quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Mágica e métrica

 



Desde criança, olho o céu
Vejo na vida a beleza da magia
sempre soube que as nuvens não eram de algodão!
Mesmo assim, a cada dia,
 
Inspiro e sinto o gosto adocicado do céu
Do azul entremeado às pequenas alegrias...
 
Sou assim: realidade, clareza
Permeada da luz do lado bom
Sem esquecer a própria escuridão
Afinal, somos imperfeitas dualidades:

Cristais que exalam a luz que recebem
E acolhem (im)próprias tempestades...
 
Agradeço, não esqueço
De reverenciar a maré, a cor do sol quando vai
Pequenos elos de delicadeza
Entre nós, o criador e a tarde que cai...
 
Confesso:
 
Acho que há um pote de mel
Depois do arco-íris
Afinal, que graça teria?
Não pensar, sonhar e ver 

O leve colorido dos dias...
 
A vida sem a arte do belo
Seria apenas encontro com a brutalidade
- E desta deselegância do existir, 
é preciso bem se proteger –

Sem fazer disto a própria realidade:
  eis a mágica e a métrica de ‘ser’.

Ainda acredito em fadas,
Em bruxas, em duendes
Na força poderosa da palavra
No elo sagrado de ser gente...
 
Também não desacredito no avesso:
Paralelas...desencantos e desencontros
Mas, ainda mais, na reza do poeta
Que diz que a vida  ‘é a arte do encontro’.

#


Luz!!!

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Percepções



 
Eu queria ter a certeza do pássaro que voa
A leveza da borboleta
E a certeza da estrela que cai
Ou a beleza tépida da água que vai e passa

Do pássaro, que apenas voa, no bater das asas
ou do joão de barro quando faz sua casa...
Será que a perfeição sabe o que é ter medo?
Será que dói para todo mundo tatear o espaço? 

 Será que até Deus, de vez em quando
Não precisa de um abraço? 

Certo é que a luz é o que é em todo lugar
O sol não tem estação: é apenas solar!
A natureza sabe bem qual sua função
eis, por isso, toda perfeição

- Bem sabiamente dizia Francisco... -

Passeio pelo mundo e tento não me surpreender
Com a falta de lógica entre o humano, o precário
e a perfeição da estação,
Pois cada andorinha que voa 

sabe que ajuda a fazer o verão...

Teço aqui, no mundo, o meu ser - sendo
E sei, que apesar do longo caminho do que quero ver
Escolho, aos poucos, 
ao menos o que não quero ser...

 E que não importa quanto tempo temos
Para todo mundo, dói crescer
Pois estamos todos constantemente nascendo
no aprendizado de ser e estar na vida 

Um parto bem sentido 
Entre chegadas e partidas... !

sábado, 10 de outubro de 2020

Diálogos com o Universo




Eu queria ser apenas sol, como o canto de flor que mora dentro de mim.
Plácida e iluminada como o passarinho azul que me visita.
Eu queria ter todas as certezas na vida...
Mas então, será que eu SERIA
Ou a vida ME seria?
 
Sim, eu queria não ter um fantasma 
Fazendo peso em meu coração
Não ter medo do escuro, ou de ventania forte
Da solidão de ser gota logo após o corte
Mas então, como aprenderia
 
A beleza de ser meu próprio norte?
 
Eu queria ser simples, como essa gente que veio
Dentro de um lugar e a ele sabe pertencer
Queria apenas confiar, trabalhar e florescer
Longe, muito longe de tudo que me fez tão fraca
E devedora
 
Com a égide do pecado sem ser a pecadora...
 
Mas, então, será que descobriria
A beleza de amparar minhas sombras na luz de um outro coração?
E descobrir, que é de mais do que sangue
Que se faz um verdadeiro irmão...
 
Eu queria que houvesse um juiz, uma lei suprema
Alguma coisa que movesse o universo de forma tão funda e perfeita
Onde nada – nenhum mal – deixaria de ser regenerado
E mais do que vingança ou justiça – apenas retorno
 
E depois, sobre isso, sobreviesse
A lei da compaixão para todos os corações quebrados...
 
