sábado, 15 de junho de 2019

Atrás da Porta...(Filosofia do Boteco da Lua)

*Leia a digressão ao som  da canção (ins)piradora ;)


"Atrás da Porta..."

Adoro essa expressão. Acho filosófica e profunda. Um olhar pode ser uma porta. Um sorriso. Uma palavra. Um quadro...uma fotografia...uma chegada. E até uma partida. Porta. Fenda que abre. Uma 'casa', uma alma, um olhar, uma pessoa. Sim, pode achar me chamar de d.Louca. 

A verdade é que  andava com saudades de filosofar nesse lugar só meu, livremente, sem muita preocupação com quem 'vai me ler'. Explico. De uns anos para cá, o aluanaodorme, que era só um diário poético emocional, ganhou 'tamanho' e ganhou você, que me lê e acompanha. Algumas épocas, como essa semana, tive mais de 750 acessos por dia...vez ou outra, acontece. Daí fiquei mais tímida para as filosofias doidas que escrevia...para não cansar seus olhos de leitor, que vem aqui buscar por poesia e leveza. Daí diminuí a sessão "Filosofia do boteco da Lua".

Bom...o fato é que, 'a insustentável leveza do ser', pelo menos do meu ser - com o perdão do empréstimo de Kundera, precisa às vezes escrever umas coisas doidas, e ai vai uma.

Nunca gostei de ver apenas a superfície. Sempre perguntei o porque das coisas: da luz, das sombras, de mim, de ti, das dualidades tantas que fazem com que cada ser humano seja um multiverso inexplicável, multicor e tão multidimensional. Sempre li tudo que podia para tentar explicar ou contentar com o fato de que era inexplicável...

Nunca sinto pouco. Sempre sinto tudo. Se é amor, eu vou toda coração. Mas meu avesso é bem avesso mesmo, que é para sustentar a força desse verbo...esse que o peito bate com tanta força. Hoje, eu coloco tudo , debaixo de um sorriso e essa suavidade parece enternecer as pessoas...é engraçado. Tem tanto calor aqui embaixo, que às vezes queima. Mas tudo bem, quem nunca queimou dentro de si, não é capaz de saber o que é ser...Fênix.

Curiosamente, sempre tive medo de tudo isso...dessa intensidade e dessa vontade de sentir. Da compaixão que às vezes não me deixa dormir,para sentir a dor do outro...desse gênio de lâmpada queimada, que tenta equilibrar toda a filosofia, musicalidade e poesia que esse mundo gigante e colorido me trouxe...
Belchior dizia "eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais..." - Isso tudo dito pelo músico que mais compôs diálogos intercalados com a poesia, filosofia e literatura de outros compositores brasileiros, o que mostra o quanto um poeta pode ser mesmo 'maluco'.

Eu gosto dessa loucura. Dessa intensidade. Eu sou isso. E isso me desloca...ou me coloca em uma órbita própria. Não que eu queira ou que ache legal. Isso tem seu preço e não é fácil arcar com ele. Mas, por sorte...tem mais gente maluca, que quer ver a vida longe da superficialidade e quer sentir, e quer esquecer toda essa modernidade líquida que dissolve pessoas...realidades...relacionamentos...por isso, sou muito amada, apesar do leve incômodo da solidão de sentir.

A solidão de sentir é uma coisa estranha. É uma porta para a existencialidade. É foda (com o perdão da palavra).Não tem a ver com estar acompanhada. Tem a ver com 'se' sentir e sentir o mundo de uma forma tão particular...que ninguém mais poderia compreender. É uma porta 'toda sua' com o mundo ou por onde o mundo entra em você. E isso é tocante e forte... nessas horas,  me faço companhia e me acalmo (coisas que aprendi com a 'idade).

" Mas eu preciso de outros sapatos, de outras roupas, outros temperos...para provar minhas ideias e meus sentimentos..."

Mas não queria ser uma pessoa diferente. Gosto de conversar sobre a vida, sobre as muitas possibilidades de tudo: Deus (como o conheço) existir, sobre o que acho que ele espera de mim...gosto de conversar sobre o Deus que morava em Pessoa e todos seus heterônimos, sobre a lírica em Lispector, em Cecília...e também na Maria Ester, Alcinea, Fernando Canto, gente que me diz como o meu mundo era, há algum tempo atrás...e que me auxilia a construir a minha territorialidade pessoal como um reflexo...

"é porque trago tudo de fora (...) trago a imagem de todas as ruas por onde passo...
Eu sou a soma de tudo que vejo e minha casa é um espelho...onde à noite eu me deito e sonho com as coisas mais loucas...sem saber porque!
"

Sempre  disseram que eu era 'meio bossa nova e rock and roll'  e que meu rock and roll era meio 'non sense'...acho que essa é uma boa forma de se referir a essa loucura toda aqui. O fato é que eu também sou uma porta. Como todos somos. Portas a Universos, múltiplas vivências, pesos e levezas, experiências, dores, amores, e é difícil pegar a nossa 'porta' e aconchegar em 'outra'....quando isso acontece, é sempre mágico. Mas nem tô falando de amor romântico, propriamente.

De tudo. De amizades, de universos...de estar 'em par' com uma pessoa para rir...para assistir filme...para brincar...

Não sei se é bem uma 'escolha'. O tempo passa e acredito cada vez mais em encaixe. Sabe a música ' a sua loucura parece um pouco com a minha'? Acho que é isso. E isso me recorda que, há uns anos atrás,uma amiga preferiu construir sua casa(concreto) a fazer terapia. E disse a ela que eu faria a escolha contrária, porque 'a minha casa, o meu lar...sou eu'.  Aqui, neste espacinho de ser eu, tenho aprendido a ser mesmo a rainha (longe de menosprezar outros reinados).

O fato é que, bom, atrás das portas...existem casas maiores,menores, amplas, dogmáticas, livres, etc.etc.etc...infinitas!  Mas eu não tenho tempo...não tenho vida e nem espaço...para nada que queira só a 'porta'. É que, mais do que porta,penso que pessoas são portais. Portais para todas as possibilidades de melhora, vida, crescimento que podemos ter. 

O futuro que construímos. Portal para a vida que virá e para os universos que transformamos com a nossa existência...afinal, você quer ser a lembrança doída ou a suave e bonita brisa na memória dos seus?

Bom, o fato é que eu ouvi essa música novamente um milhão de vezes...escrevi inconclusivamente, só para dizer, depois dessa digressão muito louca é...que eu ainda estou na descoberta da minha própria 'casa'. Do meu portal. E que "she´s mad but she´s magic. There´s no lie in her fire".

Então, quando olho nos arredores ''do meu reino', gosto do que 'tô' vendo nascer e que construo, tijolinho por tijolinho, moldando - e cercando - das melhores emoções. E que eu cuido daquilo que não gosto, e logo, que é para ver ficar bonito. Porque afinal, antes de mudar o mundo...a gente só pode - e deve - mesmo olhar a nossa própria edificação.

E é tão óbvio, mas ao mesmo tempo tão loucamente complexo e trabalhoso: todos os dias, o único portal que eu posso mesmo 'viajar'...é o (m)eu. Os demais são meus companheiros de viagem. 

E isso é louco. Mas também é  mágico. 
"Como tudo na vida'' - já dizia outro escritor.
 :)
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Boas portas, para você que me Lê! Bom reinado!  LUZ!
:)

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