quinta-feira, 31 de outubro de 2024

A Grande Charada

 

Deve ter havido algum engano, porque em algum lugar do planeta, dizem por aí que um ser elementar mudou de rota: saiu de um espaço existencial para outro, sem deixar de ser e estar.

Não, não falo de uma deidade.

Falo de um tipo diferente de criação: Um tipo muito humano mesmo de gente, que alegra a toda forma de Criador. Gente macia que, uma vez a cada trilhão de existência, a eternidade deixa vir para a matéria, por um tempo (in)finito, para partilhar conosco, os que por aqui ainda vagam.

Gente macia é tão difícil de encontrar...lá, do outro lado, eles são ‘os elementares’.

Não confundi-los com divindades, os elementares nunca poderiam parecê-las, pois são cobertos de uma humanidade latente, ambiguidades que perfazem o ser complexo e natural.

Aliás, tão naturais que foram criados da mistura particular não da água e do barro, mas de todos os elementos, daí serem ‘por lá’ conhecidos como elementares. Foram feitos compostos do ar, da água, do sal da terra, feitos pelas mãos da mistura de todos os tipos de Deuses, os ‘Supremos’.

Os elementares vem ao mundo para serem muito humanos! O tipo de matéria humana que os criadores realizaram  sorrindo...aqueles que a quem chama, em particular, de ‘amigo’.

Uma curiosidade: é com eles que os “Supremos’’ gostam de sentar para saber como é experienciar detalhes curiosos da experiência humana: as doçuras e lanhuras da paixão, as histórias de um Estado em Construção, as piadas sujas e limpinhas tecidas no meio fio de uma mesa de bar entremeada quase ao meio fio e até, pasme, as linhas edificantes e edificáveis das mesas dos meritíssimos e veneráveis.

Claro, os Supremos não são afeitos a estas ultimas coisas, construídas pela mente humana. Mas, os elementares, quando as compõe, fazem dessas uma experiência de partilha, humildade, conhecimento e entusiasmo, e o entusiasmo genuíno encanta qualquer tipo de consciência e onisciência. ...

Ah! Os elementares, por aqui chamados de ‘gente macia’.

Gente macia não gosta de palco, não faz alarde, não apresenta títulos: antes, contribui com o aprendizado, é discreto na fala e gigante no doar tímido que compõe toda partilha confortável. Gente macia, do tipo que a gente de sente confortável em enviar um poema, em deixar a pele da alma à ‘mostra’, sabendo que não receberá de volta nada dolorido...Gente macia nos faz rir de uma piada pronta ou criada naquele momento, mas sabe piada bacana? Aquela em que todo mundo ri?...ou que, quem não ri é meio abestado?

Gente dessa natureza - os elementares -  a gente vai contar no único dedo da mão às vezes, e mesmo assim precisa agradecer ao infinito pela graça do PRESENTE.

Presente que, de tão real, jamais ‘foi’, mesmo quando se ausenta - pois os elementares integram-se à matéria tocada: é impossível não tocar em um elementar e não cair de afetos e ser alterada por sua consubstancialidade com o Universo: Um elementar é parte do todo.

Dito isso, é impossível que se diga ‘foi’.

Eu preciso confessar a você, caro leitor: Eu conheço um elementar.

 E o  que eu conheço é feito de tudo aquilo que disse acima, e guarda suas peculiaridades: Foi feito de matéria amazônica, dos muitos sóis do equador. É composto das sombras do solstício, do cio e do ócio da linha que nos divide em metades, das borboletas e ipês amarelos que enfeitam a JK todo insano setembro e que dançam suas flores pela Universidade Federal do Amapá...

Por isso, digo e reafirmo: Deve ter havido algum engano, porque em algum lugar do planeta, dizem por aí que um ser elementar mudou de rota: saiu de um espaço existencial para outro, sem deixar de ser e estar.

Mas eu o vejo ainda hoje, pois em pleno Outubro, faz um sol macio e uma borboleta amarela dança, livre pela JK.

 

#

 

Saiu das linhas dessa crônica molhada de teimosa água:

Um grande abraço, Fernando.

O engano, tu sabes e eu sei, é certamente uma brincadeira, um conto surreal teu com essa grande charada, e os personagens somos todos nós. Que bom que eu sou aquela que, na tua escrita, sabe que, por seres elemento vivo da Amazônia, segues conosco. E tem muitos outros, tocados pela tua existência, que também sabem.

Eu vou sentir saudades, por um tempo...depois,vou amar te reencontrar.