Então, olho para o céu.
 
Converso com ‘Ele’, que me faz entender
Que talvez existam coisas
Que eu nem preciso querer...
 
(O universo conspira e a vida faz acontecer)

 

#


sábado, 27 de junho de 2020

Sobre as bênçãos


Eu e Deus:
O universo respira em paz,
O vento sopra as novidades
eu, o espaço, os sons do chão e do céu...

Eu e Deus

e o fuxicar das flores,
 do jardim ao mundo afora
o farfalhar alegre das árvores 
Dizem em alto e bom som

' isso vai passar...'

A natureza sabiamente 
Não deixou de trabalhar
Para a beleza do todo
E isso é um afago, uma certeza 

-e um consolo!-

é também uma grande responsabilidade
enquanto a vida trabalha e faz sua arte
Para o grande milagre
é preciso cooperar...

E isso é forte. É suave e diário
Feito a asa de uma borboleta!
O efeito do 'eu' sobre o 'alheio'
tem a exatidão do nosso - redondo e cíclico- planeta

Eu e Deus
nos entendemos bem!

E ele fala, nas mais belas lições - feito Francisco
E assim, a vida é mais do que um risco:
é um rio, um abraço,
cachoeira de bênção que cai macia, sobre mim....

#


sábado, 20 de junho de 2020

Reconquista


Dessa vez,
Não tirei tua escova do lugar
Nem joguei teu cheiro fora,
Saí inteira:

nem mesmo bati a porta.

Dessa vez,
Não jurei, não te odiei
Nem ofereci canções de desamor
Não senti medo quando o céu desabou

- A chuva linda, cheia de raios e trovões
em sua fúria natural, parecia redenção...-

Dessa vez,
O dia permaneceu no lugar
Não briguei com as horas,
Nem mudei os móveis de lugar

Fiquei quieta, deixei a vida em seu próprio caminhar
se encaminhar...

Dessa vez,
Não usei os lenços da casa,
Nem revirei nos lençóis da cama
ou andei descabelada, de pijama....

Eu nem mesmo te avisei!

Em silêncio,
eu me reconquistei.


#

Depois de ver um episódio da segunda temporada de 'A coisa mais bonita', uma das melhores séries do país, produzidas na última década. Sobre ser mulher, ser gente e ser FORTE, sobre emancipação feminina, sobre reconquista, sobre o mundo, que deve girar em torno do primeiro amor...que é (em Cristo -na minha crença, e também...) o próprio.

O primeiro episódio da segunda temporada já diz a que veio, quando inicia com o  o poema do Vinicius , ' a mulher ideal', que  nas letras do  poeta  "tem que saber amar, saber sofrer pelo seu amor e ser só perdão'', e se desenvolve para levar à mensagem forte e maravilhosa de ''Vaca Profana'', do Caetano:


"Respeito muito minhas lágrimas
Ainda mais minha risada(...)
Vaca das divinas tetas
derrama o leite sobre a minha cara
e o leite mal na cara dos caretas..."

Que deixa aquele gosto maravilhoso na boca de: "Vai à merda com seu machismo"! 

Um amor amazonas



O mar é lindo
O mar dá medo
- Amar também -

Amar é uma 'onda'
Tem tudo a ver com o mar:
profundo, belo...um risco!
também, salgado...

No mar, há zonas.

E o Amazonas é um mistério
 feito de doçura e imensidão...

É, depois de um tempo
Amor de Amazonas é tudo que a gente precisa:
Aquela onda doce, aquele vento forte
A sensação de carícia enquanto a maré dança

A mística fantástica, a energia quântica
A coisa simples e cabocla, 
Ah...tudo que a gente precisa
é de amor... 

e de um tanto de Amazonas!

