Senta ai, meu amigo/amiga, com quem compartilho essas letras longas, nessa estrada chamada vida. Desculpe a informalidade do convite. É madrugada e essa maluca aqui não consegue dormir depois de 'terminar' a série ''Lie to me'' e precisa conversar sobre a proposta do título e tudo o mais
LIE TO ME - Minta para mim!
Por motivos que nem sou capaz de explicar, esse botequim chamado vida real serve a gente de muitas formas de distorção da realidade: hipocrisia, fofoca, maldade...faces despertas de um lugar chamado mentira, que nos alcança, às vezes, vestida de credibilidade. É difícil ver além da máscara, não é? Já diria Humberto: "visão de raio x, o X dessa questão é ver além da máscara"...
Li em Etimologia de Mentira – Origem do Conceito, que a palavra 'mentiri' vem do latim vinculado à mente ( que deve ter dentro do seu cabeção) e " faz alusão à construção de uma falsa realidade a partir de saberes firmes, considerando que toda deformação da verdade é uma construção da mesma''.
Então, como será que seria o mundo, se a humanidade não tivesse a habilidade do raciocínio silencioso, dessa construção mental interior, que pode ser deformada e antecede à palavra? Não, não falo da irracionalidade. O que quero dizer é, como seria as pessoas e a convivência no mundo, se não houvesse o poder de 'guardar para si'? Se a gente fosse só externo, se o ato de pensar fosse concomitante a 'dizer'? Ou ainda, que a gente até pudesse pensar em silêncio, mas não tivesse a habilidade de 'mentir'?
Eu sei, tu achas que cheguei atrasada nessa divagação. Afinal, a Comédia " O mentiroso'', com Jim Carrey, já tratou disso. Porém, veja, foi em uma perspectiva mais restrita, pessoal, onde apenas o 'mentiroso' perdeu a habilidade de 'esconder' dos demais suas atitudes, graças a uma espécie de magia, feita por seu filho, cansado de ser decepcionado.
E se isso tivesse acontecido desde o princípio, com todos os seres humanos, como teria sido nossa evolução?
Bom, para começar, séries como 'Lie to me' não existiriam, o que seria uma tragédia (risos). Mas, sem brincadeira, provavelmente a raça humana não teria 'evoluído', desenvolvido nações, organizações sociais complexas, com fenômenos tão interessantes, ainda que ambíguos, como a política.
Li algo sobre a função social e psicológica da mentira. Fui resgatar, mas não encontrei, porém na web é possível achar alguns estudos bem bacanas e alguns até explicam e motivam a necessidade da mentira.
Na língua portuguesa, o antônimo da mentira, adivinhe? é a verdade. Geralmente, na fala, associamos à sinceridade, cuja acepção da palavra remonta aos romanos, quando se dizia que uma peça de arte, não manipulada, estava "sine cera", ou seja, sem cera, sem falseamento do estado real. Particularmente, acho que é uma forma de integridade, porque demonstra inteireza.
Na língua portuguesa, o antônimo da mentira, adivinhe? é a verdade. Geralmente, na fala, associamos à sinceridade, cuja acepção da palavra remonta aos romanos, quando se dizia que uma peça de arte, não manipulada, estava "sine cera", ou seja, sem cera, sem falseamento do estado real. Particularmente, acho que é uma forma de integridade, porque demonstra inteireza.
Por outro lado, nunca conheci alguém que não tenha mentido. Certo que alguns com mais facilidade que outros. Aliás, minha dificuldade em esconder o que penso ou sinto, é frequentemente entendida como 'infantil'. Quer dizer, se o parâmetro de 'adulto' seja este, de agora.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg34SNsmwt5TRnR_YteVaBwiWpthHwD_t6NghjIYvDpySYA9cPbnYGEaKl421LsfDkpzjK9Cfcr7s3Zw9O0DuD_V-AKBJ071hCjyXoEeP8CW6QeQcM1f9TFolwh-3cc6eymUYN0P_9sgCSB/w225-h172/pin%25C3%25B3quio.jpg)
Já pensaste que as pessoas para quem menos mentimos são provavelmente aquelas que mais amamos? é que quanto menos a gente precisa se esconder de alguém, mais confiança temos nela. Aprendo cotidianamente que, quanto menos medo e mais verdade dentro das nossas relações, mais união. É que amor é construir pontes, não 'muros'. Muros isolam, foram criados para delimitar 'propriedades' e definir 'pertencimentos'. Pontes unem caminhos.
Afinal, o mentiroso vive de migalhas da realidade ou, no mínimo, serve ao outro estas mesmas migalhas. Seja por impulso, seja por poder, afinal, a palavra dita pode ser um 'discurso' e uma distorção da realidade pode ser um mecanismo de manipulação em favor de.
Como somos singulares, nos utilizamos do recurso de forma diversa, é claro. De todos, o mais perigoso para mim, é o perverso, que quer chamar o outro de 'maluco' por perceber a mentira ou que hostiliza o outro e se ofende por este não acreditar em sua mentira, que deveria estar revestida de sua imaculada credibilidade...Meu Deus. Que doidice.
Bom, graças ao fato de que não somos apenas 'externos' e temos a habilidade de fazer construções mentais e nelas, inclusive mentir, todos vão lidar com a responsabilidade desse dom que é viver, seja na espiritualidade, seja nas rodas tortas da engrenagem existencial, a bendita roda da vida.
Quanto a mim, espero que aonde quer que Deus esteja, talvez aqui ao meu lado, talvez colando vitrais com meu amigo Rubem Alves, em uma madrugada bonita como esta, que se sinta orgulhoso, pois não faço da mentira uma veste para me fazer 'mais forte'. Aliás, nem creio que ela nos faça. Afinal, a vida, como disse o Velho Buck: "she´s mad but she´s magic. Theres no lie in her fire'.
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* Republicada, pois foi acessada. Mas ajustada, porque a editora achou que precisava.
* Este texto não é uma indireta digital (a moda do covarde moderno), mas sim uma divagação sincera sobre o papel da mentira na vida, feita após uma série que, para mim, foi sensacional assistir. Todos mentimos. Mas, pergunto: Sem o impulso da veste da virtude, que tipo de mentiroso é você?
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