quinta-feira, 17 de junho de 2021




O que eu quero dizer está engatado:
Perdão, anjo
Hoje não te fiz um poema
Deposito meus aleatórios pensamentos...

Parece que não sei dizer o que me vem
Coloco essa vontade muda ao seu dispor
Espero que as mal traçadas linhas do silêncio
Possam nos compor...

- Mas sei, mesmos as sinfonias
Quebram a estática com o instrumental...-

É que tenho medo que as palavras
Tão inexatas
Não consigam te explicar ao certo
E a poesia que dança no peito

Faço do silêncio o meu melhor jeito.

É difícil ser tão demasiadamente humana
Sentir todas as ansiedades de parir uma emoção
e não depositar no outro essa sede
Esse desalinho, essa ausência de chão

Viver não dói, disse Cazuza
Mas é fato que move, incomoda
é preciso coragem
Pra não perder o verbo e a prosa.

E apesar de saber que eu quero dizer está engatado:

Perdão, anjo
Hoje não te fiz um poema.













terça-feira, 15 de junho de 2021

Sossego

 



Dentro do vento...sossego

No espaço de ser deixo estar

A vida não acontece toda de uma vez:

É preciso deixar ser o que virá

 

Dentro de mim, readequo

Ajusto um ou dois móveis de lugar

Arranjo espaço para um novo luar

E deixo um espaço arejado para o inevitável

 

Aquilo que inexoravelmente  ‘será’.

 

A chuva não cai só de uma vez...

O mundo já nasceu e acabou

Pelo menos em uma oportunidade

E nem isso findou a existência,

 

Em essência, o néctar se recria

No revoar das próximas andorinhas

O verão vindouro se anuncia

E chega, um dia de junho de cada...

 

E do vinho ao xerez

Tudo passou pelo processo de (re) criação

Mesmo o segundo parido

Veio de um inteiro giro:

 

Dentro do vento...sossego o coração.



#


Não...

 

 

 

Não me percas antes que eu te mostre

Como é lindo o pôr do sol

Em dia de maré cheia

Ou te conte uns segredos ao pé da calma

 

Alguma coisa que mexa com sua alma...

 

Não me percas antes que eu te leve pela mão

Para ver as cores dos espaço-tempo do dia

Que eu te conte, em meu abraço

Que és parte do que me traz alegria...

 

Não me percas  antes que eu confesse

Como sinto falta do teu cheiro no meu paladar

E como penso em ti quando é dia de lua crescente ou cheia

Não me perca antes de me encontrar.

 

Que somos efemeridade

E é tão raro...sentir

Sentir! Mesmo.

No gesto e gosto... um elo se formar

 

Ou me perca de uma vez

Que é p´ra eu me procurar...

 

#


Só uma pequena licença poética. Na vida real, nenhum bom encontro, faz a gente se perder de si. E isso que é lindo e faz bem...
E eu estou feliz, queridos desse blog...pois uma lua que dormiu por um (bom) tempo, reaprendeu a mexer nessa plataforma e agora está de volta para brincar com poesia, imagem e som...:)

Do primeiro ao último Poema

 


 Eu quero a última poesia
Como à primeira
Teu beijo que me veio
Em um dia de maio
 
Agora que Junho vem...
 e leva o inverno do equador
Quero as delicadezas de quem encontrou
Alguma coisa terna e macia
 
Ainda que sem procurar
 
Como uma nuvem que se fez
Para nascer o arco-íris
Na grata surpresa da reinvenção do sol
Após a chuva molhar...
 
Quero à moda antiga
E também à feira mais moderna
Manter a porta de casa
E as janelas da emoção abertas
 
Qualquer coisa, em qualquer dia
De um dia comum
Até onde a vida permitir
...Que seja bom!
 
E se a gente perder o tom ou virar a maré...
 
Que não seja uma rima triste
Mas sim, a curva de uma estrada bonita
As palavras e versos mais simples
E as mais singelas
 
Que não seja eterno
Pois já disse o poeta, é – bruta- chama
Mas que valha o risco e à pena
Do primeiro ao último poema.


