quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Eu, que não aprendi a rezar (Reza Pagã)

 



Eu, que não aprendi a rezar...

Pesco palavras no cotidiano
Só para explicar ao tolo coração
Por onde a  vida,  imperiosa e bonita
arrasta sonhos no correr dos anos...

Busco no azul a linha dos enganos!
Delinquente sentimental,
Ficha corrida de pequenos delitos emocionais
Por sustentar amor demais...

Mas, M.M Juiz, 

Anjo decaído de um tribunal de exceção!
Não queiras mesmo explicação
Para o doce do Amazonas ou o sal do mar
Condena-me ao verbo: (perpetuamente) amar!

eu, que não aprendi a rezar.

#


LUZ!


*Dias claros. :)

Poema republicado, porque foi acessado e gostei de tê-lo escrito.

A Pele da Memória

 


  
Não é preciso entender:
A pele conta sua própria história
Dispensa apresentações:
Reconhece iguais pela memória...
 
Feito canção: toca-me
Entoa também no meu ouvido
Tudo diferente e tão igual:
Sabor, pele, gemido...
 
Espelhado o rosto presente
Dormiu no peito da minha mente
Noites adentro, no espaço do tempo
Carne pulsante, latente - pensamento.
 
Desisto: te puxo pra perto
Vilões e heróis são meras percepções
Apaga a luz para acender o melhor de nós
- As emoções!
 
Disco arranhado, eterno retorno:
 
Não é preciso entender:
A pele conta sua própria história
Dispensa apresentações,
Reconhece iguais pela memória...

#

 Feito para essa música e vinda dela, inclusive.

 

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Quando eu era jovem o suficiente


...Quando eu era jovem o suficiente para acreditar que as nuvens eram de algodão doce, não dormia à noite, pensando em um jeito de chegar lá. E eram noites incríveis aquelas, regadas a música, lirismo e um bom livro ( tu sabes que só se vai ao céu,amigo, pelas páginas encantadas de um livro ou de um amor).
...
Quando eu era jovem o suficiente para acreditar em contos de fadas, podia gastar a vista de tanto ler sabrinas, julias, escondidas dentro de um livro de Stephen Hawking, que era meu jeito de misturar paixão e filosofia, longe de Kafka ou Jane Austen. Hoje brinco com minha própria Júlia e com Ana, e elas sim, sabem renovar minha fé...
...
Quando eu era jovem o suficiente, não apertava a mão de quem não apreciava e virava o rosto mas não cumprimentava gente chata, para a vergonha e horror de meus pais, irmãos, tios e amigas...
...
Quando eu era jovem, tomava banho no igarapé da fortaleza e depois fazia castelos de argila, que é a areia do nortista - e rola um fuxico que é também a matéria com que Deus nos fez.
...
Quando eu era jovem tinha certezas, deitava no asfalto e sentia as gotas de chuva caírem no rosto, não misturava manga com leite nem sob decreto e chamava todas as pessoas mais velhas de "Tio".
...
Quando eu era jovem, ligava para meu pai, quando me faziam chorar e às vezes, podia vê-lo aplicar a sua justiça pouco convencional - de onde aprendi a amar anti-heróis.
...
Ah! Quando eu era realmente jovem, tinha um plano, um plano mesmo, todo certinho, de vida, um projeto bem 'grandão' a ser executado. Tinha pouca memória, muita ansiedade e  a bagagem cheia de  certezas.
...

Hoje, rabisco lembranças, faço planos menores, sou feliz no agora e ainda acho graça, enquanto revejo e refaço planos e agendas.

E cuido com zelo e apreço minha feliz coleção de perguntas.

#

* Republicado.

O Preço

 




Não me coloquei à venda
Nem pela farinha do ócio
Nem pela manteiga do pão
Não fiz escárnio do sonho de ser gente

Sequer confio na socialização!

Não pago o preço da tua palma aberta
e nem preciso de afeição teatral
Não pego a vaga de indigente
Na tua representação desleal

Não finjo afetos, sigo no que acho certo
Pago para ver, dou a cara a tapa
Não tenho métrica para medir a alma
Desconheço o exato custo por me ser

De entender inutilidades
Faço mil anotações para desaprender...

Não, eu não mercantilizo nenhuma forma de amor ou prazer

Não cultuo o teu deus: o Poder.
E nem gasto saliva apenas para emitir som, 
Dou à palavra o respeito à uma entidade mágica, fluída liberdade
Que voa, transmuta em borboleta

E dança no cio da primavera...

Volto todos os dias para a mesma casa: peito calmo, descanso 
Esse campo sagrado de sonho e de bem-viver: águas de remanso.
O meu prato de cio  sirvo à poesia do dia - limpo alimento.
E, por todo lado, a minha alegria 

Está na 'dor e delícia' de ser quem eu sou...

#


Porque eu sigo assim, os dias são mais leves...


O Poder da Gentileza!

                                     


Gosto muito da filosofia implícita que originou cada palavra de nossa língua materna. Penso que cada uma delas quer dizer muito mais do que simplesmente é...basta consultar sua história. Por exemplo, hoje é o dia nacional da Gentileza, uma das minhas palavras preferidas.