(P.s: ''Deve ter havido algum engano'' é uma variação de uma das traduções de 'O Processo', de Kafka, que emprestei, pois parece muito surreal ou absurdo. Esse conto não está revisado, pois estou 'lua velha', empalidecida e empalidecendo e sem todas as letras que moram dentro da boca e da alma...) 






sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Impacto

  


O bater da asa da borboleta
O tufão do outro lado do Universo
A vida acontece concomitante
E interdependente...
 
As águas aquecem lá no Oceano
E aqui é a tempestade equatorial varreu telhados
O tempo da vida não está no relógio, é real
Acontece segundo a segundo...
 
A velocidade, a massa:
Cuidado com o ponto de impacto
Atenta para a existência,
Pois um corpo é matéria em latência
 
Nem sempre sutil é o encontro....
 
Por isso,
 
Cuidado ao tocar os pés no universo:
O progresso do regresso é uma perda de rotação
Na dúvida, senta e respira
Põe o coração em oração...
 
Não há como fugir ou acelerar: existir é inexorável
Naturalmente move, feito onda do mar
O tempo do perfeito é o natural...acalma
Sem tanta pressa em viver, pois por benção ou carma,
 
A existência inexoravelmente passa!
Todo mundo encontra com sua própria alma
Luz e sombras particulares entremeadas
E a gente não ultrapassa a velocidade do sol...

#

LUZ!

Breguíssimos!





Beijar o espelho 
Encher a tua cama
Dos meus fios vermelhos
Marcar tua boca no tom do meu batom

Te amar de um jeito brega e cafona
Sem medo do ridículo :
 Sem jogos, sem luta ou lona...
Inteiramente frágil e enternecida...

E se não fosse assim, que nem viesse
Porque ou entra na chuva e dança com a tempestade
Ou fica em casa, guardada do prazer e do frio
Ou tudo ou nada: calor e arrepio...

Folia fora do carnaval
Filminho clichê no meu tempo real
As coisas mais bobas, suspiros macios...
ah! são os melhores...

Andar pelas esquinas marcada da tua saliva
Um tipo de segredinho bem doce e guardado
Curtir a maré contigo ao meu lado
Num tempo em que o amor não arde...

Só assim cabe a vida. ...e só a vida vale a arte!

                                                                                #

*Essa música é uma das melhores canções de amor dos últimos 3 anos...

(P.s: Nada de referências.rs. Arte é arte e é sempre maior que o contexto)

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Das desimportâncias.


Não é por mim que florescem begônias na Av. Fab.
Nem foi porque pedi que o Amazonas subiu
Ontem choveu, bem na hora em que fazia uma oração
Tenho certeza que também não foi por mim...

- E, a despeito do poema maravilhado, 
Passaram tinta cinza na palavra 'saudade' do muro do antigo CCA...- 

Os correios deixaram de entregar mensagens de amor
Nunca recebi uma carta perfumada,
Não é minha esta noite enluarada no equador
E, a despeito de mim, faz um estrondoso calor...

Deslumbro com a dança as folhas secas entre outono e verão 
Com a marcha  de formigas que calmamente ensina o poder da união
E as borboletas amarelas e seu balé de quimeras
Anunciam que é primavera! é primavera...

Há um Rubem Alves novo na livraria
 recados deixados na estante de sua emoção
relicário, epitáfio de lições dispostas em capa colorida 
Pequenos pedaços de filosofia mansa e macia 
Ah! Meu velho amigo, tu nem sabes...

Mas, ainda hoje foi manchete no noticiário:
descobriram uma nova lua em um outro planeta
A milhas e milhas, anos-luz afora deste sistema solar,
A exótica harmonia existencial não pára de se desvendar!
- E  nada, nada disso é por mim.

É apenas a ordem natural do Universo...
Ainda assim, escrevo, contemplo, disperso!
Sinto cada pequena emoção e geografia
Pois, bem sei, diploma e sina de poeta
É beber o mundo na taça da poesia.


#

Escorreu do poema: 

(E de ressaca poética
carregar o peso e a leveza de seu próprio coração,
Desmanchar de amores  pelas cores da estação... )


#



*Para o  dia internacional do poeta - o diplomata entre a palavra e a contemplação, em 04.10.2018, republicado agora, porque a poesia ainda é parte do que me faz forte...e feliz.


                                                                             LUZ!


LUZ! 

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Encontro



 Meu universo toca o teu: é fato
Mãos que já foram continentes formam nós
Um repente,
Gesto que me leva até o teu olhar...

