terça-feira, 14 de agosto de 2018

"Querido Problema, obrigada por me amar!" (Resenha Sentimental do filme "amor e outras drogas")


Ela era frágil, debaixo da casca de garota bem resolvida, bonita e cosmopolita. Ele era humorado e um tanto cretino. Ela tinha uma doença incurável. Ele, um emprego promissor que dependia do investimento de tempo. E, juntos, eles tinham amor, esse complicador natural e o único verdadeiro antídoto para a 'droga ' das relações humanas.
Mas, advirto: essa não é uma resenha descritiva. Tampouco contém mais spoiler do que pode ser encontrado em uma Sinopse de contracapa. Essa é uma viagem sentimental pelas nuances do filme “Amor e outras drogas” e pelas nossas próprias tantas subjetividades.


Ainda estou sob o efeito inebriante das  verdades e dos conflitos do filme "Amor e outras drogas". 

Primeiro, porque apesar de ser uma comédia romântica, levanta uma perspectiva filosófica implícita que fica debaixo de nossos olhos/emoções: O QUE VOCÊ AMA, QUANDO DIZ QUE AMA? Você ama um corpo sensacional, capaz de te dar prazer? ama um endereço, um projeto, um perfume, uma característica, um potencial… O que você ama, quando diz que ama?


É nesta perspectiva que o filme apresenta um jovem casal que se apaixona, tendo por pano de fundo a tragédia de uma doença incurável. Um enredo sensível, cheio das subjetividades e medos que todos sentimos:  Quando eu não for útil para você, você ainda vai me amar? Quando você não puder alcançar toda a dimensão da utilidade do que espero ou preciso, ainda irei te amar?

Enquanto passeava por essa subjetividade no filme, refleti que, se o  amor é uma procura, é também uma resposta e tudo o mais que quisermos que seja. E  sabe se vestir de muitas formas. Rubem Alves, em “Retratos de Amor”, diz que amamos o retrato do outro, logo, amamos a projeção que fazemos na face amada, não propriamente o sujeito, objeto desta, por isso conclui : “antes de te conhecer, eu já te amava”.
Mas, e quando aquela alma teimosa rasga o tecido fino das projeções e se insinua em nossa vida, rotina, a ponto de produzir em nós inseguranças ou sentimentos indesejáveis, como decepção, tristeza, contrariedade?
A liquidez dos sentimentos, na modernidade, tão advertida nas lições de Bauman, demonstram que, dentro de tantas infindas possibilidades, muitas vezes os sentimentos são permeados do sentido de utilidade.  
O filme, na contramão desta realidade, nos convida a receber outra mensagem:  AMAR é mais.  Requer um compromisso com o outro em suas singularidades, encantos e escuridões.  
 Aliás, como vemos na fala emocionada de um dos personagens principais:  “Sabe aquele casal que existe em uma realidade paralela?Aquela você saudável e o eu perfeito, que planejam férias e apenas se preocupam com um ou outro dia de mau humor?…pois é, eu não queria ser esse casal”.

Então, esse foi o sentimento, ao final do filme, em relação a familiares e amigos:  Querido problema, Obrigada por me amar! Por escolher as minhas subjetividades para unirem-se às tuas. 
Ah!....e o meu desejo, a você que me lê,  é:  o encontro com o AMOR, aquela coisa mágica, que transcende utilidades. E que seja mais do que lindo...seja humano. Com toda a complexidade que representa.


Veja o filme sempre que quiser/precisar lembrar que o amor...é mais!

*Republicado. 



LUZ!

LUZ!

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