assim que meu pai se foi
levado pelos modos
indolentes da morte
girassóis petrificados
ladearam as calçadas mornas
da avenida magalhães barata
(os
túneis de mangueiras
que
cobrem a avenida nazaré esmaeceram
e
a brisa leve - que invariavelmente batia da baia -
tornaram-se
borboletas mortas a compor o fim)
assim
que meu pai se foi
distorcido
por ventos e brisas
uma
nuvem gris permaneceu estacionada
em
seu leito de extenuação
(a
vidraça do quarto
partiu-se
em miúdos estilhaços de silêncio
e
minha mãe morreu um pouquinho
simulando
cuidar de seu jardim bordado
de
brinco-de-princesa)
quando
meu pai feneceu
eu
morri um pouco com ele
a
cada dia que enevoava em meu alpendre de vidro
(era
como se minha se alma
estivesse
atrelada ao seu boldrié
a
querer não largá-lo pela imortalidade)
quando
meu pai feneceu
eu
naveguei por vales e cordilheiras da morte
até
adormecer com o ocaso
(era
como a lhe esperar regressar
de
seu voejo único
tal
ícaro a se expor
no
firmamento)
*Marven é militante da Cultura da cidade de Oiapoque, participa da Liga dos Escritores do Amapá (Alieap) e do Movimento Poético Boca da Noite, entre outros lugares aonde a poesia vai... e é um talentoso poeta amigo.
Essa poesia trouxe-me lágrimas aos olhos.
Essa poesia trouxe-me lágrimas aos olhos.
Sem palavras para expressar minha admiração por um poema com tanta poesia nele contida!! Encantada com tamanha sensibilidade e profundidade!! Magnífico!!
ResponderExcluirDe imensurável beleza poética. Vagueio em meio as suas tristezas, com esse dom que o poeta tem de nos conduzir aos seus escritos, seja como for sempre passeio nos seus versos...
ResponderExcluirA poesia de Marven J. Franklin e' marcada por extraordinário lirismo. Aqui, uma alma se vai com o vento, e o estardalhaço da vida ao redor é então horizontalidade, entorpecimento e descoloração, feito flores inanimadas adornando a morte. O que em nós desperta não e' sentimentalismo. Luto, sim, perenemente, e a cada dia de alpendres enevoados, mas ainda assim o belo, a alma humana refletida em girassois petrificados e em borboletas que deveriam transmitir cor, movimento, vida (mas não agora), nas florezinhas bordadas sem sentido (reais ou imaginárias) e na esperança insistente de um impossivel retorno. “A vidraça do quarto partiu-se em miúdos estilhaços de silêncio e minha mãe morreu um pouquinho simulando cuidar de seu jardim bordado de brinco-de-princesa” Esse verso de enorme beleza, encheu meu peito e me fez transbordar os olhos. Bravo, Marven. (por Petronila Tavares)
ResponderExcluirA poesia de Marven J. Franklin e' marcada por extraordinário lirismo. Aqui, uma alma se vai com o vento, e o estardalhaço da vida ao redor é então horizontalidade, entorpecimento e descoloração, feito flores inanimadas adornando a morte. O que em nós desperta não e' sentimentalismo. Luto, sim, perenemente, e a cada dia de alpendres enevoados, mas ainda assim o belo, a alma humana refletida em girassois petrificados e em borboletas que deveriam transmitir cor, movimento, vida (mas não agora), nas florezinhas bordadas sem sentido (reais ou imaginárias) e na esperança insistente de um impossivel retorno. “A vidraça do quarto partiu-se em miúdos estilhaços de silêncio e minha mãe morreu um pouquinho simulando cuidar de seu jardim bordado de brinco-de-princesa” Esse verso de enorme beleza, encheu meu peito e me fez transbordar os olhos. Bravo, Marven. (por Petronila Tavares)
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