Recordo como eram bonitos os
quintais sem muros e as enormes árvores, entremeando caminhos que levavam a pequenos
paraísos, na 'minha' velha Santana. Não à toa, o bairro ganhou o nome de Paraíso. Lá moravam "olhos d´água'', que hoje sei, são as chamadas áreas de ressaca ou áreas de resfriamento da cidade.
Mas, a verdade é que nunca foram
isso. Eram pequenos oásis, em meio ao nada. Não nasceram para “resfriar” a
cidade, que visão mais antropocêntrica. Existiam antes da cidade! E a molecada se
divertia, às escondidas das mães. Jogavam uma água danada uns nos outros. Era
moleque sujo para todo lado, na volta, para encontrar suas mães, ávidas pelo
toque das sandálias. E elas “cantavam”.
Confesso que me aconteceu pouco. Coisas da vida. Mas ouvia
a ladainha “entoar” pela vizinhança, junto aos gritos da primarada. Apesar de danados, ninguém virou infrator.
Brincávamos também de queimada.
De pira-pega. Que pique-esconde. De pira-alta. As meninas, de elástico e
amarelinha.
Se alguém ficasse gripado, na minha família, tomava remédio de mel,copaíba e limão. Biotônico era coisa de rico. Tomávamos 'batidas' exóticas, feitas com ervas daqui. Um exemplo: Mastruz com leite moça, para 'lombriga'. Se tivéssemos febre demorada, éramos levados para aquelas velhas mágicas, as senhoras sábias da floresta,'benzedeiras' da cidade.
Se alguém ficasse gripado, na minha família, tomava remédio de mel,copaíba e limão. Biotônico era coisa de rico. Tomávamos 'batidas' exóticas, feitas com ervas daqui. Um exemplo: Mastruz com leite moça, para 'lombriga'. Se tivéssemos febre demorada, éramos levados para aquelas velhas mágicas, as senhoras sábias da floresta,'benzedeiras' da cidade.
Mas, saudáveis, os dias eram cheios de grandes excursões e éramos os navegadores em
busca da descoberta do Brasil, pelos territórios sem limites de uma
cidadezinha ainda por se descobrir, como cada um de nós. Recordo disso com grande
felicidade.
Na adolescência,mudamos para Macapá, nossa pequena "cidade grande". Mas confesso que, cada pequeno pedaço daquela história que ficou lá atrás, de uma cidadezinha de céu muito estrelado, ausência de muros e asfalto, onde as pessoas dormiam com as janelas teladas abertas para a noite e as suas madrugadas, ainda faz meu coração bater forte.
Qualquer pequena coisa que faça recordar aquelas ruas de terra batida e casas com quintais cheios de árvores frutíferas e mistérios profundos, onde crianças corriam em busca de incríveis descobertas, fazem nascer em meus olhos igarapés de saudades. E deixam uma certa tristeza no ar, por aqueles pequenos oásis, que desapareceram com o tempo, para dar espaço a um senhor imperioso, que alguns chamam de capital, outros de (SUB)desenvolvimento.
Há muitos anos não sou a menina da cidade de Santa Ana, que recebeu meu avô, tios e mãe com generosidade. Mas é porque fui criança embevecida por aqueles céus estrelados,com pouca boneca e muita natureza, que cresci e gostei de ler, conhecer outros mundos, desenvolver a escrita. Sei que foi para voltar lá e passear pelas margens dos igarapés que meus pés deixaram pra trás, naqueles quintais sem fronteiras!
Qualquer pequena coisa que faça recordar aquelas ruas de terra batida e casas com quintais cheios de árvores frutíferas e mistérios profundos, onde crianças corriam em busca de incríveis descobertas, fazem nascer em meus olhos igarapés de saudades. E deixam uma certa tristeza no ar, por aqueles pequenos oásis, que desapareceram com o tempo, para dar espaço a um senhor imperioso, que alguns chamam de capital, outros de (SUB)desenvolvimento.
Há muitos anos não sou a menina da cidade de Santa Ana, que recebeu meu avô, tios e mãe com generosidade. Mas é porque fui criança embevecida por aqueles céus estrelados,com pouca boneca e muita natureza, que cresci e gostei de ler, conhecer outros mundos, desenvolver a escrita. Sei que foi para voltar lá e passear pelas margens dos igarapés que meus pés deixaram pra trás, naqueles quintais sem fronteiras!
Jaci Rocha
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