Não queria sair, era quente seu primeiro lugar. Mas, quando abriu os
olhos pela primeira vez, deslumbrou-se. Haviam coisas e coisas a se
fazer naquela nova morada. Desafios primários: Andar, comunicar-se,
tatear o universo. Todos lhe sorriam, parecia bom.
Cresceu vendo rarear sorrisos, pessoas tornaram-lhe invisível, veja que contradição. Foi encaminhado a fazer o que lhe pediam: escola, ofício, obrigações. Sorrisos não espontâneos: Socialização.
Não tinha inquietações, ou melhor: quando as tinha, tratava de se analgesiá-las: Compras, gordura, açúcar, sal. Dominava suas sensações e relações, controlava seu tempo e cumpria religiosamente prazos.
Aprendeu que o amor era algo que lhe acrescia status: filho de ciclano,
marido de beltrana...não lhe deram a fórmula, que ensinaram da 'fôrma'
do amor. Não prestou atenção na moça de cabelos cacheados e olhos
esbugalhados de luz, no período maluco de seus vinte e poucos e a despeito de suas tardes felizes e horas malditas, casou com a filha de.
Constituiu:
Bens, diplomas, status, pessoas.
Usufruiu:
Sabores e calores mornos, afetos plásticos.
Nunca, jamais ficou uma tarde inteira contemplando um entardecer e desviava o passo para cumprir o aviso de para não pisar na grama. Encolheu sua alma até de instante em instante...não ter arroubo algum. Fez o que lhe era esperado e digno.
Morreu sem lágrimas, encolhido e mínimo . Inerte, como um bom cidadão.
Um filho da pátria pagador de impostos.
*Republicado de 2013, apenas porque foi acessado e relembrei como foi escrevêlo.
* Adaptado apenas quanto à 'diagramação' deste boteco.
LUZ!
Roteiro de vida de muitos que não rompem com o status quo! Ótimo recorte do cotidiano,Jaci!
ResponderExcluirOi Amiga,
ResponderExcluirEsse texto me fez ficar muito pensativa.Um conto bem real.
Beijos!