De forma tal que o peito se transborde,
multiplique e viaje sem medo,
Pois navega nessas águas como quem é parte
de um todo muito mais bonito 

de um segredo profundo e coletivo
Uma coisa doce e rouca
Como maré do Equador...

AH! e não seria seria exatamente isso
O que a gente diz - e quer-  do AMOR?


#
Eu estou há três meses sem ver o Rio Amazonas...em razão da pandemia, não vou à orla...esse é o maior tempo que fiquei longe do Amazonas, em 36 anos.
E dessa saudade nasceu o poema.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Às margens do rio


Trago as mãos ásperas
Do sal das lágrimas
Que já verti.

Sem ti, 
saudade virou poesia
Verbo que chega e fica
já não pede mais permissão...

 Remo a canoa da vida
De um jeito manso e macio
Guiada por teu olhar
Na outra margem do rio...

Mas, ainda é agosto, e as marés rasas 
não dizem como atravessar!
A tênue fronteira da vida
Não se enternece para o amor!

(Quem sabe, no cair do próximo luar...)

Roda a estação...
Roda, rosa-louca do tempo!
... e porque  me geraste de amor
Eu te envio flores com meu pensamento! #

"Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você..."

MUITO OBRIGADA. 



Conversa com meu Pai


Sorrio teu riso
Ouço tuas canções
Conto tuas piadas prontas,
Estou sempre pronta pra te reencontrar...

Visto o mesmo velho blusão verde 'cheguei'
Converso com o espelho que é tu
Ah! faço tanta coisa igual a ti
E até (ainda) reclamo do presidente Sarney...

Tenho esse gênio de lâmpada queimada
e os pés e telhados firmes 
(íntegra jornada)
E sempre envio flores pra tua caminhada...

Mas tenho tantas novidades!

Acho que tua menina cresceu, pai
Viste como a rua do (antigo) CCA está bonita?
é, o mundo permanece incrível
apesar dos pesares da lida...

Há tanta solidão
Nem Robinson Crusoé aguentaria
Mas sei que eu jamais ando sozinha
Pois sou rima da tua poesia...

Aqui, ainda é Capi ou Waldez
E tudo se reveza de um jeito estranho
A vida permanece o velho equilíbrio:
Suportar as perdas e sustentar os ganhos...

às vezes,  colho teu abraço
nas mangueiras da Coriolano Jucá
e por força do hábito
penso que te vi, por lá...

Fiz poucas e boas
Bati e apanhei um bocado
Sei que tu riste das brigas:
conheces meu bom  - e o pior dos lados.

Bom, pai...até breve
o poema acaba e preciso aceitar
Se cuida, meu pai, que o vento te leve!
e que Deus te abrigue, até te reencontrar.

#

*Republicado, porque é sempre o mesmo amor.

domingo, 31 de maio de 2020

Pequeno ensaio sobre o Poema



A palavra poema
Mora dentro da emoção
O corpo dança
a ciranda das palavras

Inerente como um passarinho bate as asas...

O poema vive de horizontes
De gente que vibra as cores e sente mais
Pois sabe que a vida -  longe de imagem/cenário-
é feita de coisas reais...

é uma pena quando o poema
sai para ser mero adereço de teatro
porque a rima carece mesmo é de ser sentida
longe de luzes artificiais, confete e espetáculo

Poema é sede, é dor, amor 
Magia, necessário ninho!
Como a garganta, após a lida,
precisa de um bom vinho

A rima precisa estar bêbada
Daquilo que se é: sonhos e gente quente
Que, mais do que letras
tem a bondade como semente

-O  poema é muito mais que lindo
Quando nele bate um coração 
porque o verso é mais que verbo,
é palavra bendita, oração - 



#

Porque nenhuma poesia se faz bela sem essência (nele ou nela).
Mas enfim, quem de nós pode dizer que é bom ou mau? 
...perspectivas.
Bom, mas o nosso compromisso é com a evolução para o que se entende por bem, seja lá toda a força e forma que contenha essa palavra. Sigo, como na poesia, no aprendizado de ser gente.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Poema-Esperança





Poema-Esperança (Até que a gente possa se reencontrar)

Que nasçam pequenos sóis dentro de você
Para que as flores possam florescer
Ainda que em tempos de pouca aquarela

E que a palavra esperança dance
No seu dia e cotidiano
Pois, mesmo em meio às mais profundas turbulências
Ainda é preciso sonhar.