Gentileza é palavra oriunda do latim “Gen”, que significa conjunto de pessoas que possuem origem em comum, ou “Gentilis” , aqueles que são de mesma família ou clã. Assim, ser gentil é tratar como igual como igual, ou... ‘como gente’. A palavra tem também um antônimo em latim,  ‘gentios’, que significa ‘estrangeiro’.
O conceito evoluiu dentro deste contexto de honradez, com acepção mais ampla do que a mera cortesia (atos da corte). A cortesia é ato, fração externa da atitude. Gentileza é gesto, carícia  humana, parte essencial à formação de um bom caráter.
Portanto, para mim, é gentil quem tem gestos de bondade, de respeito e de proteção ao Universo individual que é ser humano. É gentil quem preza a honestidade, quem vive de acordo com que acredita, quem ama e dá amor como deseja ser amado, é gentil quem atravessa a vida sem ferir, tratando cada pessoa como a um familiar, na mais perfeita acepção que originou a palavra Gentilis.
Tratar com cordialidade é ato de boa educação. A cortesia é ato ‘gentio’, externa e estrangeira à pessoa. Tratar com gentileza é uma conduta...é, gentileza é mesmo uma lindeza de palavra. Sei também que, em um mundo tão complicado, onde o ego(ismo) impera, o conceito acaba por encolher. É uma pena.
Mas confesso que tenho sorte, pois nesse maravilhoso Universo, sei que desperto muito desse sentimento nas pessoas que sopram sua brisa sobre a minha vida. E, por justeza de caráter, é de mim fazer o mesmo, em um tipo de reciprocidade natural e feliz...é, sou uma velha boba mesmo. E gosto. 
Aliás, isso recordou que, há um tempo atrás, li um livro intitulado "O poder da Gentileza". A titulação trouxe a reflexão de que, se nós somos os heróis e os vilões desse imenso mundo, que nos cobra o exercício do contrário para sermos justos e corretos com a vida e com o outro, ser gentil é ter UM SUPER PODER, conferido pela Bondade.

Que isso se multiplique sempre em nosso caminhar.

Viva a gentileza!


P.s: Publicado originalmente em 13.11.2018. 

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Notas do Eterno Retorno Existencial



 I - Da morte

 
O mesmo mundo que leva uma canção
Deixa reverberar o sangue na mão do carrasco
Às vezes, é difícil compreender o compasso
O tempo do espaço e as escolhas do Universo
 
E no espaço reverso um antigo ditado ecoa: ‘tudo coopera para o bem’...
 
Mas,
 
É impossível esquecer que na máxima do equilibrista
Estar bêbado é um jeito de sonegar a estúpida realidade
O estado das coisas, o teatro obtuso
É... já disse Pessoa:  ‘tudo é absurdo’.
 
Dentro da química interação de quem somos
A acidez coopera para a dissolução
A soma de negativos totaliza positivos
Mas nem isso nos torna potencialmente mais vivos...
 
II - Do espaço do ser
 
Então...o que me faz existir, de verdade?
 
O riso in blue  de uma pequena flor
Um café da tarde regado de amor
Desaguar para recarregar de afetos
Pois mesmo um carrinho de mão pode levar flores ou dejetos...
 
O que me faz amar, de verdade?
 
Admira a ação!
 
Gostar de que são os meus afetos
Aqueles onde descanso quando o mundo é cão
Pois é fato que bem explicou Gil,
 ‘ o amor da gente é como um grão...’
 
III - Do Retorno
 
O jeito mais potente de nunca esquecer de ser gente
O antídoto ao veneno da indiferença:
A lágrima colhida, o abraço quente e a alma latente
Que sempre escorre na palma da mão em toda crença...
 
Sentir. Sentir. Sentir!
 
Tornar-se frágil e forte sem embrutecer
Deixar liberto o coração – máquina de afetos –
Para tecer com o próprio sangue delicados elos
E só assim descobrir então a fonte da essência do  ‘eterno’...
 
E de experienciar aquilo que sou
E repousar na palavra  ‘inconclusão’
No parir do poema
Surge um novo coração!
 
- Renasço...
 
 
#
  
Nesse outubro eu morri, mas em novembro eu não morro, pois renasci de reler um amigo.
A literatura eterniza e une.
 
Luz!

sábado, 2 de novembro de 2024

Eu, que não acredito em Adeus




 Eu, 
Que não acredito em Adeus
Sigo, em par com os meus
Fincados de raiz no peito...

Eu, que raramente versifico perdas
Mas conheço de cor  a ritualística da dor 
Sei como é difícil sentir saudades
Esse silêncio tão preenchível pelo amor...

Que gosto de conversar com as nuvens 
Com o ar e os cheiros do Amazonas
Que penso que a presença é muito mais do que estar em carne viva
Mas sim, ter a latência ativa do ser e estar...

Eu,
Que não acredito em Adeus
Sigo em par com os meus
fincados de raiz no peito...

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