quinta-feira, 28 de julho de 2022

Das Levezas




 Declaro aberta a temporada do riso,
Do beijo e da calmaria sob o céu equatorial
Pois, desse tempo tropical, 
Desse doce real,

Temos sede...

Declaro aberta o tempo de se embalar na rede,
Sentir o vento amaciar os dias...felicidade simples,
Nada tão complexo que caiba dentro
Desse ser e estar.

Declaro aberta a temporada de ser-me lar
Caber em mim, cuidar da pele que me habita
Pois cada passo, cada sonho, cada luta
Merece o tempo de repouso e maturação

(E a isso tudo, o coração chama conquista)

É tempo de comunhão,
Nesse Universo sem-fim
Onde Deus está mesmo em todo lugar
Inclusive dentro de mim.

#


quarta-feira, 27 de julho de 2022

Movimento







Sem tanta pressa
Que não possa apreciar as borboletas amarelas 
Que trazem o verão
Sem tanto ócio

Que não mova os passos em busca da próxima estação...

A vida, todos sabem, já disse o Poeta
Pede coragem
As folhas caem, levam o ontem
Nascem novas flores sob antigas paisagens...

Afinal, somos assim: 
Pedaços que findam e reconstituem em novo néctar e raiz
Por isso é tão profunda e simbólica
A beleza de uma cicatriz

Se tudo em nós renova e refaz
Se somos o ontem que se desfez e refez
Uma cicatriz é a constituição física
Da ferida que doeu e não dói mais...

É a lembrança de que somos fortes
- Muito mais talvez do que possamos imaginar-
Porque a tudo que antecede a dor
Há uma certeza: 

O dom de sarar.

Enquanto isso
Alheias à humana condição
Borboletas amarelas dançam
Festival  Equatorial de Dourada beleza

Benção do Verão...

#

terça-feira, 26 de julho de 2022

Venha Santana! (Devaneios da Sessão Velha Boba)

 



Recordo como eram bonitos os quintais sem muros e as enormes árvores, entremeando caminhos que levavam a pequenos paraísos, na 'minha' velha Santana. Não à toa, o bairro ganhou o nome de Paraíso. Lá moravam "olhos d´água'', que hoje sei, são as chamadas  áreas de ressaca ou áreas de resfriamento da cidade.

Mas, a verdade é que nunca foram isso. Eram pequenos oásis, em meio ao nada. Não nasceram para “resfriar” a cidade, que visão mais antropocêntrica. Existiam antes da cidade! 

E cheios de felicidade, a molecada se divertia, às escondidas das mães, nesses espaços que a natureza doava. Jogavam uma água danada uns nos outros. Era moleque sujo para todo lado, na volta, para encontrar suas mães, ávidas pelo toque das sandálias. E elas “cantavam”.

Confesso que me aconteceu pouco. Coisas da vida. Mas ouvia a ladainha “entoar” pela vizinhança, junto aos gritos da primarada. Todos muito 'danados', como falamos de crianças que não dão sossego (risos).

Mas a gente era muito 'marginal', sem tablet ou videogame. À noitinha, antes da novela das nove, sagrada para todas as mães, tinha um “Onde eu mandar, vô. E se não for? Apanha um bolo”. E a criançada se divertia para trazer a primeira folha amarela da mangueira do vô, uma 'pedra branca' ou a lua e as estrelas, a depender da criatividade da “mãe”.
Brincávamos também de queimada. De pira-pega. Que pique-esconde. De pira-alta. As meninas, de elástico e amarelinha. 

Se alguém ficasse gripado, na minha família, tomava remédio de mel,copaíba e limão. Biotônico? coisa de rico. Tomávamos 'batidas' exóticas, feitas com ervas daqui. Um exemplo: Mastruz com leite moça, para 'lombriga'. Se tivéssemos febre demorada, éramos levados para aquelas velhas mágicas, as senhoras sábias da floresta,'benzedeiras' da cidade.

Mas, saudáveis, os dias eram cheios  de grandes excursões e éramos os navegadores em busca da descoberta do Brasil, pelos territórios sem limites de uma cidadezinha ainda por se descobrir, como cada um de nós. Recordo disso com grande felicidade. 