#

De uma conversa muito legal sobre os nossos medos e as coisas que a gente guarda no coração...e também sobre nossos sonhos, que não deixam de ser o nosso dia a dia materializado nas possibilidades.

LUZ!

domingo, 6 de junho de 2021

Nem tudo pode ser Baunilha - é uma pena (Devaneios da velha boba)

 


Sim, podem me chamar de louca, queridos leitores desse espaço de poesia. Há dias atrás inaugurei o ano de 2021 nesse blog escrevendo sobre o quanto gosto de baunilha e enaltecendo as coisas doces e fluídas, tal como são.

 É, mas a semana correu e algumas coisas aconteceram e me fizeram pensar que...nem tudo pode ser baunilha (é uma pena). Mas não me execrem antes de ler esse pequeno devaneio nada pessimista, talvez um pouco realista, mas nada pessimista.

 Tenho pensado muito sobre a tristeza e para onde ela nos leva.  Procurei pelo significado da palavra tristeza no dicionário Oxford ( dá um Google e aparece), e a tristeza é definida como ‘estado afetivo ligado à falta de alegria, à melancolia’. E a melancolia é uma psicopatologia psiquiátrica, porque já é um adoecimento do sentimento.

 Bom, a melancolia como estágio de adoecimento é objeto de estudo há séculos. A depressão e outras doenças da psique também. A quem está no enfrentamento dessa batalha, meus mais sinceros desejos de que o sol bata novamente à janela do seu quarto...

 Quanto à tristeza, é um sentimento muito natural. É um pedaço das frustrações cotidianas que precisamos lidar para melhor desenvolvermos como nos relacionamos com o mundo. Também, assim como a dor, é um instrumento de dizer que não estamos em um lugar confortável e um meio de nos mover...

Mas é que a vivência na sociedade pós-moderna, acelerada e líquida, que não aceita pequenas pausas para ‘ser’, cobra que sejamos felizes como gente dentro de um comercial de margarina, perfeitos e plácidos, ‘confortalvelmente entorpecidos’,em nossas cascas de proteção.

No meio disso tudo, a tristeza é um mecanismo de autossocorro. Ao senti-la, a pessoa pede de si e dos seus ‘um pouco mais de calma’, ‘vida, pisa devagar’. E se movimenta para fora do ciclo pré-concebido pela modernidade.

Nesse ‘sentir’, há espaço para diálogo. Para falar sobre o que é a felicidade e o que procuramos. Há espaço para pausas. Para apreciar uma tarde e redescobrir com os próprios pés nossa tão própria e conceitual felicidade, que, tal como nós, é tão cheia de dialética.

E é nessas horas que o milagre do amor melhor se manifesta. Cuidar e ser cuidado é um processo lindo que envolve muito compromisso com o universo alheio.

Rubem Alves, aliás, já brincou com sabores e emoções no livro 'Pimentas', e nele fala muito de outros modos de sentir, entre elas, aqueles relativos às paixões, que provocam 'incêndios'. O termo paixão é sugestivo, pois, pode ser 'martírio' ou, como pós-modernamente compreendemos, relativos à emoção/relação sentimental. 

Eu me identifico muito com a expressão paixão. Em vários perfis, me descrevo como 'paixão morando na filosofia', como diria Belchior. Mas tenho tentado equilibrar todo esse 'sentir o mundo'. Seja como for, 'não pedirei desculpas pela minha intensidade'- disse o Carpinejar e sigo com o exato propósito, mas em busca da minha própria suavidade nesse caminho.

Bom, nem tudo pode mesmo ser baunilha (é uma pena). E...acho que a vida enfim, seja aprender a equilibrar sabores e descobrir aquilo que melhor se achega ao nosso próprio paladar e sentir.

E isso, enfim, talvez seja parte importante no processo de ser e partilhar...felicidade!