terça-feira, 19 de julho de 2016

Ipê!


A menina de pés descalços, cata flores do chão de giz, céu da vida. Não gosta  de colhê-las, crê no tempo da força criadora. Gosta de vê-las cair, livremente, ao sabor dos ventos do agora.
Ela é o instante. O rio que sopra, as doçuras pequenas da vida, a evolução lenta, das águas que bateram na pedra dura até amaciar a alma...
A menina contempla. Tem um força que emana e a vida chama, nunca igual: ela já viu aquele mesmo ipê nu, livre das amarelas folhagens da primavera. Sabe e sente só de tocá-lo. Estação. Desfolhar, recriar-se da raiz... essa sim, sólida! 
Está adulta (ela e o ipê), apesar dos lacinhos de fita nos cabelos ou do chapéu branco - seu favorito. Agora, é uma mulher jovem, dona de si. Aprendeu a deixar-se desfolhar e receber-se inteira, até com recibo da vida. Contempla  sua aldeia e as cores do fim de tarde e sente suavemente o poema-existir.
E sabe cair, ao sabor dos ventos de rajada. E sabe levantar, com sua própria firmeza interior. E sabe que agora,mais do que nunca, a vida é de quem respira fundo e macio...e trata de ser e receber o presente.
Cada dia mais, as coisas parecem coloridas, longe do cinza dos filtros. Sim, a vida é fragrante, um arco de cores e perfumes constantes... e ela  só no começou.


“O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos..." 

 Em homenagem ao Rubem Alves e sua partida do mundo, 02 anos.

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