Na adolescência, mudamos para Macapá, nossa pequena "cidade grande". Mas confesso que, cada pequeno pedaço daquela história que ficou lá atrás, de uma cidadezinha de céu muito estrelado, ausência de muros e asfalto, onde as pessoas dormiam com as janelas teladas abertas para a noite e as suas madrugadas, ainda faz meu coração bater forte.

Qualquer pequena coisa que faça recordar aquelas ruas de terra batida e casas com quintais cheios de árvores frutíferas e mistérios profundos, onde crianças corriam em busca de incríveis descobertas,  fazem nascer em meus olhos igarapés de saudades...

E deixam uma certa tristeza no ar, por aqueles pequenos oásis, que desapareceram com o tempo, para dar espaço à gente, nossa gente, que foi acrescendo e ganhando novas pessoas, novas roupagens, dentro da velha cidade.

Há muitos anos não sou a menina da cidade de Santa Ana, que recebeu meu avô, tios e mãe com generosidade, vindos de outra grande navegação, em uma embarcação chamada VENCEDORA...como a preconizar destino de gente forte, que correu atrás de sorrir, de ganhar, vencer e devolver para a cidade o mesmo coração com que nos recebeu.

Sim, Santana não faz parte do meu cotidiano, mas é nela que meus pés tem raiz e que meu coração reconhece o cheiro de inocência, de descoberta e de lar. 

E é porque fui criança embevecida por aqueles céus estrelados, com menos boneca e muito contato com a natureza, que cresci e gostei de ler, conhecer essa imensa geografia que nem imagino de que tamanho seja, chamada UNIVERSO. E assim, desenvolver a escrita. 

Sei que foi de saudades de voltar lá, naquela cidadezinha e passear pelas margens dos igarapés que meus pés deixaram pra trás, naqueles quintais sem fronteiras!


Jaci Rocha







domingo, 17 de julho de 2022

Modernamente antigos


Nada que já não tenha sido lido
Nada que já não tenha sido escrito:

Desculpe, amor
todas as palavras do alfabeto já foram ditas,
Todas as cores, coloridas
Ainda assim, desajeitadamente, 

Quero este poema para ti.

Com todas as canções cantadas 
Entre Romeu e Julieta
As mesmas que amantes disseram em 1930
As coisas mais piegas e repetidas...

Sei, do amor não temos novidades
Conhecemos bem o antes, 
o estar e as despedidas
- Ah, quanta modernidade!-

Ainda assim, tudo é novo,
em meio ao caos da repetição

Pois, todos os amores 
podem ter sido nós e o encontro com o hoje
Então, é sempre agora: Carpe Diem!
E somos novos, novos em nós!

Modernamente antigos!

Sorri comigo, dança Beatles,
Sente o pulsar do meu coração
Baila no instante, não pare agora,
Segura mesmo na minha mão...

#



Vendo série, poesia...fluiu! - E eu estava com saudades desse espaço! :) 




terça-feira, 12 de outubro de 2021

Aquela máquina de Digitar Afetos



Aquela máquina de Digitar afetos

Nunca mais escreveu a palavra "Meu amor"

Por onde andas, 

Afinal?

 

Verbo que é  cheiro 

Quanta falta tu faz em meu jardim...

 

Nem sempre fui assim, tão dislexa à paixão

Já fui mais atenta ao meu próprio coração

Mas a vida é assim, 

Depois que passei a usar relógio

 

O tempo caçoa de mim:

- Faz com que tudo tenha exíguo começo, meio e fim -

 

É que o amor não cabe no curto espaço de 24 horas

isso aos poucos, creia, 

A tudo devora - 

E apavora


Mas... acalma, Coração 

- Quem sabe ainda temos 

Uma eternidade  a mais

Na próxima Oração -

 

Quem sabe a gente se tropece

Em meio ao burburinho de um café

Quem sabe aquele velho ditado (Clichê)

 Ainda esteja de pé

 

Ah! Incerta beleza de existir.

O verbo futuro é ingrato

Descumpridor nato

De quem achamos que seremos...

 

Faz tempo que não chove em Macapá

Mas o Equador vira água num súbito instante!

