terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Arranjo do Fenecimento ( Por Manven Junius Franklin*)


assim que meu pai se foi 
levado pelos modos indolentes da morte 
girassóis petrificados ladearam as calçadas mornas 
da avenida magalhães barata

(os túneis de mangueiras 
que cobrem a avenida nazaré esmaeceram
e a brisa leve - que invariavelmente batia da baia -
tornaram-se borboletas mortas a compor o fim)

assim que meu pai se foi 
distorcido por ventos e brisas 
uma nuvem gris permaneceu estacionada 
em seu leito de extenuação

(a vidraça do quarto 
partiu-se em miúdos estilhaços de silêncio 
e minha mãe morreu um pouquinho 
simulando cuidar de seu jardim bordado 
de brinco-de-princesa)

quando meu pai feneceu 
eu morri um pouco com ele 
a cada dia que enevoava em meu alpendre de vidro

(era como se minha se alma 
estivesse atrelada ao seu boldrié 
a querer não largá-lo pela imortalidade)

quando meu pai feneceu 
eu naveguei por vales e cordilheiras da morte
até adormecer com o ocaso

(era como a lhe esperar regressar 
de seu voejo único
tal ícaro a se expor 
no firmamento)


*Marven é militante da Cultura da cidade de Oiapoque, participa da  Liga dos Escritores do Amapá (Alieap) e do Movimento Poético Boca da Noite, entre outros lugares aonde a poesia vai... e é um talentoso poeta amigo.

Essa poesia trouxe-me lágrimas aos olhos.

4 comentários:

  1. Sem palavras para expressar minha admiração por um poema com tanta poesia nele contida!! Encantada com tamanha sensibilidade e profundidade!! Magnífico!!

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  2. De imensurável beleza poética. Vagueio em meio as suas tristezas, com esse dom que o poeta tem de nos conduzir aos seus escritos, seja como for sempre passeio nos seus versos...

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  3. A poesia de Marven J. Franklin e' marcada por extraordinário lirismo. Aqui, uma alma se vai com o vento, e o estardalhaço da vida ao redor é então horizontalidade, entorpecimento e descoloração, feito flores inanimadas adornando a morte. O que em nós desperta não e' sentimentalismo. Luto, sim, perenemente, e a cada dia de alpendres enevoados, mas ainda assim o belo, a alma humana refletida em girassois petrificados e em borboletas que deveriam transmitir cor, movimento, vida (mas não agora), nas florezinhas bordadas sem sentido (reais ou imaginárias) e na esperança insistente de um impossivel retorno. “A vidraça do quarto partiu-se em miúdos estilhaços de silêncio e minha mãe morreu um pouquinho simulando cuidar de seu jardim bordado de brinco-de-princesa” Esse verso de enorme beleza, encheu meu peito e me fez transbordar os olhos. Bravo, Marven. (por Petronila Tavares)

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  4. A poesia de Marven J. Franklin e' marcada por extraordinário lirismo. Aqui, uma alma se vai com o vento, e o estardalhaço da vida ao redor é então horizontalidade, entorpecimento e descoloração, feito flores inanimadas adornando a morte. O que em nós desperta não e' sentimentalismo. Luto, sim, perenemente, e a cada dia de alpendres enevoados, mas ainda assim o belo, a alma humana refletida em girassois petrificados e em borboletas que deveriam transmitir cor, movimento, vida (mas não agora), nas florezinhas bordadas sem sentido (reais ou imaginárias) e na esperança insistente de um impossivel retorno. “A vidraça do quarto partiu-se em miúdos estilhaços de silêncio e minha mãe morreu um pouquinho simulando cuidar de seu jardim bordado de brinco-de-princesa” Esse verso de enorme beleza, encheu meu peito e me fez transbordar os olhos. Bravo, Marven. (por Petronila Tavares)

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