Meu corpo feito estrelas, no teu: constelação!
Não é poesia, meu bem, 
- É uma constatação -
Certeza que se firma com sua luz particular...

Meus olhos que já foram parte das águas
Quem sabe, do nosso Amazonas
Desaguam mansamente nos teus
Fluem calmamente, e ainda assim: é preamar...

De pré-amar fomos assim:
Convite ao cinema negado
Aquela ligação recusada...
O medo, as cascas, as marcas partilhadas...

De bem viver somos verdadeiramente:  o próprio big bang
De um tipo novo de mundo a ser descoberto!
- Magicamente programados 
Para acontecer no tempo certo -



#


Sobre o dia: Um 'amor de cartas claras sobre a mesa' é o que desejo a mim, e a ti, que me lê! LUZ!

<3

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Maktub

 



Escrevo um poema a cada sentimento,
Num eterno sente e psicografa a vida
Como quem corre atrás de vaga-lumes
Nas estradas escuras ou noites coloridas...

Penso em cada linha, passos, afetos!
Agrego verdades e perdoo mentiras
Desisti dos passos sempre entrelaçados e certos


Faço em pontilhados minhas próprias linhas.

Caminho, Sina:
Destino, arbítrio: 
embaralhadas teorias!
Enquanto escrevo, papéis de carta enfeitam a cor dos dias...

Faço perguntas tolas para o céu:
Não sei se sou quem deveria ou escolhi me ser
No meio aleatório de coincidências e possibilidades
creio num pai bondoso que decide nos dar o dom do movimento

De fazer acontecer.

Como um jogo de xadrez:
 a gente analisa as perdas e ganhos de cada movimento
Mas, por um segundo desatento, podem se perder grandes chances
É então que  Ele,  grande força  amável e tolerante

acerta o tempo e reescreve o instante.

É, o tempo é sempre bondoso, mesmo quando não deveria
E nos diz entre o certo e o errado
Verdades que nenhum de nós, antes do momento certo
Acreditaria.

Então, 
"Estava escrito" e "tinha que acontecer"
Mas a estrada é sempre nossa
E nosso é o dom de fazer valer.

#


" Maktub,Particípio passado do verbo Kitab.É a expressão característica do fatalismo muçulmano.Maktub significa: "estava escrito"; ou melhor, "tinha que acontecer".Essa expressiva palavra dita nos momentos de dor ou angústia,Não é um brado de revolta contra o destino,Mas sim, a reafirmação do espírito plenamente resignado diante dos desígnios da vida " (Oriente, na canção "Vida longa, mundo pequeno")



Bons caminhos, para mim e para ti, que me lê.

*Republicado, pois foi acessado e me reencontrei na escrita.

LUZ!

Por enquanto (Epifanias da Sessão "Velha Boba")



Por enquanto ainda teço poemas e observo o formato das nuvens
(E tomara que sempre ache tempo para regar o jardim)
Por enquanto sonho coisas que vejo nascer, depois de esforço regado
(E gosto disso)
Por enquanto, percebo delicadezas. Belezas que se transformam.
Realmente, gosto...
Por enquanto, tenho mais estrada pela frente do que pés cansados
E  me entusiasmo com as possibilidades da mesma forma que corro para fazer acontecer.
Mas também amo ficar de 'bubuia' quando chove (de longe, meu tempo favorito).
Por enquanto, ainda emociono com histórias de amor 
E acredito em livros antigos, antigas profecias...
Na mesma proporção em que, longe de apenas sonhar, aproveito os perfumes e cores do dia...
Por enquanto, ainda me falta ler mais. Conhecer mais,
Doar mais, amar mais, ampliar o Universo, crescer...
Debater política, religião, futebol, mpb, bossa, rock, blues e jazz...
Por enquanto, eu me entusiamo para a vida e transformo qualquer dor 
Em motivo para ser mais terna...

A verdade é que, o dia em que tudo isso deixar de fazer parte, não quero mais estar aqui.
É que, 'no meu tempo'...que é 'sempre agora', tudo não é, está...
Existir é mágico. Mas apenas quando notamos que nada acontece no ontem ou na eternidade.
Mas em um tempo chamado...' por enquanto...'

É que, por encanto,
a gente sempre se transforma.

#

Fazia tempo que não escrevia como a 'velha boba'. 
Estava com saudades de escrever por ela, que mora em mim. :)

*Republicado de 14.05.2019,  porque foi acessado e ecoa em mim com tanta verdade...é que, por enquanto, sigo tão entusiasmada quanto encantada com as borboletas amarelas da estação...


LUZ!