Quem sabe a vida seja assim: de se sentir o sabor

E agora, sob o intenso calor,

 

Me demoro a tentar compreender

O porque essa máquina  (de bater)

nunca mais digitou a palavra 

"Meu amor"...





segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Liberdade



Sonhar meus próprios horizontes

E toda sua imensa rima

Remar meu próprio verso

(Despreocupar do resto)]

 

O mais...ah! Deus ensina.

 

Desaprender teorias

E conformar a batida do meu coração

Desafiar meus limites

Amar o instante, 

 

Entender meu irmão.

 

Sei, não é fácil viver.

Mais difícil ainda é desistir

Melhor então...aceitar o virar da maré

E entender que o sabor do futuro é um talvez

 

Mesmo o vento não faz a curva de uma só vez...

 

Eu me encontro comigo 

E dou ao meu próprio tempo um novo sabor

Gosto mais da mulher ao espelho

Seus sabores e entremeios

 

Seus vícios e anseios.

 

E nesse multiverso de tantas descobertas

abraço tudo que me aquece,

Meus laços de amor mantenho fortes

Para não esquecer quem sou e fui

 

E assim, mais dona de mim


Dou meus mais que bem-vindo amanhã!

Construção do Amado instante!

E assim adeus, passado!

Por outro lado,

 

A tudo isso: Gratidão!


#

Que a gente sempre esteja perto de tudo que nos leva ao melhor em nós. 


LUZ!

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Consagração a Maria-mãe




Maria-mãe,

Põe sobre meus olhos teu manto
para que o cinza dos dias não machuquem minha fé
E o colorido dos dias sejam para glorificar
Consagro a ti cada cor e cada luz que adentra...

Põe sobre meus ouvidos teu manto
Para que os maus cantos não ofendam o meu espírito
E bons versos se alojem em cada canto
Consagro a ti o som que me rodeia...

Põe sobre meus lábios teu manto
Para que eu não profira o que não te agrade
E somente verbos e versos de paz sejam ditos
Consagro a ti o dom de clamar...

E assim, com tudo que posso sentir e alcançar,
Meus pés, mente e coração
Caminhem para te encontrar

Como a filha que senta em teu colo
E põe flores sob o teu altar.

#

Essa música é uma perfeita oração. E dela, surgiu meu próprio jeito de consagrar à Maria-Mãe o meu pensar, o meu falar e o meu agir. Que a gente possa sempre se espelhar no melhor. 

LUZ!


quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Padrão de Referência



Acho que ainda não aprendi minha melhor versão
No laudo técnico da polícia intergaláctica de infinitos
Frequentemente me chega uma intimação
Presto contas com o Universo

- Justo eu, tão ruim em matemática e verbos mudos-

Sempre compareço, ajusto pontos
Meus erros, acertos e ajustes...
É, não sou perfeita.
Ainda não tenho o manual de instrução

Que delícia ter erros para espelhar!
Ser gente real,
E ainda assim,
Ter amor para ser, partilhar, receber e estar.

Laços fixos que me dizem o poder desse imperioso Universo
Onde mais que ‘estátuas de perfeição’
Somos elos diversos, complexos.
Cheios de múltiplos aprendizados - vendas ou lupas de auto-observação


E, por outro lado...

Quem olha para o outro e aponta sua própria suposta virtude
Em detrimento do outro - humano  ‘o defeito’
Deixa de se propor ao devido ‘padrão de referência’
E, assim, apequena suas possibilidades
Desvia o olhar de ter contato com sua própria substância - divindade.

Essa ‘quebra’ de padrão gera resultados diversos
Laudos imperfeitos e resultados questionáveis
Impossíveis de analisar a interação  - ‘perfeita rima’
De um vício ou virtude – nossa humana matéria-prima.

Diz a poesia, a beleza, a arte:
Que nosso olhar vire sempre para o infinito
Esse misterioso lugar a alcançar (Algum dia, quiçá_)
E o que há de belo, místico, poderoso e bonito.