E que seu maior lar
Seja seu corpo, seu templo
Guardado, dentro do possível
Para viver este maravilhoso mundo

Quando enfim, isso já for possível...

Que você seja generoso por dentro
Sabendo que longe da partilha não há união
E que tudo o mais é desnecessário
Lição acentuada por este novo dia a dia

- Onde estar vivo
É sempre a maior alegria.

Que fiques bem, com os seus...
Que eles estejam guardados pela graça e poder do amor
E que a vida seja generosa em te guardar
Para que depois, num abraço,

A gente possa se reencontrar.

#

Para meu pequeno relicário de afetos. LUZ!

terça-feira, 28 de abril de 2020

Ensaios sobre o encontro com o 'Eu'




Eu,

que sempre voei em mim
Que converso com planetas e madrugadas
E ganho vida pelas noites enluaradas
E rego plantas, enquanto sinto
Eu: organismo, bicho.

Ser vivo. Trancada. À pão. E à circo
Zoológico particular de algum alienígena entediado
E também acuada – pois aqui,
A carne viva está cativa,
 Nesse pequeno ensaio sobre amor e medo 

E não é nenhum segredo
Que chegaram tempos em que se cumprem as distopias
Livros de história deixam de ser distantes
Era nova, novos tempos: nova pandemia.

Como um recorte, uma mensagem
De que toda nossa vã tecnologia
Não nos afasta de ser carne
Bicho, organismo vivo
Força que emana efemeridade...

Eu, cativa.
Nós, plantas no aquário.
À espera de uma esperança
- Que se demora a vir do noticiário -

E nesse abecedário particular de dias (in)contados
Todo mundo (re)descobre mais claramente
Sua própria torpeza, beleza e poesia
Pois, longe do barulho que nos afasta do ‘interno’

Sobra apenas nós: 
 A mística do eu, o ‘estranho ao espelho’.

Eu,
Trancada.
Em meu reino:
hospício asséptico 
de álcool em gel , luvas
e água sanitária

#



terça-feira, 21 de abril de 2020

Se o mundo acabar amanhã


Se o mundo acabar amanhã
Tomara que eu tenha beijado tudo que poderia
E que toda a futura poesia
Saiba me perdoar, por partir

Tomara que haja um arco-íris no céu
e caia aquela chuva fina que deixa o cheiro da terra molhada invadir o espaço
e que cada beijo,elo ou laço
Esteja em seu melhor lugar...

Se o mundo acabar amanhã

Nesse hospício maluco de algum secreto Alienígena Alienista
Haja um show de Nando,
Um céu azul intenso
Ou um bonito sarau de poesia...

Sei lá, se o mundo acabar amanhã

Que o amor me perdoe por tudo que calei
E que reverencie as vezes que larguei o prumo e na chuva dancei
E todas as vezes que segui estrelas
Dia aceso ou plena madrugada

- Pois eu fui inteira, em cada passagem da estada...-

Eu sei, esse tão pouco tempo aqui
desde o big bang é quase nada
Mas, cá estamos, plenos de (in)significâncias
e é tão lindo viver...

Se o mundo acabar amanhã
Que possa esquecer tudo que foi lira não dita
Palavra riscada - poesia triste, esquecida
E que eu possa seguir para a próxima fase

Com um sorriso no lábio
E a certeza de que a vida se reinventa
Pois afinal, do caos secreto do espaço viemos
 somos arte do universo:

corpo em carne: poeira das estrelas!

(Mas, se o Mundo Acabar amanhã
Tomara que seja para renascer
Mais puro e mais pleno
Dentro de nós )



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