sábado, 25 de fevereiro de 2017

Querido problema, obrigada por me amar! (Devaneio semi-resenhado do Filme “Amor e outras Drogas”)


Ela era frágil, debaixo da casca de garota bem resolvida, bonita e cosmopolita. Ele era humorado, um tanto cretino e desapegado de vínculos. Ela tinha uma doença incurável. Parkinson.Ele um emprego promissor que dependia do investimento de tempo.
 E, juntos, eles tinham amor.
Mas, queridos, essa não é uma resenha descritiva. Tampouco contém com mais spoiler do que leriam em uma Sinopse de contracapa. Essa é uma viagem sentimental pelas nuances do filme “Amor e outras drogas” e pelas nossas próprias tantas subjetividades.


Ainda estou sob o efeito inebriante das  verdades e dos conflitos do filme "Amor e outras drogas". Primeiro, porque apesar de ser uma comédia romântica, levanta uma perspectiva filosófica implícita que fica debaixo de nossos olhos/emoções: O QUE VOCÊ AMA QUANDO DIZ QUE AMA? Você ama um corpo sensacional, capaz de te dar prazer¿ ama um endereço, um projeto, um perfume, uma característica, um potencial… O que você ama quando diz que ama?
É nesta perspectiva que este jovem casal, que se apaixona tendo por pano de fundo a tragédia de uma doença incurável, vem a desenvolver, em um enredo sensível, cheio das subjetividades e medos que todos sentimos:  Quando eu não for útil para você, você ainda vai me amar? Quando você não puder alcançar toda a dimensão da utilidade do que espero ou preciso, ainda irei te amar?

Se o  amor é uma procura, é também uma resposta e tudo o mais que quisermos que seja. E sabe se vestir de muitas formas. Rubem Alves, em “Retratos de Amor”, diz que amamos o retrato do outro, logo, amamos a projeção que fazemos na face amada, não propriamente o sujeito, objeto desta, por isso conclui : “antes de te conhecer, eu já te amava”.
Mas, e quando aquela alma teimosa rasga o tecido fino das projeções e se insinua em nossa vida, rotina, a ponto de produzir em nós inseguranças ou sentimentos indesejáveis, como decepção, tristeza, contrariedade?
 No mundo líquido de hoje, uso-me das lições de Bauman para concluir que, dentro de tantas infindas possibilidades, as pessoas utilizam-se da “alma alheia”, frequentemente, para receber dela apenas o melhor. E,depois, alimentadas daquele néctar suave, partem para novas procuras, esvaziadas do sentido maior que o estético ou utilitário.
 Mas, na contramão da modernidade utilitária, o filme - e nossas frágeis vidas e tentativas - deixa uma mensagem bem clara: AMAR é mais que isso. Amar requer um compromisso com o outro em suas singularidades, encantos e escuridões. Requer menos egoísmo e mais …doação.  Enfim…parece clichê , e talvez seja, e embora utópico, é absolutamente possível. Aliás, como vemos na fala emocionada de um dos personagens principais:  “Sabe aquele casal que existe em uma realidade paralela?Aquela você saudável e o eu perfeito, que planejam férias e apenas se preocupam com um ou outro dia de mau humor?…pois é, eu não queria ser esse casal”.

Então, esse foi o sentimento, ao final do filme: Querido problema, Obrigada por me amar! Por escolher os meus problemas para unirem-se aos teus.  <3 
Ah…no meio do caminho? Sim, a gente encontra quem não perceba ou não encontre com essa verdade generosa do amor…meu desejo, a você que me lê, caso isso lhe tenha acontecido, em uma amizade ou em um amor é…que o AMOR, aquela coisa mágica, que transcende utilidades, lhe segure pelas mãos, no caminho de volta para casa.

E que seja mais do que lindo...seja humano. Com toda a complexidade que representa.

LUZ!


*Republicado de  10.08.2016

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