 

#

*Essa semana tive contato em meu trabalho com o conceito de ‘Padrão de Referência” e sua profunda interferência sob desde conceito na interação interdisciplinar Química/Direito. Isso me trouxe muitas reflexões. Fui explicada porque, partindo de um padrão equivocado, se pode chegar a más perícias, ou seja, maus resultados (Matemática, química e parâmetros puros que impactam diretamente sob a aplicação do direito). Curiosamente, foi uma semana intensa dessa nova perspectiva e essa palavra não tinha como passar em branco.

quinta-feira, 17 de junho de 2021




O que eu quero dizer está engatado:
Perdão, anjo
Hoje não te fiz um poema
Deposito meus aleatórios pensamentos...

Parece que não sei dizer o que me vem
Coloco essa vontade muda ao seu dispor
Espero que as mal traçadas linhas do silêncio
Possam nos compor...

- Mas sei, mesmos as sinfonias
Quebram a estática com o instrumental...-

É que tenho medo que as palavras
Tão inexatas
Não consigam te explicar ao certo
E a poesia que dança no peito

Faço do silêncio o meu melhor jeito.

É difícil ser tão demasiadamente humana
Sentir todas as ansiedades de parir uma emoção
e não depositar no outro essa sede
Esse desalinho, essa ausência de chão

Viver não dói, disse Cazuza
Mas é fato que move, incomoda
é preciso coragem
Pra não perder o verbo e a prosa.

E apesar de saber que eu quero dizer está engatado:

Perdão, anjo
Hoje não te fiz um poema.













terça-feira, 15 de junho de 2021

Sossego

 



Dentro do vento...sossego

No espaço de ser deixo estar

A vida não acontece toda de uma vez:

É preciso deixar ser o que virá

 

Dentro de mim, readequo

Ajusto um ou dois móveis de lugar

Arranjo espaço para um novo luar

E deixo um espaço arejado para o inevitável

 

Aquilo que inexoravelmente  ‘será’.

 

A chuva não cai só de uma vez...

O mundo já nasceu e acabou

Pelo menos em uma oportunidade

E nem isso findou a existência,

 

Em essência, o néctar se recria

No revoar das próximas andorinhas

O verão vindouro se anuncia

E chega, um dia de junho de cada...

 

E do vinho ao xerez

Tudo passou pelo processo de (re) criação

Mesmo o segundo parido

Veio de um inteiro giro:

 

Dentro do vento...sossego o coração.



#


Não...

 

 

 

Não me percas antes que eu te mostre

Como é lindo o pôr do sol

Em dia de maré cheia

Ou te conte uns segredos ao pé da calma

 

Alguma coisa que mexa com sua alma...

 

Não me percas antes que eu te leve pela mão

Para ver as cores dos espaço-tempo do dia

Que eu te conte, em meu abraço

Que és parte do que me traz alegria...

 

Não me percas  antes que eu confesse

Como sinto falta do teu cheiro no meu paladar

E como penso em ti quando é dia de lua crescente ou cheia

Não me perca antes de me encontrar.

 

Que somos efemeridade

E é tão raro...sentir

Sentir! Mesmo.

No gesto e gosto... um elo se formar

 

Ou me perca de uma vez

Que é p´ra eu me procurar...

 

#


Só uma pequena licença poética. Na vida real, nenhum bom encontro, faz a gente se perder de si. E isso que é lindo e faz bem...
E eu estou feliz, queridos desse blog...pois uma lua que dormiu por um (bom) tempo, reaprendeu a mexer nessa plataforma e agora está de volta para brincar com poesia, imagem e som...:)

Do primeiro ao último Poema

 


 Eu quero a última poesia
Como à primeira
Teu beijo que me veio
Em um dia de maio
 
Agora que Junho vem...
 e leva o inverno do equador
Quero as delicadezas de quem encontrou
Alguma coisa terna e macia
 
Ainda que sem procurar
 
Como uma nuvem que se fez
Para nascer o arco-íris
Na grata surpresa da reinvenção do sol
Após a chuva molhar...
 
Quero à moda antiga
E também à feira mais moderna
Manter a porta de casa
E as janelas da emoção abertas
 
Qualquer coisa, em qualquer dia
De um dia comum
Até onde a vida permitir
...Que seja bom!
 
E se a gente perder o tom ou virar a maré...
 
