domingo, 20 de novembro de 2016

Ele!

Ele usava camisa quadriculada, gostava de Chico, Cartola e Belchior e era um sonhador. Entre as cadernetas rabiscava pequenos ou longos monólogos, que logo virava um debate, na sala de aula, seu ofício, ou com as filhas.

Ele usava camisa quadriculada, era risonho e tímido, mas um perfeito irônico, boêmio apaixonado e um mulherengo discreto, da nata da malandragem que viveu muitos carnavais. Andava com a foto da mulher amada, que não o seguiu pela vida, porque convenhamos, ele não nasceu para ser um marido.

Ele usava camisa quadriculada, quase sempre verde, azul ou cinza e era um bom pai e um excelente amigo. Debaixo da camisa quadriculada, batia um coracão selvagem e questionador, que não era bom em controlar a emocão, mas que bem que era bom em senti-la. Ele fez minha casinha na árvore com as próprias mãos e me chamava de burra se eu tivesse preguiça de aprender,mas depois me recompensava com a melhor explicacão e o melhor olhar de admiração quando eu terminava algo difícil ou conversava política, filosofia ou um livro novo.

Ele usava camisa quadriculada e trazia poesia debaixo dos olhos cinzas, que mudavam de cor, quando estavam tristes. E tinham íris violetas. Tinha o papo reto e interessante e uma inteligência malandra e humilde, não passava por cima de ninguém, era honesto se não gostasse de uma pessoa e leal se a amasse.  Ele pescava aos domingos e frequentemente cozinhava para nós, assoviando um sambinha, no outro final de semana. 

Ele usava camisa quadriculada, tinha leitura variada, escolhia seus amigos sem saber de sobrenomes e era um sonhador nem sempre prático, capaz de tirar a camisa e rolar no chão na porrada, por um ideal ou uma de nós. 

E porque ele nunca sai do meu coração e nunca (jamais!) o esquecerei, que às vezes uso uma de suas camisas quadriculadas e sinto bater em mim o seu velho coração.

Eu te amo, meu pa(i)ssarrinho.
Feliz Aniversário.
O nosso amor existe para sempre. <3 

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