchior.
Mas, não tratarei sobre isso. Nem sobre sua biografia. A sociedade – aquilo do qual tanto fugiu nosso cantor- tratará de fazê-lo.

Quero falar é de revolução. De um cara que saiu do Nor(des)te, correu a cidade grande, “ com os pés cansados e feridos de andar légua tirana” e que leu e conversou com Pessoa, Dylan, Poe, Caetano, Dante, João Cabral de Melo Neto, Bilac, Raul e tantos outros, através da tragédia metafórica de sua vida e arte.
Quero falar de um cara que fez da sua vida uma procura pela felicidade, antes de tudo o mais. Que deu uma ‘banana’ para o glamour vulgar que engoliu tantos talentos e aceitou o peso de ser inconformado. E da suavidade ao falar de amor…e da gentileza em dizer adeus…
E da forma como retratou o peso de uma geração. Da pessoalidade explícita em cada letra, do sentimento preso na dura rotina de uma juventude em guerra consigo, a loucura de sonhar, onde se vê tanto concreto, tanta gente de pedra. Em ser pessoa, mesmo quando a palavra já não soa bem…em ser maluco, vestir a roupa dos malucos, desaparecer, dar adeus ao showbizz,  como poucos malucos fariam.
Quero falar de vida, 'inteiramente livre e comovida', de erudição discreta, de preferência por ser do que aparecer, de manifestar do que cantar, de ter voz ativa, real, cortando os pesos do cotidiano com uma faca, através do canto. 
E de ironia fina, que desafiou a visão romantizada das grandes capitais, de inconformidade ideológica e  poética, de vida latente e arte no cotidiano. Por isso, quem ouve Belchior, não o cultua, senta-se à mesa: a pessoalidade de todas as canções evocam um "eu'' que fala direto com quem a recebe a canção. Ouvir Belchior é ser seu amigo, é filosofar em conjunto. É ser pessoa junto, naquele momento. Seu canto não convida à contemplação, leva o ouvinte à sua própria paisagem interna e passeia.
Sim, quero falar do meu cantor favorito que hoje, SUMIU DO MAPA, como já o fez antes.
E dizer que não acreditem se verem fotos dele em um ritual solene de adeus. Desconfiem, pois ele não era dado a essas coisas. E pedir que não façam da morte dele um espetáculo: ele já deu adeus a isso.
E, ademais,  não sei vocês, mas, ligeiro que era em fazer a diferença em qualquer lugar, suspeito que resolveu partir daqui, ir ter com John , Raul e tantos outros,  criar  um plano intergaláctico de revolução musical e criar  um tipo PAZ  mais legal do que apenas Harpas, lá pelo Céu.  Criar o "Céu dos malucos".
E não duvido que depois, entediado, vá fugir de lá também e passear pelas ruas de uma cidade qualquer, com a velha roupa colorida e o blusão de couro, tocando uma canção nova, em algum brechó ou boteco casual.
Por isso, enquanto eu estiver por aqui, vou manter meus olhos bem abertos.

Vai que uma hora ou outra, nas loucuras do universo, a gente se encontra.

LUZ, BELCHIOR!

*Corrigido, pois redigi chorando e não foi possível conferir  precisão gramatical, naquele 

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