Que não seja uma rima triste
Mas sim, a curva de uma estrada bonita
As palavras e versos mais simples
E as mais singelas
 
Que não seja eterno
Pois já disse o poeta, é – bruta- chama
Mas que valha o risco e à pena
Do primeiro ao último poema.


#

De uma conversa muito legal sobre os nossos medos e as coisas que a gente guarda no coração...e também sobre nossos sonhos, que não deixam de ser o nosso dia a dia materializado nas possibilidades.

LUZ!

domingo, 6 de junho de 2021

Nem tudo pode ser Baunilha - é uma pena (Devaneios da velha boba)

 


Sim, podem me chamar de louca, queridos leitores desse espaço de poesia. Há dias atrás inaugurei o ano de 2021 nesse blog escrevendo sobre o quanto gosto de baunilha e enaltecendo as coisas doces e fluídas, tal como são.

 É, mas a semana correu e algumas coisas aconteceram e me fizeram pensar que...nem tudo pode ser baunilha (é uma pena). Mas não me execrem antes de ler esse pequeno devaneio nada pessimista, talvez um pouco realista, mas nada pessimista.

 Tenho pensado muito sobre a tristeza e para onde ela nos leva.  Procurei pelo significado da palavra tristeza no dicionário Oxford ( dá um Google e aparece), e a tristeza é definida como ‘estado afetivo ligado à falta de alegria, à melancolia’. E a melancolia é uma psicopatologia psiquiátrica, porque já é um adoecimento do sentimento.

 Bom, a melancolia como estágio de adoecimento é objeto de estudo há séculos. A depressão e outras doenças da psique também. A quem está no enfrentamento dessa batalha, meus mais sinceros desejos de que o sol bata novamente à janela do seu quarto...

 Quanto à tristeza, é um sentimento muito natural. É um pedaço das frustrações cotidianas que precisamos lidar para melhor desenvolvermos como nos relacionamos com o mundo. Também, assim como a dor, é um instrumento de dizer que não estamos em um lugar confortável e um meio de nos mover...

Mas é que a vivência na sociedade pós-moderna, acelerada e líquida, que não aceita pequenas pausas para ‘ser’, cobra que sejamos felizes como gente dentro de um comercial de margarina, perfeitos e plácidos, ‘confortalvelmente entorpecidos’,em nossas cascas de proteção.

No meio disso tudo, a tristeza é um mecanismo de autossocorro. Ao senti-la, a pessoa pede de si e dos seus ‘um pouco mais de calma’, ‘vida, pisa devagar’. E se movimenta para fora do ciclo pré-concebido pela modernidade.

Nesse ‘sentir’, há espaço para diálogo. Para falar sobre o que é a felicidade e o que procuramos. Há espaço para pausas. Para apreciar uma tarde e redescobrir com os próprios pés nossa tão própria e conceitual felicidade, que, tal como nós, é tão cheia de dialética.

E é nessas horas que o milagre do amor melhor se manifesta. Cuidar e ser cuidado é um processo lindo que envolve muito compromisso com o universo alheio.

Rubem Alves, aliás, já brincou com sabores e emoções no livro 'Pimentas', e nele fala muito de outros modos de sentir, entre elas, aqueles relativos às paixões, que provocam 'incêndios'. O termo paixão é sugestivo, pois, pode ser 'martírio' ou, como pós-modernamente compreendemos, relativos à emoção/relação sentimental. 

Eu me identifico muito com a expressão paixão. Em vários perfis, me descrevo como 'paixão morando na filosofia', como diria Belchior. Mas tenho tentado equilibrar todo esse 'sentir o mundo'. Seja como for, 'não pedirei desculpas pela minha intensidade'- disse o Carpinejar e sigo com o exato propósito, mas em busca da minha própria suavidade nesse caminho.

Bom, nem tudo pode mesmo ser baunilha (é uma pena). E...acho que a vida enfim, seja aprender a equilibrar sabores e descobrir aquilo que melhor se achega ao nosso próprio paladar e sentir.

E isso, enfim, talvez seja parte importante no processo de ser e partilhar...felicidade!

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Baunilha! (devaneios da velha boba)

 


Eu gosto de baunilha. Aquele sabor que é de flor. Tátil, suave para os olhos, adaptável ao paladar. É regado,  pode ser chá, perfume, buquê...

Também gosto de creme brulé. Aquele docinho de baunilha, com aquela crostinha de açúcar endurecido e já escrevi sobre isso...sobre como gosto de gente creme brulé (aquela capinha de gente mais durinha que se dissolve em doçura e baunilha logo após o toque das emoções).


Gosto de músicas baunilha...feito ‘partilhar’, que ouço enquanto escrevo esse devaneio, da AnaVitória e do Rubel. Embora a música seja bem baunilha, o sentimento descrito na canção parece o tipo de coisa maravilhosa e maluca,  que a gente faz logo no começo de alguma coisa intensa, aquelas coisas que têm açúcar e pimenta. Tipo chocolate com pimenta.

Por falar em sabores, eu adoro os dias doces. Aqueles dias que posso dar uma palavra boa, uma notícia boa a quem acredita no meu trabalho.Meu Deus, como isso é bom.

Ou que eu leio um poema a uma amiga, ou partilho a dor e a delícia de existir com meu ciclo de afetos...domingos preguiçosos, sem grandes eventos, aqueles que passamos jogados no sofá, vendo uma série bem bonitinha, tipo How I Met Your Mother ...

Rir com minha melhor amiga de bobagens do nosso cotidiano. Meu Deus, como adoro. Nossas pequenas viagens sobre e em nossos Universos, nossos poemas e escritas singulares, e como a gente busca o melhor e é parte do melhor uma da outra.

As lindas poesias com sabor de flor,  um buquê como aquela Paisagem Antiga da Alcinea...ou as pétalas derramadas da Maria Ester, com toda fé e ternura que  derramam nos meus dias.

Confesso que eu gosto até da cor baunilha. Acho linda, iluminada sem ser pálida. Aliás, as coisas iluminadas nos deixam tão...preenchidos, não é?

Mas isso tudo já foi muito  diferente. Eu achava os tons ‘pastéis’ amenos demais.

Batom só era bonito se fosse vermelho e as intensidades me pareciam o único meio de existir e alcançar o universo – seja o meu ou o do outro. Desconhecia eu de que é preciso muita intensidade, densidade e força para transformar contextos plurais em leveza.

Haja força para lidar com a gravidade e voar...isso nos ensinam os passarinhos.

Não se trata de lidar com o  vazio, mas de ser preenchido sem pesar no nosso próprio mundo e no do outro. Isso se assemelha muito à baunilha...flor que é sabor, sabor que se amolda, pode ser mais intensa ou suave, sem perder sua própria singularidade.

Como ando muito grata ao Universo por essas micro-descobertas, resta-me compartilhar contigo, que faz parte desse lugar de poesia. Tem sido cada vez mais bacana descobrir mesmos bons dias, vínculos mais honestos e essa proposta interna de não aceitar e não ser parte de nada que não seja confortável, bacana e genuíno.

Bom, esse devaneio maluco talvez só seja para dizer que eu adoro baunilha. Que meus dias mais felizes, meus amores e afetos mais intensos e constantes são aqueles que foram construídos nessa relação entre a doçura, a flor, a mobilidade e a capacidade de transformar existências em ternuras.

E tudo isso se 'insurgiu' com mais força depois de um episódio da série ‘poder feminino’, em que dois personagens conversam sobre modos de se relacionar  e fui acometida por todo meu desejo de partilhar dessas emoções, tão novas para mim, e tão bonitas de serem descobertas...

Taí. A Música ‘partilhar’ é mesmo perfeita a essa reflexão. Baunilha...relações baunilha...sabores doces, suaves e capazes de agregar a outros sabores... 

Realmente, nem sempre gostei do sabor. Já fui dos ‘venenos mais fortes’...mas, afinal, leva tempo para a gente gostar de simplicidade, é uma longa viagem, e já disse outro maravilhoso poeta ‘no fundo é simples ser feliz, difícil é ser tão simples...’

 


Mas a gente descobre essa beleza. Aos poucos.

Como a semente vira flor, e a flor de transforma de muitas formas para chegar a quem dela precisa...seja por sabor, aroma, beleza ou cor.

Sim, Bel.

Já é outra viagem...e eu estou animada com a estrada, ali em frente.

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